quarta-feira, 6 de março de 2013

Adolescentes sofrem ameaças após denunciarem pastor que ungia genitália com "óleo de unção"

As duas adolescentes que prestaram queixa contra um pastor de 53 anos por abuso sexual durante um rito de libertação espiritual em Franca (SP) foram ameaçadas, alega o pai das vítimas, um sindicalista de 36 anos que prefere não ser identificado. Segundo ele, as filhas de 12 e 15 anos – que afirmam terem sido tocadas nos seios e na genitália enquanto o líder religioso aplicava um óleo de unção - deixaram de atender o celular, de frequentar a escola e de sair desacompanhadas por medo de agressões, desde que a denúncia contra José Elias da Cruz foi apresentada na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em 26 de fevereiro.

As ameaças foram enviadas por email e por notificações de perfis desconhecidos no Facebook, diz o sindicalista. “Recebemos emails de gente chamando minhas filhas de vagabundas. (...) Se alguém ligar para o celular eu mesmo que atendo. Também não estou deixando que mexam no Facebook. Cada vez que olham saem chorando”, disse.

Em razão disso, a rotina da família mudou. As cortinas e janelas do apartamento dela no bairro Estação permanecem fechadas e qualquer compromisso requer atenção redobrada. “Estamos com medo. Temos ficado mais em casa e não temos deixado as meninas saírem”, disse.

Os pais e as filhas também não pretendem retornar a participar dos cultos com medo da reação da comunidade evangélica que frequentavam no Jardim Redentor. “Diversas pessoas da igreja estão do lado do pastor e estão fazendo ameaças.”

As adolescentes ainda receiam que sejam hostilizadas na escola, por conta da repercussão do caso na cidade. “A minha filha de 12 anos foi para a escola hoje [segunda-feira] para vermos qual será a reação, já que há algumas pessoas de lá que sabem [da denúncia]. A minha filha de 15 anos não quer ir à escola. Dependendo do andamento das coisas terei que matriculá-la em outro lugar”, afirmou.

O sindicalista disse que não registrou boletim de ocorrência sobre as ameaças, mas fará isso caso sua família seja alvo de futuras represálias.

Relação de confiança

O sindicalista alega que o pastor denunciado por suas filhas tinha uma relação de confiança com sua família havia um ano. “Era de dentro da minha casa. Total confiança, igual a um pai.” Ele afirmou que, por conta disso, permitia que suas filhas frequentassem os cultos na igreja do Jardim Redentor, as reuniões de jovens que o pastor promovia após as cerimônias dominicais e as sessões individuais de cura espiritual. “Ele levava os jovens para fazer oração na casa dele e dizia que o quarto dele era um templo sagrado. Eles ficavam até de madrugada lá e eu confiava.”

O francano alega só ter tomado conhecimento do suposto abuso depois que a sua filha mais velha falou sobre o assunto. Até então, apenas a adolescente de 12 tinha sido submetida ao ritual.

Prisão preventiva

José Elias da Cruz, de 53 anos, está preso desde 28 de fevereiro por suspeita de abuso sexual a jovens frequentadoras de uma igreja evangélica do Jardim Redentor, em Franca. A prisão preventiva foi decretada a pedido da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), após denúncias de que o líder religioso se aproveitava de jovens enquanto realizava ritos espirituais em suas casas. Outras duas denunciantes, de 21 e 22 anos, também alegaram terem sido abusadas.

Depois de concluído, o inquérito policial será apresentado ao Ministério Público. O pastor, que vive em Franca, mas é de Itaú de Minas (MG), nega as acusações. Seu advogado de defesa, Brás Porfírio Siqueira, disse que espera a conclusão das investigações para requerer a liberdade provisória de Cruz.



Fonte: G1
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