As duas adolescentes que prestaram queixa contra um pastor de 53 anos por abuso sexual durante um rito de libertação espiritual em Franca (SP) foram ameaçadas, alega o pai das vítimas, um sindicalista de 36 anos que prefere não ser identificado. Segundo ele, as filhas de 12 e 15 anos – que afirmam terem sido tocadas nos seios e na genitália enquanto o líder religioso aplicava um óleo de unção - deixaram de atender o celular, de frequentar a escola e de sair desacompanhadas por medo de agressões, desde que a denúncia contra José Elias da Cruz foi apresentada na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em 26 de fevereiro.
As ameaças foram enviadas por email e por notificações de perfis desconhecidos no Facebook, diz o sindicalista. “Recebemos emails de gente chamando minhas filhas de vagabundas. (...) Se alguém ligar para o celular eu mesmo que atendo. Também não estou deixando que mexam no Facebook. Cada vez que olham saem chorando”, disse.
Em razão disso, a rotina da família mudou. As cortinas e janelas do apartamento dela no bairro Estação permanecem fechadas e qualquer compromisso requer atenção redobrada. “Estamos com medo. Temos ficado mais em casa e não temos deixado as meninas saírem”, disse.
Os pais e as filhas também não pretendem retornar a participar dos cultos com medo da reação da comunidade evangélica que frequentavam no Jardim Redentor. “Diversas pessoas da igreja estão do lado do pastor e estão fazendo ameaças.”
As adolescentes ainda receiam que sejam hostilizadas na escola, por conta da repercussão do caso na cidade. “A minha filha de 12 anos foi para a escola hoje [segunda-feira] para vermos qual será a reação, já que há algumas pessoas de lá que sabem [da denúncia]. A minha filha de 15 anos não quer ir à escola. Dependendo do andamento das coisas terei que matriculá-la em outro lugar”, afirmou.
O sindicalista disse que não registrou boletim de ocorrência sobre as ameaças, mas fará isso caso sua família seja alvo de futuras represálias.
Relação de confiança
O sindicalista alega que o pastor denunciado por suas filhas tinha uma relação de confiança com sua família havia um ano. “Era de dentro da minha casa. Total confiança, igual a um pai.” Ele afirmou que, por conta disso, permitia que suas filhas frequentassem os cultos na igreja do Jardim Redentor, as reuniões de jovens que o pastor promovia após as cerimônias dominicais e as sessões individuais de cura espiritual. “Ele levava os jovens para fazer oração na casa dele e dizia que o quarto dele era um templo sagrado. Eles ficavam até de madrugada lá e eu confiava.”
O francano alega só ter tomado conhecimento do suposto abuso depois que a sua filha mais velha falou sobre o assunto. Até então, apenas a adolescente de 12 tinha sido submetida ao ritual.
Prisão preventiva
José Elias da Cruz, de 53 anos, está preso desde 28 de fevereiro por suspeita de abuso sexual a jovens frequentadoras de uma igreja evangélica do Jardim Redentor, em Franca. A prisão preventiva foi decretada a pedido da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), após denúncias de que o líder religioso se aproveitava de jovens enquanto realizava ritos espirituais em suas casas. Outras duas denunciantes, de 21 e 22 anos, também alegaram terem sido abusadas.
Depois de concluído, o inquérito policial será apresentado ao Ministério Público. O pastor, que vive em Franca, mas é de Itaú de Minas (MG), nega as acusações. Seu advogado de defesa, Brás Porfírio Siqueira, disse que espera a conclusão das investigações para requerer a liberdade provisória de Cruz.
Fonte: G1
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