quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cartão de fiéis sob suspeita

Ministério Público investiga criação do ‘Solidariedade Católica’, em dezembro de 2006, pelo então arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid. Oferecido como iniciativa da Igreja, o cartão pertence a associação fundada pelo religioso

O Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar a criação do cartão de crédito ‘Solidariedade Católica’. Lançado em dezembro de 2006 pelo então arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid, é fruto de convênio entre a Associação de Solidariedade Justiça e Paz (ASJP) e o Bradesco. Como revelou o ‘Informe do DIA’, apesar de ser oferecido aos fiéis como uma iniciativa da Arquidiocese do Rio, a Associação nunca teve vínculo com a Igreja.

Fundada por Dom Eusébio e pelo padre Edvino Steckel, a associação foi fundada em junho de 2006. Afastado pelo atual arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, Edvino é também o secretário-geral vitalício da ASJP e foi responsável pela administração dos bens e recursos da Igreja no Rio.

Além de cobrar explicações sobre os anúncios do cartão de crédito, o promotor Julio Machado também quer saber se os responsáveis por ele estão cumprindo a promessa de destinar parte do dinheiro arrecadado com o pagamento das anuidades para obras sociais.

Segundo o promotor, os fiéis podem “estar sendo induzidos a erro a respeito da vinculação do cartão à Igreja Católica, aparentemente inexistente”. Anúncios do cartão de crédito chegaram a ser publicados nos roteiros das missas celebradas nas igrejas da arquidiocese. De acordo com Júlio, “cabe à Associação e ao Bradesco a comprovação do uso de parte das receitas do cartão em ações sociais”.

Após instaurar o inquérito, o promotor determinou o envio de ofícios com pedidos de informações ao Bradesco, à ASJP e à Arquidiocese do Rio. Ele também quer saber qual percentual do faturamento do cartão é enviado para ações sociais e os valores já destinados para instituições de caridade. O promotor também quer a identificação de todas as iniciativas beneficiadas.

Como O DIA mostrou ontem, auditoria realizada pela arquidiocese revelou que, nos 16 meses em que controlou as finanças da Igreja na capital, padre Edvino gastou R$ 14 milhões em despesas desnecessárias ou não justificadas.

A devassa nos gastos foi determinada, em maio, pelo arcebispo Dom Orani Tempesta, após o ‘Informe do DIA’ revelar a compra de um apartamento de luxo no Flamengo por R$ 2,2 milhões. O imóvel serviria como residência do antigo arcebispo. Dom Eusébio se mudou para o interior de São Paulo.

Gestão teve gastos exorbitantes

Foi na gestão de Dom Eusébio, que deixou a Arquidiocese em abril, que padre Edvino assumiu o comando do dinheiro da Igreja. Ele foi demitido do cargo de ecônomo no dia seguinte à publicação da notícia sobre a compra do apartamento na Av. Ruy Barbosa, no Flamengo, por R$ 2,2 milhões.

Padre Edvino determinou reformas na Arquidiocese que consumiram muito dinheiro. Como O DIA noticiou em maio, ele adquiriu móveis de luxo para sua sala — um sofá custou R$ 21.200 — e dois carros importados do modelo Jetta, de R$ 85.600 cada. Um era usado por ele; o outro, por D. Eusébio. O padre devolveu seu carro, mas o arcebispo ficou com o veículo.

Publicidade destacava ações sociais do Cartão Solidariedade

Nos anúncios veiculados nos roteiros das missas celebradas nas igrejas da Arquidiocese do Rio, o cartão era oferecido como um ato de caridade. Com a frase “Solidariedade levada a sério”, os responsáveis pela publicação disponibilizam um número de telefone gratuito para que fossem feitos os pedidos de emissão do polêmico cartão.

Substituído por Dom Orani Tempesta, o ex-cardeal arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid, se mudou para o interior de São Paulo após sua aposentadoria. Ele ocupou o cargo na Arquidiocese do município por oito anos.

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