sábado, 15 de outubro de 2011

Humanização do atendimento em UTI: 'cuidar do outro como você gostaria de ser cuidado'

O conceito de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando se concluiu que era mais seguro isolar pacientes em estado grave numa sala especial. Desde então, a UTI tem sido vista como um local de esperança, mas principalmente de angústia e sofrimento, tanto para pacientes quanto para familiares.

A partir de 1995, começou um movimento que se tornou conhecido como humanização do atendimento na UTI. Os envolvidos na interdisciplinaridade das UTI’s passaram a refletir profundamente sobre o assunto, procurando saber por que, apesar de todos os esforços, a imagem da UTI como local de isolamento e angústia não deixava de ser, parcialmente, uma realidade.

Como a atividade médica, que é uma profissão milenar e nasceu fundamentada no humanismo, poderia estar sendo vista por esse prisma? Por certo, a maioria dos que escolhem trabalhar numa UTI o fazem com os melhores sentimentos de solidariedade e compaixão.

Esse foi certamente um momento decisivo, pois levou todos os intensivistas a uma reação em forma de ações, estudos e reflexões para tornar essas unidades menos estressantes e impessoais e mais aconchegantes e voltadas para as necessidades individualizadas dos pacientes.

O principal objetivo da humanização é gerar satisfação ao cliente interno e externo, implementando o conceito cuidar do outro como você gostaria de ser cuidado`, criando um ambiente menos hostil - o que ajuda o paciente a diminuir o nível de estresse e, conseqüentemente, se recuperar mais rápido.

As normas não permitem que os familiares fiquem junto ao paciente e o distanciamento dos entes queridos acaba sendo um dos maiores problemas enfrentados pelos que estão internados na UTI. O conceito de humanização busca resgatar o valor da proximidade com o paciente, evitando que o alto desenvolvimento tecnológico na medicina coloque o relacionamento e o calor humano em segundo plano.

Hoje, na formação acadêmica, o médico toma conhecimento da necessidade de acolher os familiares, já que é comprovado que eles são parte importante no restabelecimento do paciente. Porém, nem todos os médicos têm essa visão. Conscientizar a equipe que trabalha na UTI para que humanize o seu trabalho é um passo importante.

A responsabilidade dos profissionais se estende para além das intervenções tecnológicas: inclui a avaliação das necessidades dos familiares, grau de satisfação desses sobre os cuidados realizados, além da preservação da integridade. A idéia não é que o médico se envolva emocionalmente, mas acolha a família, dando, por exemplo, as informações em uma linguagem acessível e não muito científica.

A família freqüentemente sente-se desamparada e temerosa à beira do leito de um paciente gravemente enfermo. Os tubos, curativos, fios e aparelhos, com os quais a equipe médica está tão acostumada, são amedrontadores para os membros da família. Eles vêem estes equipamentos fixados ao seu ente querido e podem relutar em tocar o paciente por medo de causar dano a ele ou ao equipamento.

Neste momento, a equipe de intensivistas tem a oportunidade de oferecer apoio. Explicando e descrevendo o equipamento e o aspecto do paciente à família, antes que ela chegue à beira do leito, a equipe pode prepará-la para esta difícil experiência. Durante a explicação, pode ser utilizado o toque para desenvolver um sentimento de confiança e apoio com a família.

Transformações como uma janela em cada leito da UTI e relógios nas paredes, para que o paciente possa se orientar, também são exemplos de alternativas simples e eficazes para a humanização das unidades de tratamento intensivo. A humanização renasce para valorizar as características do gênero humano. É imprescindível no processo de humanização uma equipe consciente dos desafios a serem enfrentados e dos limites a serem transpostos.


Fonte : Raquel Pusch em SaúdeSaúde
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