sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Universitário de Porto Alegre descobre crime satânico pela web

Um dos mais cruéis assassinatos nos últimos anos no Brasil foi elucidado graças a um estudante gaúcho que vive a 4,6 mil quilômetros do local do crime. O homicídio aconteceu em Belém (PA), em 21 de julho. Cíntia Oliveira, 16 anos, foi assassinada num cemitério por um grupo de jovens, que ainda bebeu parte do seu sangue.

O corpo da garota foi jogado dentro de uma cova no cemitério de Benguí, na capital paraense. O homicídio só foi elucidado porque os autores, em conversas via internet, divulgaram a história. Um dos interlocutores dos assassinos, o porto-alegrense Marcos Vinícius Fonseca Neto – que cursa História na PUCRS – acionou a Polícia Civil, o que provocou a prisão dos autores do crime. Eles confessaram ontem o homicídio, praticado durante um ritual satânico.

Marcos, 29 anos, conheceu os assassinos num jogo de RPG. Eles se apresentaram como integrantes de uma seita satânica, chamada Dark Angels. Foram meses de jogos e conversas. Desconfiado, ele pôs em dúvida o satanismo dos interlocutores. Via skype, entrou em contato com o suposto líder do bando, Ezequiel Abreu Calado, 18 anos. Para surpresa de Marcos, Ezequiel detalhou rituais e confessou o assassinato de Cíntia. Ainda mandou pela internet uma cópia de uma notícia de jornal, na qual aparece uma foto da jovem, morta, no cemitério.

– Gravei-o confessando o homicídio e mandei a cópia da gravação para o Disque-Denúncia da Polícia Civil gaúcha – relata Marcos.

Uma outra garota, também integrante da seita, igualmente confessou e detalhou o crime. As duas gravações feitas por Marco foram repassadas pelos policiais gaúchos a colegas do Pará. Foi em decorrência delas que a Justiça autorizou a prisão temporária dos envolvidos no crime. Foram presos Ezequiel, Nancy Danielly da Silva Amorim (ambos de 18 anos), e apreendidos outros dois adolescentes – um garoto de 15 anos e uma garota de 16 anos. Eles confessaram participação no assassinato. Nancy, em depoimento, admitiu ter atraído a vítima até o encontro com Ezequiel. Os presos confessaram serem adeptos do vampirismo e de rituais satânicos.

– A motivação praticamente está definida, é a magia negra. O surgimento de uma gravação feita por esse internauta do Rio Grande do Sul agilizou as investigações – declarou à Rede Globo o delegado Eduardo Rollo, responsável pelas investigações no Pará.

"Quem sabe não viro policial?"

Estudante de História, curioso nato, o universitário Marcos Vinícius Fonseca é daqueles entusiastas por internet que vivem conectados, com câmeras e gravadores sempre a postos. Já desejou ser policial e ainda sonha com a possibilidade de esclarecer crimes, como aconteceu agora nesse sangrento episódio no Pará.

Em casa, virou exemplo, orgulho da mãe e das irmãs. Aficionado em RPG, ele prefere se enxergar como um “detetive virtual”. Ao receber Zero Hora ontem em sua casa, na zona sul de Porto Alegre, o jovem relatou como chegou aos assassinos de Cíntia Oliveira, adolescente de quem ele nunca ouvira falar:

Zero Hora – Como você contatou os jovens que afirmam ter matado Cíntia?

Marcos Vinícius Fonseca Neto – Eu participo de comunidades de RPG, estou toda hora jogando. Eles entraram na comunidade Vampiros da Máscara do Brasil. Se intitulavam Dark Angels e afirmavam serem vampiros de verdade. No início, não levei a sério. Foram uns seis meses de jogo e papo. Trocamos endereços de MSN e Orkut. Eles sempre insistindo que eram um clã de vampiros.

ZH – Como você soube do crime no Pará?

Marcos – O rapaz identificado como Ezequiel disse, por MSN, que em breve eu iria ter uma prova de que eles eram vampiros de verdade. Em julho, ele me mandou pela internet cópia de uma reportagem do Diário do Pará, na qual tinha foto da guria assassinada, num ritual num cemitério. Confirmou que eles tinham matado ela. Eles disseram que conheciam a guria, que era evangélica e, apesar de andar com eles, não aceitava o vampirismo numa boa. Pirei. Resolvi ligar para o Ezequiel, que se intitulava Lord Blood (Senhor Sangue, em inglês). Usei o skype para gravar a conversa. Fiz o mesmo com a Nancy, a outra integrante da seita, que usava o pseudônimo de Lady Nancy. Fiquei espantado com o monte de barbaridades que eles disseram. Chegaram a descrever o gosto de sangue, detalharam como trucidaram a guria a socos, como a cortaram com lajotas. O pior é que gargalhavam depois de contar isso.

ZH – E o que você fez?

Marcos – Fiquei muito sensibilizado e decidi agir. Liguei para o Disque-Denúncia (181) e contei a história. Disseram que era grave e recomendaram que eu formalizasse por e-mail. Formalizei. Depois de gravar, mandei e-mail ao Pará, contando tudo. E enviei a gravação. Agora, fiquei sabendo que virou prova contra os caras. Muito bem. Sei como é difícil investigação na Amazônia. Minha mãe é nascida no Pará. Lá, o índice de solução de crimes é baixo, porque muita gente foge para a mata, depois de cometer delitos. É um Estado gigante.

ZH – Você não teme perseguições?

Marcos – Não. Confio na Justiça. Acho que eles vão ficar um tempão na cadeia. Prova não falta. Além do mais, quem sabe não viro policial?

Assista reportagem sobre o assunto feita pelo Jornal Hoje dia 18/08/10:



Fonte: Zero Hora
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