No começo do versículo 14, Paulo escreve: “Advertindo-os solenemente diante de Deus, para que não se envolvam em discussões acerca de palavras”; e agora ele escreve no versículo 23: “Evite as controvérsias tolas e inúteis”. Colocado nesse contexto, os “desejos malignos” no versículo 22, também traduzido como “luxúrias” e “paixões”, referem-se não somente, ou nem mesmo primariamente, a coisas tais como orgias sexuais e ambições materialistas, mas a uma propensão pecaminosa em tolerar falsas doutrinas, incluindo um desejo desordenado e investigá-las e argumentar sobre elas. O pecado é frequentemente legitmizado ao ser chamado de “apologética”, e vidas e ministérios inteiros de muitos cristãos giram ao redor disso. Eles estão mais familiarizados com os segredos de Satanás do que com os mistérios de Deus. Eles pensam que estão fazendo a obra de Deus, mas estão mantidos onde Satanás os quer. Se ele não pode fazer com que eles abandonem a verdade, então pelo menos ele pode levá-los a se tornarem obcecados pelo erro. Em casos extremos, o efeito é quase o mesmo.
Devemos confrontar as falsas doutrinas, mas não devemos ser tomados por elas e tornarmo-nos obcecados com elas. Satanás tem capturado a atenção de exércitos inteiros de cristãos professos atiçando os seus “desejos malignos”, de forma que eles confundem justiça própria e vanglória com a satisfação do genuíno serviço cristão e a pregação do evangelho. O efeito positivo que eles têm pela causa de Cristo é algumas vezes praticamente nulo. Mas cuidado! Se você lhes disser isso, eles se voltarão e realizarão alguma de suas “apologéticas” em você!
Timóteo é advertido contra isso, e alguns daqueles comentaristas que o chamam de tímido agora o chamam de contencioso. Se o apóstolo escreve sobre coragem, então isso deve significar que o leitor é um covarde. Se o apóstolo adverte contra controvérsias tolas, então isso deve significar que o leitor está enredado nelas. Visto que o apóstolo oferece tantas exortações positivas na carta, Timóteo deve ter sido uma pessoa terrível, indigna de viver. Já consideramos esse absurdo, mas estranhamente popular princípio de interpretação bíblica.
Algumas vezes uma discórdia é tola por ser ela uma questão de semântica. Frequentemente ouvimos que algo é “apenas uma questão de semântica”. Se a divergência gira em torno do uso de uma palavra – isto é, o som ou símbolo – à parte do significado, então isso é de fato “apenas uma questão de semântica”, e relativamente trivial. Muito provavelmente uma batalha intensa e prolongada sobre algo assim não é digna. Por outro lado, frequentemente quando as pessoas dizem que algo é apenas uma questão de semântica, o intuito é permanecer vago, evitar a confrontação, ou eles tão muito estúpidos para perceber uma distinção real no significado. Em tais casos, se é digno ou não insistir sobre algo depende da substância da divergência, e então somente nos sons e símbolos usados.
Algumas vezes uma divergência é tola não por ser uma questão de semântica, mas porque a substância da questão é trivial, estranha, improdutiva, e representa uma distração para a mensagem salvífica do evangelho. Debates intermináveis sobre uma questão é possível algumas vezes, e para algumas pessoas, desejável. Um embaixador do evangelho com um sendo de missão e que fale com autoridade abordará a situação diferentemente comparado com um ambicioso que está tentando fazer o seu nome gritando ameaças sobre tudo e todos. Visto que muitos cristãos abrigam um interesse doente em controvérsias, ele pode ganhar muitos seguidores se gritar alto e por muito tempo. Um bom ministro de Jesus Cristo sabe que não deve se engajar em batalhes prolongadas sobre questões triviais ou já resolvidas com pessoas incompetentes e sem importância.
Assim como há um tempo para “sacudir o pós dos seus pés” e continuar, chega um momento quando você abandonará uma controvérsia, e deixará seu oponente irado e insatisfeito, e seguirá adiante. Cuidado com as artimanhas de Satanás. Não deixe que falsos mestres controlem o programa do seu ministério. Se eles puderem mantê-lo num debate limitado e tolo, eles o farão. Eles gostam disso. Isso é o que eles fazem. Eles não realizam nenhum ministério real. Eles foram levados cativos pelo diabo, e estão gastando suas vidas em conflitos improdutivos, e agora estão tentando te afundar com eles. Não deixe que isso aconteça. Isso é muito diferente do conselho para cessar todos os debates e “apenas pregar o evangelho”. Não, a pregação do evangelho envolverá conflitos e debates. Você deve tomar uma atitude e declarar suas razões, e fornecer refutações básicas às objeções e às falsas doutrinas. Mas você deve evitar ser sugado por controvérsias a ponto de ter pouco tempo para fazer qualquer outra coisa. Isso é uma armadilha do diabo.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto em Monergismo
Fonte: Vincent Cheung em Reflections on Second Timothy
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