Com pastor Everaldo drenando apoio protestante, partidos sabem que terão mais trabalho para conquistar esse segmento
Com boa parte das principais lideranças evangélicas comprometida com a candidatura do pastor Everaldo (PSC), presidenciáveis buscam aumentar sua influência sobre possíveis dissidências. Segundo o IBGE, em 30 anos, o percentual de evangélicos passou de 6,6% da população brasileira, em 1980, para 22,2% em 2010. Foi o segmento religioso que mais cresceu entre 2000 e 2010, chegando aos atuais 42.275.440 brasileiros que se declaram evangélicos. Por isso mesmo, a influência dos protestantes cresce a cada eleição. PT e PSB admitem que buscarão atuar em setores evangélicos em busca de sua fatia. Já o PSDB saúda todos os apoios religiosos, mas diz não ter estratégia específica para atraí-los.
Nesta quinta-feira (31), a presidente Dilma Rousseff participará da inauguração do chamado Templo de Salomão, principal obra da Igreja Universal do Reino de Deus, que, segundo o Censo 2010, tem 1.873.243 fiéis no Brasil. Apesar de muito longe de ser a maior igreja evangélica, o poder da Universal, dona de uma rede de TV, deve ser relativizado em função de sua penetração midiática. A Universal é uma das poucas igrejas evangélicas que não apoiarão formalmente Everaldo. A igreja tem apoiado o PT, num fechamento que data do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A disputa pelas demais não será fácil para os outros presidenciáveis.
Eduardo Campos e Marina Silva inauguram casa Campos-Marina em Osasco. Local será comitê eleitoral da campanha da dupla
Embora insista que há espaço para uma aproximação com todos os setores evangélicos, o coordenador da campanha de Dilma, o deputado estadual paulista Rui Falcão, que é o presidente nacional do PT, reconhece que o cenário é diferente do de anos anteriores. “De fato um candidato evangélico é uma novidade. Se temos um candidato evangélico na disputa, é natural que tenhamos muito menos votos evangélicos no mercado, mas vamos procurar manter o diálogo com todas as igrejas e setores religiosos”, disse Falcão.
O coordenador-geral da campanha do socialista Eduardo Campos, Carlos Siqueira, argumenta que os apoios evangélicos não estão definidos. “Uma coisa é o que acorda o pastor, outra coisa é o rebanho. Nenhum rebanho é cego”, declarou o coordenador socialista. “A comunidade evangélica é muito plural. Todos as candidaturas terão suas fatias”, disse, revelando que o comitê socialista tem planos para estreitar relações com os evangélicos. “Temos um trabalho sendo feito com vários setores evangélicos”, afirmou Siqueira, que fez uma lembrança nada desprezível. “Nossa candidata à vice (Marina Silva) é evangélica.”
Já o PSDB opta por enquanto por outra linha. Segundo o coordenador da campanha de Aécio Neves e presidente nacional do DEM, o senador potiguar José Agripino, o comitê tucano não tem uma estratégia específica para o segmento religioso. “Não há um direcionamento para esses segmentos. A campanha será em cima de temas e propostas. O apoio de todas as igrejas é bem-vindo, mas não pretendemos estabelecer uma estratégia específica para ter o apoio de uma igreja específica. Não existe essa estratégia”, disse Agripino.
Apoios
Somente neste mês, Everaldo recebeu sinalização em favor de sua candidatura de diversas lideranças da Igreja Presbiteriana, que, segundo o Censo 2010, tem 921.209 fiéis em todo o Brasil. Também tem o apoio do Ministério Madureira da Assembleia de Deus e espera receber nos próximos dias o reforço do Ministério Belém da mesma igreja, consolidando assim sua força junto ao maior segmento evangélico do País, que tem 12.314.410 de fiéis no Brasil. O próprio Everaldo é ligado à Assembleia de Deus.
Everaldo tem também o apoio da Igreja Sara Nossa Terra e, segundo deputados da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, caminha a passos largos para fechar outros apoios de peso no espectro evangélico, como, por exemplo, com o Ministério Internacional da Restauração (Igreja conhecida pela sigla M12), do pastor Renê Terra Nova, igreja que surgiu a partir de um desmembramento da Igreja Batista. Everaldo flerta também com os batistas, segmento que reúne 3.723.853 fiéis. Além disso, o candidato do PSC já recebeu o apoio de Mário de Oliveira, líder da Igreja do Evangelho Quadrangular, que tem 1.808.389 de seguidores.
Entre a bancada evangélica, a animação é em função da possibilidade de realização de um grande pacto das igrejas protestantes em torno da candidatura de Everaldo, que poderia garantir ao candidato do PSC algo em torno dos 10% dos votos em outubro, no primeiro turno da eleição presidencial. Com esse percentual, esperam aumentar o poder de barganha quando da negociação do apoio para o segundo turno, tese explicitamente defendida pelo pastor Silas Malafaia em vídeo divulgado na internet em que pede votos para Everaldo.
Apesar de todo esse cenário de apoios diversos conquistados por Everaldo junto a setores evangélicos, o candidato do PSC demonstra em suas falas a preocupação que tem de acabar estigmatizado como candidato religioso. “Sou candidato do Partido Social Cristão, de todos os brasileiros. E sou um evangélico, então muitos evangélicos também têm se posicionado ao meu lado porque veem que a nossa candidatura é a única que representa a verdadeira mudança que o País está precisando”, disse. “Em 1989, todos os sindicatos estavam com o Lula. Ele era o sindicalista. Tinha essa identidade. Eu tenho essa identidade também e isso facilita o diálogo, mas sou um candidato do PSC para governar para todos os brasileiros”, compara Everaldo.
O candidato do PSC ainda mira duas importantes igrejas evangélicas com presença marcante na mídia. Ele deve encontrar nos próximos dias Valdomiro Santiago, líder de Igreja Mundial do Poder de Deus. “Estou conciliando agenda para ter um encontro com ele (Valdomiro)”, disse Everaldo. Outro no radar dele é Romildo Ribeiro Soares, conhecido como RR Soares, líder Igreja Internacional Da Graça De Deus. Ambas nasceram de dissidências da Igreja Universal do Reino de Deus. “RR é meu amigo pessoal também”, resumiu Everaldo.
O próprio Everaldo relativiza os apoios recebidos, sinalizando que não espera simples aritmética no resultado das urnas. “A instituição Igreja não dá apoio, quem dá apoio é o cidadão”, pondera.
Fonte:Último Segundo
-------------------