
Em março, milhares de católicos fervorosos partiram em romaria até o subúrbio de Mumbai para beber a água que saía dos pés de um Cristo crucificado, convencidos de que se tratava de um líquido milagroso e purificador.
Após examinar o vazamento, o presidente da Associação Racionalista Indiana afirmou que o mesmo representava um risco à saúde de quem bebesse a água, o que provocou a ira de grupos religiosos. Uma denúncia que o acusa de "propagar o veneno anticatólico" foi apresentada em Mumbai, o que poderia lhe custar três anos de prisão por blasfêmia.
"Não tentem fazer a Índia voltar ao obscurantismo", alertou Sanal Edamaruku, 56, em um debate na TV. Um de seus detratores é Joseph Dias, secretário-geral do fórum secular católico-cristão. Em um comunicado enviado à AFP, Dias nega que o vazamento de água tenha sido apresentado como um milagre, mas refuta a teoria de Edamaruku.
Oficialmente, a Índia é um país laico, mas a blasfêmia continua sendo crime no imenso país de maioria hindu, composto por importantes minorias étnicas e religiosas (budistas, cristãos e muçulmanos).
Evocando o direito à liberdade de expressão, os advogados de Sanal Edamaruku pretendem recorrer ao Supremo Tribunal, para que o mesmo se pronuncie sobre esta disposição do Código Penal, que data da época colonial.
Edamaruku compara a reação dos católicos indianos a dos fundamentalistas islâmicos, que condenaram à morte o escritor Salman Rushdie após a publicação de "Versos Satânicos", em 1988.
Rushdie, cujo livro é proibido na Índia por insultar o islã, denunciou recentemente, em Nova Délhi, o "fanatismo religioso" que, em janeiro, impediu que ele participasse da maior feira do livro indiana, em Jaipur.
"Sempre disse que há duas Índias: a do século XXI, que é progressista, moderna e científica, e a do século XVII, que nos faz retornar a épocas obscuras de intolerância, hipocrisia e superstição", criticou Edamaruku.
Ele conhece bem a polêmica. Sua associação, que contabiliza mais de 100 mil membros em um país de 1,2 bilhão de habitantes, foi criada em 1949 para promover o debate científico em todos os âmbitos da vida.
Há 30 anos, gurus autoproclamados surgem na Índia, acumulando uma fortuna graças a seus fiéis. Edamaruku atacou em particular o célebre Sai Baba, que milhões de indianos consideravam um deus, dotado de poderes sobrenaturais. Quando ele morreu, foram encontrados em sua casa quase 100kg de ouro e 2 milhões de dólares em dinheiro.
Fonte: AFP
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