No mar de camisetas pretas, tatuagens, coturnos, e demais acessórios do "estereótipo metaleiro", ele destoava da multidão. "Toma a palavra de Deus para dar uma meditada", dizia, enquanto entregava um panfleto com o logo do Rock in Rio 2013 e os dizeres: "Jesus Cristo, a melodia do meu coração". O pastor José Roberto Martins Barbosa, a exemplo do que já tinha feito em 2011, foi de Maceió diretamente para o Rio de Janeiro com uma missão: contra o chamado "rock do diabo", ele pratica uma espécie de catequese entre os fãs.
"Viemos exclusivamente para isso, sou eu e mais dois missionários, alugamos um apartamento aqui perto, e estamos nessa missão", explicou Barbosa, que chegou ontem à noite para trabalhar nos próximos quatro dias de encerramento do Rock in Rio. Não ironicamente, desse período, dois dias serão dedicados aos fãs de heavy metal, as principais atrações são Metallica, Alice in Chains e Sepultura.
No domingo, vez, por exemplo, do Iron Maiden tocar no festival, cujas tetras obscuras, na base do "The Number of The Beast" (o número da besta, 666), evocam a velha máxima do "rock do diabo". "A receptividade é boa, o índice de rejeição é de apenas 20%", garantiu o pastor, entregando os panfletos aos fãs que chegavam à Cidade do Rock.
"Toma a palavra de Deus para dar uma meditada", dizia, enquanto entregava um panfleto com os dizeres: "Jesus Cristo, a melodia do meu coração"
"Fizemos 30 mil panfletos", disse. Bem produzido, e com papel de boa qualidade, o "guia de catequese para os metaleiros" inclui trechos da Bíblia chamando a atenção para o "homem pecador, e todos que pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Membro da evangélica Assembleia de Deus, Barbosa diz que o seu principal intuito é deixar claro para os fãs que "ele, Jesus Cristo, preenche o vazio dos homens".
"Na Bíblia, em Marcos, capítulo 26, há um trecho que diz que 'ide seu Jesus e pregai o evangelho a qualquer criatura". No caso, obviamente, os metaleiros. "Na minha igreja tem todos os instrumentos: bateria, guitarra, tem tudo. O problema está nas letras, que não podem ser direcionadas para algo negativo. A letra da música não pode falar do diabo, da escuridão, incitar as drogas ou a violência", completou ainda o pastor.
"É um direito dele, né, não estou aqui para ser catequizado, de qualquer forma, vim para ver o Metallica. Ponto", riu o estudante mineiro Joacir Santos, que pegou o panfleto, mas disse: "vou pensar se vou dar uma lida nisso aqui". "Esse senhor é maluco, mas deu dó, e peguei um também", disse a gaúcha Rafaela Martins, com sua camisa do Alice in Chains, anéis, tatuagens, o alvo perfeito para o pastor alagoano.
Fonte: Terra
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