Um terremoto de magnitude 6,3 atingiu Christchurch, na Nova Zelândia, em 2011, matou mais de 200 pessoas e danificou milhares de construções, incluindo a igreja mais antiga da cidade, uma grande cópia de pedra de uma catedral gótica de Oxford. Nesta semana, dois anos após o desastre, sua substituta foi aberta para o público. E ela é diferente de qualquer outra coisa feita em Christchurch – ou no mundo.
Após o desastre, representantes de Christchurch convidaram o arquiteto japonês Shigeru Ban para encontrar uma solução temporária para a ausência de uma catedral na cidade. Ban é especialista em estruturas de papel feitas com tubos de papelão ocos, mas fortes. Ele construiu dúzias de prédios tradicionais usando esta técnica, e ainda mais prédios temporários em zonas afetadas por desastres. Nas últimas três décadas, ele frequentemente adiou projetos de longo prazo para ajudar em lugares de emergência ao redor do mundo, que vão de abrigos no Japão a lares de papelão duráveis no Haiti.
Diferentemente desses outros projetos, no entanto, os representantes de Christchurch queriam algo que durasse mais: uma construção para cinco décadas, o tempo necessário para eles construírem uma nova catedral de pedra. Ela precisava ser grande e confortável o suficiente para uma audiência de 700 pessoas por semana, mas barata e leve o bastante para ser demolida quando chegar a hora certa. Precisaria ser uma meia-construção, um híbrido de design temporário com funcionalidade semi-permanente.
Ontem, após dois anos de design e construção, a igreja de Ban foi aberta ao público. O telhado é uma armação feita de 98 colunas enormes de papelão, posicionadas em cima de uma base de contêineres que fornecem estabilidade. A decoração principal tem janelas triangulares coloridas, cada uma revestida de pedaços de vitrais da catedral original. Os tubos são revestidos de poliuretano e retardantes de incêndio para manter mofo e chamas afastados, e foram projetados para durar até além de 2063, a data prevista para a finalização da nova catedral permanente.
Mas há um problema interessante tanto para a igreja como para o arquiteto, algo que coloca a nova construção em uma espécie de purgatório. Como já era esperado, alguns membros da congregação não estão muito animados com a estrutura incomum (“é muito temporária”, disse uma pessoa a um jornal da Nova Zelândia), e, ao mesmo tempo, os representantes da igreja não chegam a uma conclusão em relação ao design da nova versão definitiva. Por outro lado, temos muitos exemplos de estruturas “temporárias” que duram décadas, e Ban espera que o tempo ajude a convencer o pessoal a manter a igreja além dos 50 anos. “Mesmo uma construção de papelão pode ser permanente caso as pessoas gostem dela”, ele disse durante o processo de construção.
É uma situação incomum. As ideias do público sobre arquitetura não costumam influenciar a vontade do cliente, e, geralmente, acabam não importando muito – o tempo é o melhor remédio, especialmente quando falamos de opinião pública. Neste caso, os fiéis da igreja vão decidir se vão demolir a obra de Ban em algumas décadas. E poucas pessoas envolvidas nas decisões de hoje estarão vivas até lá, o que coloca a decisão na próxima geração de fiéis de Christchurch. Por enquanto, no entanto, é o suficiente que a cidade tenha uma igreja funcionando, uma que seja diferente de todas as outras.
Fonte: Gizmodo
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