quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Campanha exibe crianças “adultizadas” e gera revolta na redes sociais

Uma campanha de dia das crianças. O que te vem na mente? Crianças – de prováveis sete, oito anos – brincando, pedindo presentes aos pais, tudo da forma mais sadia possível, certo? Não para a marca “Courofino”.

A campanha, publicada nas redes sociais no último sábado (dia 12), exibe uma criança com cerca de dois anos de idade trajando somente uma calcinha e um sapato de salto alto da “Courofino” numa pose um tanto quanto adulta – e sensual – para sua idade. A campanha teve  cerca de 100 denúncias para o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar), que abriu o processo na segunda-feira, dia 14, e no dia 16, a empresa já deve ter sido notificada. É provável que o processo ocorra em novembro.

Agora, analisando a foto, é possível tirar outra conclusão da campanha que não seja a de erotização da imagem infantil? Segundo a empresa, o objetivo era retratar a criança numa brincadeira adotada por muitas meninas: se vestir com as roupas das mães; algo, então, como “eu quero ser como a mamãe quando crescer”.

A ideia, realmente, não é ruim. O problema está na maneira como foi apresentada. Não ficaria muito mais bonitinha uma menina com um salto alto (já que essa é a intenção da campanha), sentada no colo da mãe, com as roupas adultas e rindo, numa verdadeira brincadeira?

Estimado leitor, não faço a mínima ideia de como funciona o universo da publicidade, mas creio que, até eu, dignamente leiga, saberia que numa campanha de dia das crianças, a infantilidade, a inocência devem ser priorizadas.  Além do mais, não é legal expor crianças ao ridículo (sim, ridículo) em qualquer situação.

De fato, sabemos que os problemas com publicidade não acontecem somente em uma marca e, se tratando do público infantil, encontrei essas para vocês:

A Ambev (Companhia de Bebida das Américas) advertiu a Skol que o sorvete de cerveja, divulgado nas redes sociais, chamaria a atenção do público juvenil. Além de, é claro, por ser sorvete, seu teor alcoólico seria ignorado e o acesso aos jovens seria muito mais fácil.

Um comercial do Posto Ipiranga mostra uma criança e seu suposto pai na propaganda fazendo trabalhos artesanais. A denúncia foi feita como incitação ao trabalho infantil. Delicado, mas nesse caso, creio que o que a propaganda queria trazer era pai e filho trabalhando juntos, se “dando bem”. Como disse, delicado.

Isso não é bem uma campanha, mas trago – sem trocadilhos – um fato interessante: uma pesquisa realizada nos países emergentes aponta que, no Brasil, 59% das crianças de 6 e 5 anos reconhecem alguma marca de cigarro.

Aqui, vocês viram apenas campanhas que, de alguma forma, agridem a imagem infantil. Mas e as inúmeras campanhas publicitárias que, apesar de não agredir a imagem da criança, levam a crer que “esse carrinho é melhor, eu quero muito ele!” agredindo, dessa forma, a mente da criança?

O Brasil não é um país rico e, mesmo nesses, a desigualdade não foi extinta. Imagine só como deve ser triste para uma mãe ou um pai explicar que não tem dinheiro para comprar aquela pista de carrinhos ou aquela boneca princesa.

Claro que nem sempre foi assim. As propagandas antigas, mesmo quando o produto era infantil, o público alvo eram os pais, os que iriam de fato comprar os brinquedos. Quando se percebeu que, se a propaganda fosse destinada às crianças, o apelo para comprar o produto seria muito maior, fez-se a mágica: televisão, revistas, jornais, banners, outdoors… Tudo isso obriga a criança a entender que ela precisa daquele produto para ser sorridente e feliz como na propaganda.

Quero deixar bem claro que não estou fazendo um movimento contra a publicidade dos brinquedos ou produtos destinados às crianças, mas apenas questionando se a utilização das crianças para atrair umas às outras não é algo um pouco arriscado, principalmente se tratando de campanhas que acabam como a da “Courofino”.

Em suma, como é permitido o uso de imagens de crianças, é preciso que os publicitários sejam mais atentos e cuidadosos em relação a apresentação da campanha para que a infância não seja mais um alvo do “tudo por dinheiro”.




Fonte: Fashionatto Literatortura R7
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