quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cristãos de Bangladesh são ordenados a fechar igreja e retornar ao Islã

Construção de igreja é interrompida pelas autoridades locais.

Um funcionário do governo local no centro de Bangladesh suspendeu a construção de uma igreja, obrigou os Cristãos a cultuar numa mesquita e os ameaçou de expulsão de sua aldeia, a menos que renunciem à sua fé.

A Igreja Tangail Evangelical Holiness, na aldeia Bilbathuagani, distrito de Tangail, cerca de 100 quilômetros ao norte de Dhaka, foi criada dia 08 de setembro por um grupo de cerca de 25 Cristãos que haviam se reunido secretamente por três anos.

No entanto, o presidente do conselho local, Rafiqul Islam Faruk, juntou cerca de 200 manifestantes, em 13 de setembro, para protestar contra o início da construção da igreja. No dia seguinte os Cristãos foram chamados ao seu escritório. Mais de 1.000 Muçulmanos esperavam do lado de fora, e na sequência foi anunciado em todas as mesquitas locais para se reunirem no escritório do presidente.

Ordenados a abraçar o Islã

Mokrom Ali, de 32 anos, disse ao World Watch Monitor que foi forçado a aceitar o Islã. "O presidente e os imãs das mesquitas me interrogaram por aceitar o Cristianismo. Eles me perguntaram por que eu havia me tornado um Cristão. É um grande pecado para o Islã se tornar um Cristão. Se eu não aceitasse o Islã, eles iriam me bater, queimar minha casa, e me expulsar da sociedade. Suas ameaças me gelaram até os ossos. É por isso que fingi aceitar o Islã, mas a fé em Cristo é a fonte da minha vida. Agora eu não sou mais um Muçulmano, eu sou um Cristão."

Mojnu Mia, de 31 anos, disse ao World Watch Monitor que também foi forçado a aceitar o Islã contra a sua vontade. "O presidente e os imãs me perguntaram qual era minha religião. Eu disse que era Cristão. Em seguida, eles ameaçaram me bater e me expulsar da vila a menos que renegasse a minha fé no Cristianismo. Eles tinham me intimidado a aceitar o Islã. Eu aceitei isso só para sair daquela situação. Mas depois, eu abracei o Cristianismo jurando uma confissão no tribunal. O presidente veio a saber que me tornei um Cristão novamente, por depoimento. Ele ameaçou que não seria possível praticar o Cristianismo nessa área. Se eu ficar com esta religião, devo deixar este lugar. O presidente está cortando as asas da nossa fé. Eu não sei por quanto tempo poderemos sorrir e aguentar. Queremos liberdade religiosa. Queremos praticar nossa religião livremente."

Oito Cristãos concordaram em voltar ao Islamismo desde 14 de setembro, sob as ordens do presidente. O presidente e seus associados já haviam batido em alguns desses Cristãos há três anos por aceitar o Cristianismo.

‘Eles foram desviados’ 

Faruk, Presidente Local, disse ao World Watch Monitor que alguns Cristãos haviam agido contra o Islã, devido a sua má interpretação do Alcorão. "Os imãs e outros anciãos da sociedade chamavam de retificação por causa de seu comportamento aberrante. Eles foram desviados, por isso, tentamos colocá-los no caminho certo", disse ele. "Oito pessoas que se desviaram voltaram ao Islã. Estamos tentando trazer de volta outros. Para alterar uma religião, uma pessoa precisa jurar o seu nome, e deve informar um magistrado local. Se o magistrado permite, então ele ou ela pode mudar de religião. Mas o que eles estão fazendo é completamente errado”.

O World Watch Monitor perguntou a Faruk se ele iria protestar se qualquer dessas pessoas apresentasse uma declaração com o tribunal reafirmando seu Cristianismo.

Faruk disse que haveria "enorme pressão da sociedade contra ela. Como representante do povo local, eu não posso ir contra a opinião pública".

O presidente advertiu os Cristãos a não retomar a construção da igreja, dizendo que era anti-islâmico.

A Constituição de Bangladesh concede a cada cidadão o direito de professar, praticar ou propagar qualquer religião. Cada comunidade religiosa ou denominação tem o direito de estabelecer, manter e gerir as suas instituições religiosas.

Rev. Mrinal Kanti Baroi, o líder do grupo, disse ao World Watch Monitor que eles tinham tentado mostrar a cláusula da Constituição sobre a liberdade religiosa ao presidente, sem sucesso. "Levamos uma cópia da Constituição ao presidente e outros anciãos da sociedade, mas eles não nos ouvem e não querem vê-la", disse Baroi.

No dia 15 de setembro, os membros da congregação escreveram uma carta para o chefe administrativo do distrito, pedindo segurança e proteção.

O deputado comissário do distrito de Tangail, Anisur Rahman, disse World Watch Monitor que tinham sido tomadas medidas necessárias para garantir a segurança deles.

Um apelo para harmonia

A primeira-ministra de Bangladesh Sheikh Hasina, que vem liderando um governo secular no país de maioria Muçulmana desde 2009, em 3 de setembro ela chamou seus compatriotas para trabalhar juntos para proteger a harmonia comum "que está sendo alimentada no país há milhares de anos." Ela fez seu discurso depois de inaugurar templos Budistas reconstruídos, que haviam sido danificados e queimados por criminosos em setembro de 2012.

A Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional removeu Bangladesh de sua lista de observação após a vitória da Awami League do Sheikh Hasina, na eleição geral de 2008. Seu partido de centro-esquerda é considerado um promotor de políticas seculares e favorável aos direitos das minorias. Seu anúncio de implementar reformas de liberdade religiosa foi outro motivo para Bangladesh ser removido da lista de observação.

De 154 milhões de habitantes de Bangladesh, os Muçulmanos Sunitas constituem 90% e os Hindus, 9%, de acordo com o censo de 2001. O 1% restante é principalmente de Cristãos e Budistas.



Tradução: Rômulo Moura
Fonte: World Watch Monitor
----------------------