sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Reino de Deus: o que é e o que não é

Jesus disse, como registrado em Mateus 12.28: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus.” De fato, a sua mensagem foi toda sobre o Reino de Deus. Suas parábolas se referiram ao Reino de Deus. Suas promessas e seus avisos tratavam de ganhar ou perder o Reino de Deus. Ao falar sobre não buscar as coisas deste mundo, ele mandou que buscássemos o “Reino de Deus e a sua justiça” em primeiro lugar. O resto nos seria acrescentado. Na oração conhecida como “Pai Nosso” somos instruídos a pedir que o Reino venha e que a vontade de Deus seja feita.

Com essas poucas referências e exemplos, podemos concluir algumas coisas absolutamente essenciais sobre o Reino de Deus.

Primeiro, “Reino de Deus” é uma expressão que descreve a manifestação do poder de Deus neste mundo. Seja na cura do enfermo, a expulsão de demônios… onde o Espírito Santo estiver se manifestando, ali está a presença do Reino de Deus.

Segundo, o Reino de Deus é o âmbito no qual a vontade perfeita de Deus é feita, assim como é feita no Céu. É certo que a terra é do Senhor. Tudo pertence a Ele e tudo traz glória a Deus, até mesmo os planos dos homens. José disse que os seus irmãos agiram com má intenção, mas a intenção de Deus foi de usar o seu cativeiro para eventualmente preservar a nação de Israel no Egito. Mas no Céu a vontade de Deus não age apesar de, ou por meio do mal. No Céu a vontade de Deus age diretamente. Ao pedirmos que o seu Reino venha, estamos pedindo uma ação direta e clara da vontade de Deus, em meio a todas as contingências humanas.

Terceiro, sabemos que o Reino está entre nós, mas também está por vir. Vemos momentos de manifestação clara e evidente do domínio de Deus nesta terra. Mas um dia todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor. Não haverá mais guerra. Haverá um descanso. A terra verá a revelação dos filhos de Deus (como prometido em Rm 8 ) e Deus abolirá o mal da terra e de toda a sua criação. Isso acontecerá ao ponto de podermos entender o porvir como “novos céus e nova terra” (Ap 21).

Então, o Reino é uma realidade a ser pedida, uma manifestação do poder de Deus no nosso meio e uma realidade vindoura. O Reino de Deus é anunciado (Lc 8), invocado (Mt 6), e será herdado ou não: “…nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus”

(1 Co 6.10); “… e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21); “….Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos”(1 Co 6.9).

Sabemos ainda mais. O Reino de Deus não é deste mundo, nem dependente de recursos ou armas humanos: “O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui” (Jo 18.36). Não se trata de benefícios materiais: “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Também não se trata de qualquer coisa ligada a territorialidade: “…nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês” (Lc 17.21).

Então, quais as implicações de tudo isso? A partir dessas poucas referências podemos inferir o que não é o Reino de Deus. Sim, porque assim como sabemos o que a Bíblia diz ser o Reino, podemos eliminar certos conceitos equivocados a respeito do Reino e do nosso papel nele.

Primeiro, nós não construímos o Reino de Deus. Não somos os seus arquitetos. Já ouvi muitos dizerem que estão avançando o Reino, construindo o Reino ou estabelecendo o Reino de Deus. Nós proclamamos o Reino e recebemos o Reino, mas não o construímos. Quando ouço argumentos sobre a construção de um prédio ou uma campanha social que promova o Reino de Deus, vejo claramente um equívoco sério. Podemos viver como filhos de Deus e como cidadãos do Reino. Mas dEle “é o Reino, o poder e a glória para sempre”. Nunca será nosso para construir, ou para expandir. Cabe a cada um de nós viver como filhos e cidadãos do Reino. Mas o Reino vem do alto. O Reino é a manifestação do poder sobrenatural de Deus. Quando agimos no âmbito social, em campanhas assistencialistas ou até em projetos políticos, isso não representa uma construção do Reino de Deus. Pode ser uma manifestação de algo que Ele fez em nosso íntimo. Quando Zaqueu prometeu devolver, vezes quatro, tudo que roubará e dar metade dos seus bens aos pobres, Jesus disse que salvação “chegara” àquele lugar. Mas não falou que o Reino dele tinha se expandido. O Reino de Deus é eterno, glorioso e infinito, pois o seu Rei é todas essas coisas.

A expansão de uma igreja ou denominação não é necessariamente a expansão do Reino de Deus. Há muitas coisas que acontecem na igreja que não são a vontade de Deus. É certo que a conversão de muitos os trará debaixo do reinado de Cristo e, consequentemente, para dentro do seu Reino. Mas o Reino de Deus, em si, não é grande porque tem muitos membros. É grande porque Deus é grande. Eu não contribuo para a expansão do Reino. Minha contribuição de “servo inútil” é de chamar todos quantos puder para o Reino, pela pregação do Evangelho.

Estou sendo preciosista? Creio que não. O que tenho visto (e não é pouco que tenho visto) é que muitos usam o termo Reino de Deus como pretexto para construírem o seu próprio reino (e isso pode crescer sim, como já vimos ao longo da história dos empreendedores da fé). Cria uma mentalidade bélica e empreendedora quando usamos estes termos, fora de ordem. Somos porta-vozes de um Senhor que nos manda anunciar: arrependam-se, pois o Reino está entre nós.




Fonte: Walter McAlister em seu blog
------------------------