"Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João 8.32). Estas palavras de Jesus dão muito para pensar. Não são todas as verdades que libertam, mas a verdade reveladora que transforma escravos em filhos, pela fé salvadora em Jesus Cristo, é a verdade que liberta. Os judeus que originalmente ouviram Jesus pronunciar estas palavras entenderam que Ele falava de emancipação da escravatura do jugo romano. “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém”, foi a indignada reação. No Império Romano, povos conquistados foram sistematicamente escravizados, tornando a maioria da população escrava. Os judeus, mesmo escapando da escravatura dos romanos, foram um povo subjugado por Roma. Pior ainda foi sua sujeição ao pecado. Foi desta escravatura que Jesus falava.
Existem dois tipos de escravatura. Uma é voluntária e a outra involuntária. “Quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte...” (Romanos 6.16). Paulo se refere à obediência voluntária ao pecado. A involuntária refere-se aos pecados que os homens praticam contra a vontade ou na ignorância. Paulo admitia que desejava fazer o que era bom, mas continuava praticando o mal que não queria (Romanos 7). Toda a nossa experiência confirma este estado de ser algemado por uma força maior que nos domina.
Todos os que amam a santidade procuram uma resposta diante da fraqueza humana sujeita à tentação. O alcoólatra ou viciado em drogas descobre que a força de vontade não é suficiente para vencer a tentação. Mas Jesus focaliza outros pecados, igualmente potentes, como orgulho, inveja, ciúme, maledicência, impureza (e muitos mais) que também derrubam pessoas sensíveis ao seu estado de escravatura.
Tal como os contemporâneos de Jesus, hoje a maioria dos habitantes da Terra pensam de si mesmos como gente boa, decididamente imunes aos vícios mais grosseiros que dominam os bêbados e prostitutas, os drogados e corruptos. Porém, H. H. Farmer nos adverte: “Nós nos enganamos pensando que as crises supremas na vida moral e espiritual se restringem a fazer escolhas entre coisas boas e coisas definitivamente más. Mas nem sempre são, usualmente não são aquilo. As associações com a palavra ‘tentação’ nos enganam. As tentações da vida, sim! Falta de sinceridade, impureza, intemperança, dureza, covardia, e assim vamos percorrendo a lista inteira dos óbvios e miseráveis pecados. Tais coisas são bastante reais e importantes, e o homem que pode lutar um bom combate contra elas todas fará muito bem. Porém, teríamos que ainda perguntar de tal homem até onde ele tenha progredido no alcance de um caráter apto para o Reino. Teríamos que perguntar se ele, de fato, teria ainda confrontado e vencido suas maiores tentações” (A Diary of Readings, ed. J. Baillie, 1955, 229).
A liberdade que Jesus promete constrói um caráter que consiste do fruto do Espírito. Amor que se esforça para abençoar a vida do próximo. Alegria que aguarda confiantemente no meio de um ambiente hostil. Ela não cai na fossa da ansiedade, mesmo quando o futuro parece sombrio. Ela mostra paciência com os que machucam com suas calúnias e acusações falsas. Ela trata com amabilidade os que não têm nenhum espírito amável. Ela tem um domínio próprio que não se rende ao poder dos apetites mais baixos.
Nosso Senhor prometeu uma liberdade de um filho dentro da casa. O escravo, disse Ele, “não tem lugar permanente na família”. Aqueles que realmente nasceram de Deus têm uma fonte de caráter comparável ao enxerto de um ramo bom em uma árvore ruim. Somos pecadores, ruins. Sozinhos, nada de bom podemos produzir. Com o enxerto do Espírito de Deus, porém, o fruto amoroso e manso de Jesus pode aparecer.
Escravidão caracteriza todos aqueles que descenderam de Adão e vivem algemados pelos desejos da carne, pelos valores do mundo, e ficam sujeitos à atuação poderosa do diabo. Se o Filho os libertar, serão de fato livres, prometeu Jesus (João 8.36). Esta mudança prometida pelo Senhor resulta do milagre do novo nascimento – na atitude de crer nEle, que se ofereceu a si mesmo na cruz para nos perdoar e ressuscitou para nossa justificação, foi exaltado à direita do Pai para nos dar o seu Espírito e nos tornar aptos para o Reino.
Fonte: Russel Shedd na Revista Enfoque
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