A Bíblia conta sobre homens e mulheres que se recusaram a tomar a forma do sistema e não se amoldaram ao ambiente nos quais viviam; se destacaram sendo luz em meio a uma grande escuridão moral e referência de retidão quando à sua volta tudo se corrompia. Espera-se isso dos homens e das mulheres de Deus, ações e reações incomuns quando o comum é a ira, o ressentimento e o engano.
O livro do Gênesis afirma: “O Senhor viu que a maldade do homem na Terra era grande e que toda a imaginação dos pensamentos do seu coração era continuamente má”. - Gn 6: 5. Isso poderia ser escrito hoje, nos descreve; em nada o mundo e nós estamos diferentes quanto à disposição para o mal.
A despeito do caos moral vigente: “Noé era homem justo e íntegro em sua geração e andava com Deus”. Gn 6:9; ele recusou o molde, ignorou as pressões do seu tempo.
Mais adiante o próprio Deus testemunha acerca do caráter de um humano: “Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal?” Jó 1:8 (um currículo assinado pelo Criador). A despeito das agruras permitidas pelo próprio Deus e levadas a cabo pelo diabo, Jó permanece, persevera e prevalece.
“Houve nos dias de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias; e sua mulher era descendente de Arão, e se chamava Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, andando irrepreensíveis em todos os mandamentos e preceitos do Senhor”. Lc 1: 5,6.
Pedro escrevendo aos cristãos da diáspora os exorta: “Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que tínheis em tempos passados na vossa ignorância”. Justos, retos, santos, tementes e com um procedimento irrepreensível.
Ser de Deus deixou de ser atraente? Ser íntegro saiu de moda? E estou questionando se tais procedimentos caíram em desuso entre nós, conhecidos como o povo de propriedade exclusiva do Senhor, raça eleita, nação santa, sacerdócio real e etecetera e tal. Me olhar entre tantos rostos ímpios e não perceber diferença alguma é preocupante, ser igual e ter as mesmas atitudes de quem não vive o Evangelho é no mínimo vergonhoso.
Relendo as histórias de Noé, Jó e os tios de Jesus, senti-me tentado a contrasta-las com as histórias dos “nossos” líderes de caráter duvidoso, vaidade extremada e contas bancárias de origem constrangedora, percebo, entretanto que as pessoas acima citadas eram gente simples como eu; passariam despercebidos não fosse o mover do olhar de Deus em sua direção, não fosse a decisão soberana do Senhor de leva-las a experiências novas a partir da singularidade das suas vidas, do seu procedimento.
Eram pessoas; Tiago me embevece ao dizer que mesmo Elias era uma pessoa como eu (com o currículo de Elias eu me preocupo, e muito). Simples criaturas utilizadas para realizar e experimentar, tornando-se personagens e sujeitos de situações e obras impensáveis aos da minha condição: humanos caídos.
Cada homem e mulher utilizados por Deus através da História e em favor dos eleitos e que visava à redenção pelo Seu Filho na cruz eram tão somente isso, simples criaturas; nada os diferenciava nas multidões anônimas, a não ser a decisão e a coragem.
Do ímpio vou esperar apenas uma coisa: impiedade. Do líder religioso de caráter corroído vou esperar apenas uma coisa: que minta, ludibrie, enriqueça e deixa atrás de si uma história doente e pessoas desencantadas com Deus, por conhecerem Deus a partir de um crápula que “cura e salva e faz prosperar” por conta própria, pois a isso se dispôs.
Mas não foi isso que aprendemos de Cristo; andamos por aí como andam os ímpios, nos comportamos como quem não tem Deus por esteio e escudo e abrimos mão da nossa identidade por medo ou vergonha do confronto e da afronta; nem de crentes gostamos mais de ser chamados, nem a cruz encontramos mais nas igrejas, foi substituída por um peixinho sem graça e um montinho de trigo sem sentido.
E ainda temos a cara de pau de cantar: “Lindo céu, com Cristo eu vou morar num lindo céu”, sem nos dar conta de que este lugar foi preparado para habitação dos santos, dos justos; não santos em si ou justos por si mesmos, pois que a todos quanto O receberam lhes foi dado o poder de serem chamados filhos de Deus, a saber, aos que creem no Seu nome.
É chato escrever e raramente ser agradável; os dias passam e percebo minha vida sendo gasta apenas naquilo que me convém; músicas vaidosas que falam dos seus autores, pregações que validam a impiedade na igreja do Senhor e livros que se prezam pela sua absoluta inutilidade.
A expressão “primeiro amor” precisa voltar à moda e é urgente, pois do contrário, em vez de nação santa, raça eleita e patati e patatá, entraremos pra história da Igreja como a Era dos crentes ímpios, insolentes e indesculpáveis, e deixaremos atrás de nós a mesma história sórdida que gostamos tanto de combater e fazer de conta que não é nossa neste presente instante.
Autor: Magno Aquino, missionário e coordenador do Centro de Recuperação de Mendigos - Missão Vida de Brasília
Fonte: Magno Aquino na Revista Ultimato
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