Após prometer se casar "este mês ainda" com a companheira Andressa Mendonça ao sair da prisão, o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cumpriu, enfim, a promessa na noite desta sexta-feira. Após as cerimônias civil e religiosa, o casal apareceu na entrada do condomínio Alphaville, em Goiânia (GO), onde ocorreu o casamento, para falar com a imprensa. Diante dos fotógrafos, Cachoeira repetiu o gesto feito durante a cerimônia íntima e beijou os pés da noiva.
"É uma felicidade eu estar aqui com a Andressa. É uma paixão. Eu descobri a força que essa mulher tem. E estou cumprindo tudo, né?", disse Cachoeira, se referindo à promessa feita de se casar com a noiva ainda este ano. "Meu coração pulou fora. Esse foi o pior ano da minha vida, mas também o melhor por ter casado com ela". O casal disse que a lua de mel durará cinco dias em uma chácara perto de Goiânia.
O cartorário Antônio do Prado confirmou, pouco antes das 21h, a realização da cerimônia civil. Segundo Prado, o ato durou cerca de 15 minutos e poucas pessoas estavam presentes, o que confirmaria a previsão de uma cerimônia íntima, restrita a familiares e amigos. A bênção religiosa ocorreu logo depois e foi conduzida pelo pastor Vitor Hugo Queiroz, da Igreja Vida Nova de Anápolis, frequentada pela noiva. Cachoeira disse que a fé lhe dá força para enfrentar o que o futuro lhe reserva. “Tenho confiança em Deus sempre”, disse.
Segundo pessoas próximas ao casal, Cachoeira e Andressa não fizeram questão de divulgar o evento porque queriam restringi-lo a seu círculo mais íntimo, esperando em torno de 50 convidados. Ainda de acordo com as mesmas fontes, nenhum político foi convidado.
De acordo com a organização do evento, foi o próprio Cachoeira que insistiu para que o casamento fosse realizado em dezembro, já que a noiva queria deixar a festa para março. A organização do evento afirma também que o vestido foi criado pela estilista paulista Lethicia Bronstein. A personal stylist Adriana Forte cuidou da produção de Andressa, e também da coordenação da festa ao lado da promoter Fernanda Roriz.
A primeira vez que Cachoeira falou publicamente a respeito do casamento foi em julho deste ano, durante depoimento à Justiça Federal em Goiânia. Na ocasião, o contraventor fez declarações de amor a Andressa e disse que se casaria com a companheira "no primeiro dia em liberdade". Cachoeira ainda brincou sobre seu estado civil. "(Se sou casado) É uma pergunta difícil. É só o Ministério Público me liberar (que eu caso) no primeiro dia", disse.
Solto no dia 21 de novembro, Cachoeira foi internado poucos dias depois no Instituto Neurológico de Goiânia, com sintomas de depressão e estresse. Ao receber alta, no dia 30, refez a promessa: "o casamento sai este mês ainda", disse.
Uma semana depois, Cachoeira foi novamente preso, adiando o casamento, inicialmente previsto para acontecer no dia 22 de dezembro. "Estou muito triste, mas ainda acredito que Deus nos trará uma solução", disse Andressa na ocasião. No dia 11, o bicheiro foi novamente solto, beneficiado por um habeas-corpus concedido pelo juiz federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.
No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.
No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa recorreu e, quatro dias depois, o juiz federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) concedeu novo habeas-corpus e Cachoeira foi libertado.
Fonte: Terra
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