Enquanto a polêmica recente com as declarações da presidente do Banco Alimentar contra a Fome, Isabel Jonet, fazia disparar comentários nas redes sociais, um padre, Francisco Mendes, tentava esclarecer uma série de dúvidas no Facebook.
Apesar de o Banco Alimentar não ser uma organização católica, “muitos católicos participam nas atividades e campanhas”, portanto decidiu ir “respondendo, enquadrando, esclarecendo as pessoas, e foi uma oportunidade de fazer uma pedagogia que até começou por vozes mais indignadas”, explica.
A história ilustra, para o padre Francisco Mendes, da diocese de Setúbal, uma das vantagens de a Igreja estar nas redes sociais, algo incentivado pelo Papa Bento XVI como forma de aproximação às pessoas. Esta segunda-feira foi apresentada a conta Twitter do Papa Bento XVI, que entrou na rede social com o perfil @pontifex. Pedimos a três padres que falassem das vantagens de a Igreja estar nas redes sociais.
Também jornalista, Francisco Mendes gere a página da diocese de Setúbal (mais de 800 amigos), do Jornal Notícias de Setúbal (Semanário Diocesano de Setúbal, cerca de 580 likes) e tem uma página pessoal no Facebook. Usa a rede de duas maneiras: na sua conta própria vai partilhando informação e “marcando presença em coisas mais pessoais”; nas páginas do jornal e da diocese divulga informação de forma “rápida e eficaz”. “O que interessa mais [ao jornal e à diocese] é ter uma versatilidade e rapidez que um jornal e um site não têm.” Há pouco tempo, exemplifica, houve um evento em Almada organizado pela diocese em que “grande parte da afluência” veio pelas redes sociais – não tem dúvida de que sem as redes muita gente não teria ido.
Ao longo destes quase três anos em que está no Facebook, notou que a grande vantagem é “tornar-nos disponíveis para uma conversa” e facilitar “a aproximação”. “É difícil as pessoas estarem disponíveis nos horários a que as igrejas estão abertas”, comenta. No Facebook não há hora de fecho. Muita gente que não tem o hábito de andar “fisicamente pelas comunidades cristãs” “tem interesse genuíno” em saber e contacta-o, sobretudo através da página pessoal, ou interpela-o nas páginas de grupos a que pertence, de “forma muito descomprometida”. Também já o interrogaram sobre temas como o celibato dos padres – “recorrente” – e outras questões “que seria mais complicado” perguntar se o “apanhassem à porta da paróquia” – pelo menos, não teria tempo para expor a explicação da mesma forma, diz.
Claro que as redes sociais não são “a panaceia de todos os males”, e o Facebook tem desvantagens – como a falta da presença física, do olhar –, mas não deixam de ser “meios poderosos para assegurar melhor comunicação”. A questões de consciência mais delicadas normalmente não responde – também não é o sítio para a confissão –, mas a rapidez do meio permitiu, por exemplo, reencaminhar para a pessoa certa – e “de imediato” – um caso de “desamparo e solidão” como aquele com que se confrontou há uns tempos.
Na imprensa, rádio, televisão e agora na Internet
Depois de uma primeira tentativa falhada, Rui Osório, pároco da Foz do Douro e jornalista do Jornal de Notícias atualmente reformado, está agora no Facebook há cerca de seis meses, meio que considera essencial. “A Igreja vive da mensagem e da comunicação. Começou por ser comunicação oral, e embora tivesse receio da imprensa na era de Gutenberg e da queima dos livros, desde cedo assumiu o papel de divulgador” – está presente na imprensa, na rádio, na televisão e agora na Internet.
Rui Osório quis criar um perfil por achar que não deveria fugir às potencialidades da tecnologia, ainda mais vindo da área da comunicação social. Tem na sua rede crianças, jovens, adultos, reformados e desenvolve a “cultura de uma rede de amigos”, estando (online) e partilhando. Serve-lhe para “cultivar um tipo de relação de amizades e processo de comunicação, porque por mais virtual que seja há um esforço de parecer cada vez mais real.”
Em que é diferente da comunicação com os crentes ao vivo? “O meio também é a mensagem. A missão de um sacerdote num centro paroquial tem muito do passado – a tradição, a oralidade. A relação desse patrimônio tradicional está de parte, nem tento substituir. A relação cara a cara não me parece que se possa substituir.” As redes sociais são um complemento, diz, e o seu objectivo “não é exercer a missão” que lhe “cabe” nelas. Mas “não queria ficar fechado”: “Sou um jornalista que escreveu à mão, à máquina, à máquina eletrônica e ao computador. As novas tecnologias nunca me assustaram. Não é só o gosto da novidade pela novidade, é saber como complementar.”
Chegar a quem não vai à igreja
Gestor da página de Facebook do Patriarcado de Lisboa, e responsável pelo gabinete de comunicação, o padre Nuno Rosário diz não ter dados ou números, mas sente que através da rede social chega a quem não vai à igreja – e que a maioria dos que vão à igreja não usa as redes sociais. “Percebo através da página Facebook [que tem cerca de 1800 likes] que há muita gente que é ligada à Igreja, mas há muitos outros que não são.”
O objectivo é divulgar informação e transformar a página num “canal de comunicação” que vai gerando proximidade. “A relação pessoal e a proximidade são diferentes [no Facebook e ao vivo]. Mas a Igreja precisa de estar cada vez mais próxima das pessoas e este é mais um meio para depois estabelecer a proximidade física.”
Ao mesmo tempo, ao estar nas redes sociais a Igreja mostra que está no mundo e envolvida, mostra que “não está fora”. “A certa altura, o Facebook tornou-se quase um mundo à parte. Muita gente está no Facebook”, tem muitos amigos, mas não chega a desenvolver essas relações no mundo real. “Se estudarmos as redes sociais, percebemos que há tendência para as pessoas se isolarem. O facto de estarmos no Facebook é uma forma de irmos ao encontro de todos. O nosso objectivo é levar Cristo às pessoas.”
Fonte: Publico
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