"Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade. O ensino deles alastra-se como câncer; entre eles estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu, e assim a alguns pervertem a fé." (2 Timóteo 2.16-18)
Falsas doutrinas são perigosas. As pessoas que são afetadas por elas e que as promovem tornam-se crescentemente más. Para muitas pessoas, a ideia de mal evoca imagens de assassinato, adultério, opressão e coisas semelhantes. Mas não importa quão más sejam essas coisas, como um entendimento geral e primário do mal, isso é insuficiente e superficial. Jesus disse que o maior de todos os mandamentos é amar a Deus, e o segundo é amar as pessoas. Definir bem e mal primariamente pelo segundo, e até mesmo em negligência ao primeiro, denuncia uma inclinação humanista.
O padrão bíblico começa com Deus. Dessa forma, o conhecimento e adoração correta de Deus vem antes da conduta e relação correta com os homens. Não devemos ter outros deuses, mas isso implica um conhecimento suficiente do único Deus verdadeiro para identificá-lo, e reconhecer as variações e impostores. Não devemos construir ídolos nem adorar imagens, mas isso implica um entendimento da própria natureza de Deus – do que ele é e não é. E devemos usar o seu nome corretamente – não em vão, mas com o entendimento e atitude correta, com reverência e adoração. Isso envolve uma inclinação definida da mente. Amar a Deus, sem dúvida, também significa que devemos amar a sua palavra, considerar seus ensinos como preciosos e sagrados. Isso também ocorre na mente, antes que a obediência exterior seja exibida.
Falsas doutrinas levam uma pessoa a transgredir o maior de todos os mandamentos antes mesmo de levá-la a transgredir o segundo, e mesmo antes que qualquer ação externa seja exibida. Isto é, crer ou pensar algo falso sobre Deus, ou crer ou pensar algo diferente ou contrário ao que ele revelou, é em si mesmo pecaminoso. É uma violação do maior mandamento. Portanto, moralmente falando, crer e promover falsas doutrinas é muito pior que assassinato, adultério, roubo e coisas semelhantes. Isso é o contrário do que muitas pessoas, incluindo cristãos, parecem acreditar.
Os falsos mestres que Paulo tinha em mente incluiam Himeneu e Fileto. Eles eram falsos mestres porque tinham “se desviado da verdade”. Novamente, é a verdade ou doutrina que representa o padrão. Qualquer doutrina que não seja a verdade é por definição uma falsa doutrina. Um líder eclesiástico deve possuir, tanto quanto possível, um caráter que esteja acima de reprovação. Mas mesmo antes do caráter ser considerado, a linha é traçada pela doutrina. Essa é a regra que guia os cristãos ao selecionar mestres para seguir e imitar. Essa é a regra que governa a política da igreja ao designar oficiais eclesiásticos, bem como ao definir sua agenda, orçamento, e assim por diante.
É apropriado e algumas vezes necessário que os ministros discutam essas questões tanto em privado como em público. Os ministros devem advertir as pessoas sobre falsas doutrinas e falsos mestres, às vezes anunciando os nomes dos hereges, para que os crentes possam evitá-los. Todavia, um foco desordenado nas falsas doutrinas, mesmo em se opor a elas, gera um ministério fora de equilíbrio. Como não é o hábito de Paulo tolerar os falsos ensinos, não é frequentemente que ele refere-se diretamente aos seus conteúdos ou descreve-os em grande detalhe. Aqui ele menciona que a heresia incluía a ideia “que a ressurreição já aconteceu”.
Seria o caso deles terem espiritualizado a ressurreição, com a implicação que a ressurreição de Cristo foi também meramente espiritual? Em todo caso, como Gordon Fee escreve: “Para Paulo, a negação da nossa ressurreição (corpórea e futura) é negar a própria fé”. Visto que a ressurreição de Cristo foi física, e nossa ressurreição será como a sua, então até que tenhamos um corpo similar ao seu, a ressurreição ainda não aconteceu, e qualquer doutrina que diga que a ressurreição já aconteceu é heresia, e equivale à uma negação da fé cristã.
Não podemos ter certeza da natureza exata desse falso ensino, mas seja qual for, ela contradiz uma das doutrinas cruciais da fé cristã. E se isso é suficiente para evocar uma reação agressiva do apóstolo, então é o nosso dever reagir fortemente também quando ensinos fundamentais do evangelho estão sob assalto. Falsos ensinos sobre a natureza de Deus e de Cristo, sobre a criação e queda do homem, sobre expiação e justificação, e no mínimo várias outras, devem ser enfrentados com condenação. Negar o que a Bíblia ensina sobre esses tópicos, ou ensinar algo diferente daquilo que a Bíblia assevera, é negar a própria fé cristã.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto em Monergismo
Fonte: Reflections on Second Timothy
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