Vítimas de abusos sexuais contra crianças praticados por padres católicos expressaram sua revolta nesta terça-feira (22) após a divulgação de documentos que mostram líderes da igreja discutindo sobre como encobrir supostos crimes de sacerdotes na Califórnia na década de 1980.
Os procuradores disseram querer estudar os registros, que até então eram confidenciais, incluindo memorandos produzidos pelo ex-arcebispo de Los Angeles Roger Mahony - embora especialistas digam que o estatuto das limitações provavelmente impeça qualquer ação legal.
Trechos dos documentos foram publicados na segunda-feira (21) pelo jornal Los Angeles Times, incluindo as conversas entre Mahony - agora um cardeal aposentado - e um assessor de alto escalão sobre como proteger padres pedófilos da aplicação da lei.
Os registros incluem memorandos secretos entre Mahony e o monsenhor Thomas Curry, seu assessor em casos de abuso sexual, sobre como prevenir a polícia de investigar três padres que haviam admitido para a igreja que tinha abusado de meninos.
Especificamente, Curry sugeriu fazer com que os padres suspeitos parassem de ver terapeutas, o que poderia alertar as autoridades sobre os supostos abusos, ou mantê-los fora da Califórnia para evitar investigações policiais, informou o Times.
Um deles foi o monsenhor Peter Garcia, que admitiu ter abusado de crianças em sua maioria em paróquias de língua espanhola por décadas. Ele foi enviado para um centro de tratamento do Novo México, e Mahony ordenou que ele ficasse fora da Califórnia.
"Acredito que se o monsenhor Garcia reaparecer aqui dentro da arquidiocese, nós podemos muito bem ter algum tipo de ação judicial proposta nos âmbitos civil e criminal", escreveu Mahony em julho de 1986.
Reagindo à informação, Joelle Casteix da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres, ou SNAP, disse: 'Ficamos chocados e revoltados ao ver estes comentários'.
Mahony - que enfrentou inúmeras denúncias sobre a sua gestão dos casos de abuso sexual, e que se desculpou repetidamente - "geriu pessoalmente a carreira de padres predadores", disse em frente à catedral de Nossa Senhora dos Anjos, em Los Angeles.
"Ele e outros clérigos de alto escalão, incluindo o agora bispo Curry, trabalharam diligentemente para assegurar que os homens que feriram crianças, que abusaram de crianças e que destruíram comunidades nunca ficassem um dia atrás das grades".
Uma porta-voz do gabinete do procurador distrital de Los Angeles disse que os procuradores "irão analisar e avaliar todos os documentos assim que eles estiverem disponíveis para nós", em declarações publicadas pelo Times.
Mas o ex-procurador Steve Cooley, que conduziu uma investigação de cinco anos sobre abuso sexual católico, disse que um estatuto de limitações de três anos significava que havia poucas perspectivas de processos bem-sucedidos.
"Seria ótimo processá-los", disse Cooley, que deixou o cargo no ano passado. "Mas você não pode processar alguém eticamente... quando o estatuto se esgotou".
No início deste mês, um juiz ordenou que os líderes católicos em Los Angeles identificassem autoridades da Igreja acusadas de abusar sexualmente de crianças, uma ação saudada por ativistas a favor das vítimas.
A arquidiocese de Los Angeles, a maior dos Estados Unidos, disse que "muitas das informações em questão já se tornaram públicas em um Relatório ao Povo de Deus", divulgado em 2004, e em documentos posteriores.
Mas o SNAP saudou a ação. "Durante décadas, a hierarquia católica de Los Angeles hierarquia conseguiu manter em segredo milhares de páginas de documentos incriminatórios. Devido à coragem e à tenacidade de centenas de vítimas, isso vai terminar em breve", disse. "E, como resultado as crianças estarão mais seguras", completou.
Fonte: G1 com informações da France Press
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