Pregando em 1 Timóteo 1.16-17 no Domingo, fiquei perplexo com muitas coisas. Primeiro, doutrina e adoração andam juntos. Doutrina, muitas vezes, pode parecer uma palavra seca, mas, de fato, é apenas a descrição de quem é Deus e como ele tem agido. Conforme Paulo reflete em 1 Timóteo 1 sobre como Deus o tem tratado, a linguagem dele se torna exuberante e ele fala da Graça de Deus ‘transbordando’ nele. Então, incapaz de se conter, ele rompe em doxologia. Isso não é nem um pouco surpreendente. A descrição dos atos de Deus deveria naturalmente suscitar a adoração; e aqui Paulo oferece um paradigma de uma resposta de adoração na qual, ele atribui a Deus a honra e a glória, isto é, aquilo a que Deus tem direito por sua natureza e suas ações. O louvor de Paulo é doutrinário em sua origem e doutrinário em seu conteúdo. Para afirmar o que deveria ser óbvio, louvor e adoração diferente disso simplesmente não é louvor e adoração como a Bíblia definiria.
No entanto, há, certamente, mais aqui: o relacionamento entre doutrina e adoração na estrutura da carta de Paulo nos permite inferir que aquela doutrina que não leva ao louvor não é verdadeira, no mais rico sentido da palavra. O ensino da doutrina e a resposta apropriada ao mesmo estão intrinsecamente ligados de tal forma que um deve realmente resultar no outro.
Infelizmente, este não é sempre o caso. Eu estava falando com um amigo, recentemente, que me contou de uma escola dominical sobre providência que ele tinha participado. A apresentação, que foi precisa e correta em sua formulação, deixou meu amigo gelado. Nada da glória, ou da graça, ou da misericórdia ou da paciência de Deus havia sido vinculada na apresentação. Não havia nada que suscitasse uma resposta de louvor e adoração.
O ensino da doutrina e a resposta apropriada ao mesmo estão ligados de tal forma que um deve realmente resultar no outro
Agora, nós precisamos ser cautelosos para não sermos enganados por estética ou basearmos a verdade simplesmente na reação do leitor. Muitas apresentações inspiradoras foram, sem duvida, realizadas com a retórica ornamentada, apesar de uma completa ausência de conteúdo. Entretanto, não significa dizer que a forma não é importante. Essa é uma das razões do porquê de a Bíblia conter diversos gêneros literários. Isso também se transfere para o ensino: o homem que consegue regularmente ensinar coisas como providência e mandar embora seu público frio ou indiferente precisa perguntar a si mesmo se o problema é com o público ou com ele mesmo. Ele é realmente qualificado para ensinar na igreja se ele torna as profundas, misteriosas e gloriosas coisas de Deus em um tédio monótono? É difícil imaginar Paulo falando de um assunto como providência e não rompendo em uma adoração que atribui honra e glória a Deus. E ainda mais difícil é imaginá-lo mandando seu público embora frio e indiferente: ele poderia incitar raiva ou espanto, mas frieza e indiferença, jamais.
O outro aspecto dessa conexão entre doutrina e adoração é que, se a doutrina que não culmina em louvor não é uma doutrina verdadeira, então o louvor que não é uma resposta à verdadeira doutrina não é verdadeiro louvor. Louvor e adoração – a atribuição a Deus da honra e da glória que lhe são devidas – é uma resposta ao conhecimento de quem ele é e o que ele tem feito. Ele é provocado e moldado pela descrição de Deus que o professor dá. Qualquer outra coisa que se intitule adoração, quer seja tradicional ou contemporânea, quer seja estimulante ou calmante, não é adoração. É apenas uma experiência estética que ajuda a alcançar um certo estado psicológico e emocional. Eu me lembro que na faculdade ouvia as pessoas falando de uma igreja como sendo excelente no que se trata de doutrina e outra excelente no que tange à adoração. Essa é uma falsa dicotomia. Uma não pode ser boa em um aspecto e não no outro, pois eles estão intima e inseparavelmente conectados.
E é por isso que leitura da Bíblia e boa pregação são críticas em um culto de adoração. Se estão ausentes, então não há nada para o que responder, nada que provoque uma reação doxológica como a que vemos na primeira epístola de Paulo a Timóteo, no capítulo 1. O mesmo se aplica ao culto no lar e na nossa própria vida. Ler a Bíblia e refletir sobre quem é Deus e o que Ele tem feito é o básico. Esses são os fundamentos necessários para a devoção cristã. Doutrina deve ser uma coisa alegre, levando-nos a ajoelharmos em louvor e gratidão constantemente. Nós nunca podemos nos esquecer disso.
Doutrina deve ser uma coisa alegre, levando-nos a ajoelharmos em louvor e gratidão constantemente
Então, líderes devem certamente demitir professores e pregadores consistentemente chatos (ensinar sobre a providência, por exemplo, de forma monótona é falso ensinamento tão certamente quanto o teísmo aberto é), e as congregações devem relacionar seus atos de louvor e adoração à declaração dos atos maravilhosos de Deus, os quais ouvem de púlpito.
Tradução: Marianna Brandão no iPródigo
Fonte: Carl Trueman em Reformation 21
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