O Vaticano respondeu às reportagens da mídia italiana que consideravam a renúncia do Papa como em razão de um dossiê secreto, segundo o qual haveria uma “rede homossexual” dentro do clero.
A maioria dos jornais italianos publicou reportagens sem fontes afirmando que um dossiê montado por três cardeais revelava uma rede secreta de bispos que haviam organizado orgias homossexuais e sofrido chantagem.
Segundo o jornal La Repubblica, as alegações explosivas teriam sido feitas em um relatório elaborado durante o escândalo do “Vatileaks”, que foi apresentado ao Pontífice por volta de 17 de dezembro.
Mas hoje o Vaticano acusou a mídia italiana de espalhar “reportagens falsas e nocivas” na tentativa de influenciar cardeais que irão se reunir em um conclave secreto no mês que vem para eleger o novo Papa.
O relatório foi montado em dois volumes, “vermelho de capa dura” com o título “segredo pontifical” e compilado por três cardeais, o espanhol Junián Herranz, Salvatore de Giorgi, ex-arcebispo de Palermo, e o eslovaco Josef Tomko.
Eles iniciaram a investigação depois que o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, foi preso e acusado de roubar e vazar correspondências papais que revelavam que o Vaticano era um centro de brigas e intrigas.
O jornal La Repubblica afirma que o Papa Bento XVI renunciou por não ser capaz de enfrentar as repercussões de lidar com o dossiê de 300 páginas; o primeiro pontífice a renunciar em 700 anos.
Segundo o jornal, a investigação havia descoberto um lobby gay dentro da Igreja, que teria algum tipo de controle sobre as carreiras dos membros do Vaticano.
Nem confirmação nem negação: padre Lombardi, porta-voz do Vaticano
Segundo uma citação do relatório: “Os cardiais teriam descoberto uma rede homossexual secreta, cujos membros organizavam encontros sexuais em vários pontos de encontro em Roma e na Cidade do Vaticano, deixando-os passíveis de chantagens”.
“Os pontos de encontro incluíam uma vila fora da capital italiana, uma sauna no subúrbio de Roma, um salão de beleza no centro, uma antes residência universitária utilizada por um arcebispo italiano”.
O jornal afirma ainda que os cardeais descreveram um número de “facções” no relatório, incluindo uma cujos membros são “unidos pela orientação sexual”.
Ainda segundo o jornal, o dossiê declara que membros desse grupo estavam sendo chantageados por leigos com quem mantinham relações de “natureza mundana”.
Foi citada uma fonte desconhecida que seria próxima dos autores do relatório: “Tudo gira em torno da não-observância do sexto e sétimo mandamentos”.
O sétimo mandamento proíbe o roubo, e o sexto mandamento proíbe o adultério, mas está ligado à doutrina católica da proibição de atos homossexuais, explica o jornal The Guardian.
O dossiê será mantido em um cofre papal secreto e entregue ao sucessor de Bento XVI quando este deixar o cargo, segundo La Repubblica.
As palavras do próprio papa foram apenas que ele não tem “forças de corpo e mente” para prosseguir, e que irá renunciar em 28 de Fevereiro.
O Vaticano afirma que as reportagens são uma tentativa de influenciar as eleições do próximo Papa.
A secretaria do Estado do Vaticano afirma que a Igreja Católica insistiu durante séculos na independência dos seus cardeais para escolher livremente seu papa, uma referência a eventos passados, quando reis e imperadores vetaram papáveis ou impediram diretamente que cardeais votassem.
“Se, no passado, os chamados poderes, isto é, Estados, exerceram pressões sobre a eleição do Papa, hoje há uma tentativa de fazê-lo por meio da opinião pública, muitas vezes com base em julgamentos que tipicamente não capturam o aspecto espiritual do momento que a Igreja está vivendo”, afirma a declaração.
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“É deplorável que, à medida que nos aproximamos do início do conclave... haja uma ampla difusão de notícias muitas vezes infundadas, inverificáveis ou completamente falsas, que causam sérios danos a pessoas e instituições”.
Alguns observadores do Vaticano especularam que, devido ao fato de grande parte de seus oficiais serem italianos, os cardeais podem ser persuadidos a eleger cardeais não italianos ou que não exercem função no Vaticano, em uma tentativa de impor algum tipo de reforma na Cúria.
O porta-voz do Vaticano, pe. Frederico Lombardi, afirma que as reportagens "não correspondem à realidade”, mas que o Papa e alguns dos seus colaboradores mais próximos recentemente denunciaram o mau funcionamento do Palácio Apostólico.
O cardeal Gianfranco Ravasi, por exemplo, criticou “divisões, dissidências, carreirismo, inveja” que afligiam os oficiais do Vaticano. Ele fez declarações na última sexta-feira, penúltimo dia da semana de exercícios espirituais do Vaticano, da qual participaram o Papa e outros líderes.
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Bento XVI recentemente também fez referência a divisões, na sua última Missa como Papa na quarta-feira de cinzas, lamentando que a Igreja muitas vezes é “maculada” por ataques e divisões internas. No domingo passado, ele pediu aos seus membros que superem o “orgulho e o egoísmo”.
No sábado, nas suas declarações finais à Cúria, Bento XVI lamentou “o mal, o sofrimento e a corrupção” que desfigurou a criação de Deus. Mas ele também agradeceu aos oficiais do Vaticano por terem-no ajudado a “carregar o fardo” do seu ministério com seu trabalho, amor e fé nesses últimos oito anos.
O ataque do Vaticano à mídia ecoou sua resposta a escândalos anteriores, em que a tendência foi não se dirigir ao conteúdo básico das acusações, mas desviar a atenção.
Durante a explosão dos escândalos sexuais em 2010, o Vaticano acusou a mídia de tentar atacar o Papa; durante o escândalo dos vazamentos em 2012, ele acusou a mídia de sensacionalismo, sem se dirigir ao conteúdo dos documentos vazados.
Tradução: Luis Gustavo Gentil do original no Daily Mail
Fonte: Blog do Julio Severo
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