Esta igreja em Soissons, com estilo Art Déco, é estimada em 350 mil euros
A constante redução do número de católicos na França está acelerando a venda de igrejas e outras propriedades religiosas no país.
A constante redução do número de católicos na França está acelerando a venda de igrejas e outras propriedades religiosas no país.
Além do menor número de fiéis, a crise econômica também provoca queda nas doações. Em muitos casos, faltam recursos para fazer obras de manutenção. Em outros, falta dinheiro para custear simples despesas regulares de funcionamento.
"As dioceses estão em uma situação financeira crítica, com cada vez menos fiéis", afirma Maxime Cumunel, do Observatório do Patrimônio Religioso, uma entidade civil que busca preservar o patrimônio histórico religioso.
O corretor imobiliário Patrice Besse, especializado na venda de propriedades religiosas, explica que "antes as dioceses se sentiam incomodadas em vender suas igrejas. Afinal, elas foram construídas com o dinheiro de doações. Agora é uma necessidade econômica. É preciso vender algumas para salvar outras."
"Há cada vez menos fiéis e menos doações. O fenômeno de venda de igrejas está aumentando", estima Besse.
Manutenção
A corretora de Patrice Besse dispõe atualmente de seis igrejas à venda, com preços entre 50 mil e 500 mil euros (aproximadamente entre R$ 130 mil e R$ 1,3 milhão).
Esta igreja foi comprada por um pianista por 125 mil euros
Ele acaba de vender uma igreja na cidade de Soissons, no norte da França, por 125 mil euros, que foi comprada por um pianista anglo-taiwanês de 21 anos, internacionalmente famoso.
Ele acaba de vender uma igreja na cidade de Soissons, no norte da França, por 125 mil euros, que foi comprada por um pianista anglo-taiwanês de 21 anos, internacionalmente famoso.
Besse também negocia a venda de outra igreja em Soissons, com estilo Art Déco, estimada em 350 mil euros e que pertence à paróquia local.
"A manutenção custa caro, e muitas paróquias preferem vender seus bens para não ter de arcar com despesas de obras", afirma o corretor.
É o caso de uma capela na região de Bordeaux, no sudoeste da França. A diocese de Bordeaux explica em seu site que a capela está fechada desde julho de 2011 por razões de segurança. As obras necessárias são estimadas em 400 mil euros.
"Nem o Episcopado nem a paróquia de Talence têm os recursos financeiros para realizar as obras. O dinheiro obtido com a venda da capela será bem-vindo para atender às necessidades das missas da paróquia", afirma a diocese.
Uma igreja na pequena cidade de Vandoeuvre-les-Nancy, no leste da França, foi vendida no ano passado em razão da falta de fiéis. Ela se tornará um centro comercial.
"Só uma centena frequentava a igreja, que tem capacidade para mais de 700 pessoas", justificou a diocese de Nancy, que obteve 1,3 milhão de euros com a venda.
Menos católicos
O número de católicos na França vem caindo regularmente nas últimas décadas, segundo diferentes estudos. Paralelamente, o número de agnósticos (sem religião) e ateus vem aumentando no país e já atinge, respectivamente, quase 19% e 4,2%, de acordo com a Enciclopédia Cristã Universal.
Outra pesquisa, do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França, publicada em 2009, revela que 45% dos franceses entre 18 e 50 anos se dizem sem religião.
A população católica na França era de 60,4% em 2010 (último dado disponível), segundo o instituto americano Pew Research Center e outros estudos realizados no país.
Nos anos 70, o número de católicos na França era de quase 88%, de acordo com a Enciclopédia Cristã Universal.
Mas entre os que se dizem católicos e os efetivamente praticantes há uma grande diferença. De acordo com uma pesquisa do instituto Ifop, apenas 4,5% dos franceses afirmam ir à igreja todos os domingos e somente 15% dizem frequentá-la "regularmente", ou seja, pelo menos uma vez por mês.
Uma lei de 1905, que garante a separação entre a Igreja e o Estado, determina que os bens imobiliários religiosos construídos antes de 1905 pertencem às prefeituras, que têm a obrigação de mantê-los em bom estado.
Os prédios religiosos construídos após essa data são propriedade da Igreja. Somente as catedrais pertencem ao governo nacional. Na França, devido à lei, as igrejas não podem receber subvenções.
Nesse período de crise, muitas prefeituras que possuem igrejas (obrigatoriamente construídas antes de 1905) também não hesitam em vendê-las para não ter gastos com obras, como conserto de telhados ou de eletricidade.
Segundo um levantamento realizado por Benoît de Sagazan, que integra o Observatório do Patrimônio Religioso e possui um blog sobre o tema, há 43 igrejas e capelas à venda na França neste mês de fevereiro.
Fonte: BBC Brasil
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