quarta-feira, 19 de junho de 2013

Ex-missionário pede aval do Papa, larga igreja e se casa

Após 15 anos de vida religiosa, ex-missionário se casou. Casal está junto há cinco anos e tem uma filha. União na igreja precisou de autorização do Papa para ser validada.

Um missionário paranaense radicado na Itália largou 15 anos de trabalhos dedicados à igreja católica para se casar com uma mato-grossense que conheceu pela internet. A história que mais parece ter sido criada para uma novela é o enredo da vida de Roberto Dembiski e Andréia de Fátima. Juntos há cinco anos em Cuiabá, o casal diz que vai comemorar nesta quarta-feira (12), pela quinta vez, o ‘Dia dos Namorados’ com a mesma sensação do primeiro encontro.

Para concretizar a união, no aspecto religioso, o casal precisou receber uma autorização do então papa Bento XVI. Roberto explica que quando optou pela carreira religiosa, quando tinha 18 anos, fez três votos. Entre eles, o da castidade. Para se casar na igreja com Andréia, o voto precisou ser rompido.

Ex-religioso da Ordem Missionária Servos dos Pobres, em Curitiba (PR), Roberto diz que viveu 15 dos 38 anos de vida com muito pouco. Ele resume o período com um lema católico. “Religiosos não têm nada, mas possuem tudo”. Intramuros, Roberto prestou assistência aos seminaristas da ordem, fez sepultamentos, tinha um programa de rádio e participou de missões religiosas.

O sinal de que a carreira religiosa não estava nada bem acendeu quando ele recebeu uma proposta para repensar a própria vida em Palermo, na Itália, local onde surgiu no século 19 a ordem religiosa à qual ele pertencia. “A vida religiosa é uma vida consagrada que precisa ter os votos sempre renovados com oração, trabalho, estudo e lazer. Quando eu percebi que esses pilares que a sustentam não estavam bem eu passei a questionar a minha decisão”, afirmou.

O sonho de viver no país-sede da igreja católica, para Roberto, foi a gota d’água para ele largar de vez a vida reclusa. “Eu estava preso e bastante desmotivado na Itália. Não tinha lá a mesma vida que tinha no Brasil. Para não viver uma vida dupla, com uma história na igreja e outra no mundo, eu decidi sair”, revela.

A milhares de quilômetros dali, Andréia, então com 21 anos, seguia uma vida normal em Cuiabá. Secretária de um escritório, a jovem sonhava em encontrar alguém que a fizesse feliz, mas nunca imaginou que o meio para isso seria o virtual. “Uma amiga que hoje é madrinha do nosso casamento fez um cadastro em um site de relacionamento. No começo, eu achava muito estranho, mas passei a conversar com várias pessoas e num belo dia recebi o convite do Roberto pedindo para eu adicioná-lo”, conta.

Andreia só descobriu semanas depois que Roberto era religioso. “Um dia ele escreveu que queria largar a batina. Eu levei um choque e fiquei dois dias sem ligar o computador”, revela. Andréia contou ao G1 que o maior problema do namoro virtual ocorreu quando Roberto decidiu pôr fim às conversas. “Ela estava exigindo demais, levando muito a sério a situação. Disse que em Cuiabá eu teria emprego e poderia morar nos fundos da casa da mãe dela. Eu nem conhecia Cuiabá”, disse Roberto.

Roberto deixou de ser seminarista e decidiu se casar

“Eu chorei demais e também fiquei bastante revoltada porque eu propus esperar todo o processo que ele tinha que fazer para deixar a vida religiosa. Eu não saía mais por conta dele e até ali eu entendia que a gente estava namorando de forma séria”, completou Andréia.

No dia seguinte, Roberto pediu desculpas a Andreia e decidiu voltar ao Brasil para se casar com ela. Com a carta de renúncia endereçada ao Papa, Roberto fez as malas e seguiu para a casa dos pais e, em seguida, para Cuiabá. Na capital de Mato Grosso, Roberto conseguiu emprego e esperou a liberação da igreja para selar a união no religioso com Andréia. O documento só foi autorizado pelo Papa em julho de 2009. Um mês depois, o casal subiu ao altar para a celebração do casamento.

Roberto afirmou à reportagem do G1 que se manteve virgem até poucos meses antes de se casar com Andréia, quando tinha 33 anos de idade. Advindo de uma família tradicionalmente católica, o ex-missionário não se arrepende da opção que fez ao permanecer 15 anos na igreja. “Toda a vida da gente é feita de etapas e cada etapa é preciso ser vivida da melhor forma. Naquele momento eu aproveitei o máximo, mas quando vi que não estava bem, eu decidi sair”, revelou.

Atualmente, Roberto trabalha com empreendimentos da construção civil e cursa administração. Andréia é cabeleireira e estuda psicologia. O casal tem uma menina de quatro anos e sonha em ir à Itália. “Eu faria tudo de novo por ele. Mas eu recomendo que as pessoas tenham cuidado ao usar a internet para se relacionar. A nossa história é uma em um milhão que deu certo”, ponderou Andréia.



Fonte: G1
-------