“Você ficará grávida e dará a luz um filho e lhe porá o nome de Jesus.” (Lc 1.31)
Os domingos que precedem o Natal são comumente chamados de domingos do Advento. A estação litúrgica do Advento é um tempo de espera, de expectativa e também de preparação espiritual para bem celebrarmos o mistério da Encarnação do Verbo. De fato, não há nenhuma prescrição bíblica para celebrarmos em culto formal, público e litúrgico o nascimento do Filho Eterno do Eterno Deus no tempo dos homens. Contudo, desde cedo, ainda na Igreja antiga, aparecem as primeiras manifestações litúrgicas, as primeiras orações e os primeiros hinos que exaltavam o fato de Deus em sua condescendência e amor misericordioso, visitar o seu povo na pessoa de seu amado Filho revestido verdadeiramente de nossa humanidade.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento cultural e litúrgico, o Cristianismo foi elaborando formas cada vez mais sofisticadas de exaltar, agradecer, meditar, adorar e proclamar a vinda do Emanuel, d’Aquele que veio salvar o povo de seus pecados. É bem verdade que também não faltaram exageros que levaram a celebração deste augusto mistério para bem perto da idolatria e da apostasia. Mas, isto não invalida não só a oportunidade, bem como a necessidade de que temos ainda mais hoje em dia, em nossa cultura secularizada e anticristã, de celebrarmos com a fé e a vida o fato (não a data), de que “Deus amou tanto o mundo que nos enviou o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer não pereça...pois quem confessa que Jesus veio em carne procede de Deus” (Jo 3.16; 1Jo 4.3).
A celebração do Natal por parte da Igreja Cristã é uma grande oportunidade para o testemunho e o anúncio do Evangelho, mas exige preparo e níveis de celebração. Enquanto preparação a investigação das promessas bíblicas que dizem respeito ao Messias e o estudo dos Evangelhos de Mateus, Lucas e João em seus primeiro capítulos muito podem esclarecer. Quanto aos níveis de celebração existem alguns que eu gostaria de propor aos cristãos para obtermos mais abundantes frutos espirituais e maior capacidade para testemunhar e anunciar:
Nível 1
O resgate da piedade pessoal e do enternecimento do coração. É preciso que resgatemos as boas emoções e os pios afetos da alma e do coração para esses dias. Não podemos nos deixar engolir pela euforia das grandes lojas, dos shopping centers, das brilhantes e alucinantes propagandas de felicidade por meio do consumismo e do prazer desenfreado. O resgate desta piedade pessoal e do enternecimento do coração passa necessariamente pelo encantamento pela “velha história de Cristo”. Pela audição mais frequente dos hinos e cantigas que dão a atmosfera destes dias, de deixar-se invadir pelas boas recordações de outros Natais mais ingênuos.
Nível 2
O resgate do Natal como celebração familiar. Como encontros e reencontros familiares, para cantar juntos, recitar juntos poemas e ler contos e histórias de Natal. Um encontro para ao redor da mesa oferecer a Deus um culto de gratidão pelo maior dos dons jamais oferecido: Jesus, o nosso presente celestial. O resgate do Natal em família deve levar-nos à valorização de nossa família, pois Cristo quis nascer numa família concreta, real, que lutava com a vida para ganhar o pão digno de cada dia. Família que passou por lutas e dissabores. Jesus viveu sob a chefia doméstica de José e debaixo da autoridade de Maria. Jesus aprendeu a dividir, conviver, respeitar e viver em comunidade numa casa cheia de irmãos e irmãs. Nascendo em Belém e vivendo com a família em Nazaré, Jesus honrou a família e deu-lhe a devida importância no plano redentivo de Deus para educar a humanidade no caminho do bem. Reúna o seus familiares, sentem-se num ambiente que os faça recordar que é Natal e contem as muitas bênçãos recebidas e certamente descobrirão que Jesus é a maior.
Nível 3
O resgate do Natal como um caminho para a solidariedade. O Natal nos ensina também o caminho da partilha e da generosidade. Nas figuras solícitas e obedientes de Maria e José. Nas ofertas generosas dos magos. Na alegria dos pastores aprendemos que o Natal nos convoca a uma descentralização “egóica”, ou seja, a saída de uma vida centrada em nosso “eu” para irmos ao encontro de outras pessoas, a abraçar uma missão que nos transcenda, a viver um propósito de vida que faça sentido mais que para nós mesmos, mas também para os outros.
Nível 4
O resgate da celebração litúrgica do Natal na Igreja. Precisamos vencer a tentação de fazer do Natal uma “teatralização.” As cantatas são sempre bonitas e emocionantes, não podem faltar. Os jograis e as encenações infantis também possuem grande importância e não podemos abrir mão delas. Mas, o culto solene, formal, com exposição bíblica é o ponto alto do Natal Cristão. Para chegar a ele com coração íntegro, para oferecer um culto realmente aceitável, aconselho você a valorizar e a viver bem os outros níveis e assim nosso Natal será feliz, por ser o Natal de Jesus, nosso Salvador!
Autor: Luiz Fernando dos Santos já foi monge cisterciense e padre católico. Hoje é pastor-mestre da Igreja Presbiteriana Central de Itapira (SP).
Fonte: Ultimato
--------------