Quando Jesus contou a parábola do trabalhadores da vinha, os ouvintes presentes sabiam que estavam diante de um ensino revolucionário. O raboni de Nazaré, sem dar qualquer explicação aos doutores da lei, alterou completamente a mesma parábola dos trabalhadores que era contada pelos mestres judeus do seu tempo. O jovem galileu estava, diante dos olhares dos grandes rabinos e também de seus discípulos educados no judaísmo palestinense, fazendo algo inimaginável para os padrões religiosos vigentes, escandaloso para ser mais exato.
A parábola dos trabalhadores contada pelos contemporâneos de Jesus, conforme registrado no Talmude, também falava de um trabalhador que foi contratado no fim do último turno (17h), porém trabalhou mais do que todos os outros, e por isso, tornou-se digno de receber o salário integral que havia sido acordado com aqueles que trabalharam o dia todo debaixo do sol escaldante. Com isso, os rabinos estavam querendo dizer que “o balanço final de Deus não se realiza na forma de liberalidade generosa, mas através da exata correspondência entre trabalho e salário”.
Jesus subverteu o ensino. Ele simplesmente não concordava com este pensamento matemático espiritual que tornava Deus uma máquina rígida de calcular; um Deus que pesa em sua balança os atos bons e maus e retribui conforme o merecimento de cada um. Foi por isso que contrapôs esta idéia de causa e efeito em sua parábola, ao não enfatizar o esforço dos últimos trabalhadores. ou melhor, sequer cogitou essa possibilidade do esforço. Ao contrário disso, Jesus coloca na boca dos que aguentaram o sol intenso e a fadiga do dia inteiro, a insatisfação com o salário recebido, pois pensavam que mereciam mais que os preguiçosos que pouco trabalharam - "quando os primeiros vieram, pensaram que receberiam mais" (Mt 20 : 10).
Jesus afirmou categoricamente que o Deus de toda a graça deu à todos exatamente a mesma quantia. Philip Yancey, no ensaio intitulado "A nova matemática da graça" comenta este ensinamento revolucionário dizendo:
"Nós recebemos a graça como um dom de Deus, e não por alguma coisas que tenhamos dado duro para ganhar. No reino da não-graça, alguns trabalhadores merecem mais do que outros; no reino da graça a palavra merecer nem mesmo se utiliza".
Nós recebemos a graça como uma dádiva, e não por alguma coisa que tenhamos dado duro para ganhar e este foi o ponto que Jesus deixou claro na parábola do trabalhador. Sim, esta matemática da graça é escandalosa, fere nosso orgulho religioso e nosso senso de justiça própria. Contudo, quando entendermos que absolutamente ninguém é capaz de satisfazer as exigências de Deus para uma vida perfeita, então poderemos nos prostrar e agradecer o dom imerecido que recebemos, mediante a fé em Cristo, sem qualquer esforço de nossa parte.
Fonte: Daniel Grubba em seu blog
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