Quando alguém se casa, é comum que diga que seus votos valem “…na alegria e na tristeza, na saúde e na pobreza…”. Em outras palavras, os votos devem valer nas horas boas, alegres, quando tudo vai bem; ou na barra pesada, na tristeza, no desemprego, na doença, quando está tudo ruim. Interessante é que em nossa aliança com Deus isso parece que não vale. Para muitos de nós, quando tudo vai bem é festa na igreja, louvores de mãos erguidas, glória e aleluia. Mas quando as circunstâncias da vida desandam, passamos a culpar Deus e nos afastamos dele. Ou murmuramos. Ou agimos como quem não tem fé no Senhor. Qual é, afinal, a postura que o cristão deve ter quando tudo vai mal?
A resposta é: fazer tudo ao contrário do que dá vontade.
Como assim? A proposta do Evangelho é contracultural. É nadar contra a correnteza. É seguir na contramão. Portanto, quando dá vontade de reclamar, a proposta da Cruz é “em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18). Devemos sempre ler a Bíblia com um olho no microscópio, ou seja, atentando para os menores detalhes. No caso, importa reparar na palavra “tudo”. Se é para em “tudo” darmos graças, ou seja, em “tudo” agradecermos, o que Paulo nos ensina é que devemos ser gratos a Deus também quando tudo vai mal.
Estranho, não é? Mas… se pararmos para pensar, o Evangelho é estranho. Deus se fazendo homem? Deus querendo sofrer por quem não merece? Deus perdoando a escória da humanidade? Quem entende? Só que, quando compreendemos que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28), entendemos que, mesmo quando tudo vai mal, esse mesmo tudo está cooperando para o nosso bem. E isso nos desperta gratidão a Deus.
As tribulações também proporcionam benefícios. “Também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5.3,4). Isto é, quando tudo vai mal Deus está fazendo crescer em nós perseverança (fundamental para “perseverar até o fim e ser salvo” – Mt 24.13), experiência (úteis em muitas circunstâncias e para podermos ajudar o próximo) e esperança (essencial para nos manter de pé nas piores horas).
Mas quando tudo vai mal o que é preciso fazer? O segredo Paulo nos diz em sua epístola aos Romanos: “Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Rm 12.12). Ter paciência. E “paciência” é a “capacidade de tolerar contrariedades, dissabores, infelicidades; é o sossego com que se espera uma coisa desejada”. Tolerância. Sossego. Persistência. Paz. Assim, o cristão que tem fé demonstra tolerância com os problemas, permanece sossegado na adversidade, espera com paciência Deus decretar o fim do período de duras provas, sabendo que depois tudo irá bem.
Fazer tudo ao contrário do que dá vontade. Logo, na pobreza devemos doar. Na tristeza, glorificar. No choro, agradecer. No sofrimento, esperar. Na decepção com o próximo, amar. E, em tudo isso, ter uma certeza: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co 4.15-18).
Se Deus permite que tudo vá mal hoje é para que tudo vá bem na eternidade. Por quê? Não faço ideia. O que seu desemprego e as dificuldades financeiras vão gerar de benefícios? Não sei. O que as dores que inundam seu corpo farão de bem por você? Ignoro. O que ser vilipendiado por quem te chamava de “amigo” traz de vantagens? Só o Senhor sabe. O que amargar desamor de quem você menos esperava somará na sua vida? Difícil entender.
Fazemos festas surpresas para quem amamos, damos presentes fora de uma data especial para entes queridos, deixamos inesperados recados em batom no espelho do banheiro para nossos cônjuges. Eles não sabem que serão surpreendidos. Mas nós sabemos. Deus também gosta de nos fazer surpresas. E elas virão na eternidade. Hoje, tudo vai mal. Na vida eterna, a surpresa nos espera: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Co 2.9).
Prepare-se para encarar momentos nada surpreendentes de angústia nesta vida. E prepare-se para ser surpreendido com maravilhas na eternidade.
Fonte: Maurício Zagári em Apenas
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