As atuais instalações da igreja, que ficam ao lado do antigo Quarteto.
Uma sala de culto da Igreja Plenitude de Cristo vai ocupar o edifício onde funcionava o antigo Cinema Quarteto, em Lisboa, que fechou em 2007. As obras estão a decorrer e ainda não há datas para a mudança.
O edifício localizado na Rua Flores do Lima, n.º 16, paralela à Avenida dos Estados Unidos da América, que anteriormente era um local de peregrinação dos apreciadores de cinema, vai garantir, depois das obras de adaptação, a ampliação das instalações da congregação liderada por um pastor brasileiro.
“As duas salas do piso inferior, das quatro que constituíam o conjunto, já foram integralmente destruídas e as suas cadeiras deitadas fora. As salas do piso superior foram unidas, após se ter procedido ao derrube da parede que as separava, e albergarão as cerimônias religiosas”, adianta o site noticioso O Corvo, que avançou a notícia.
Quando contactado pelo PÚBLICO, o responsável pela congregação, que pediu anonimato, não adiantou qualquer informação, referindo apenas que, “de momento, não é possível dar qualquer esclarecimento sobre o assunto devido a ordens de superiores”. Atualmente a sede da sala de culto da Igreja Plenitude de Cristo situa-se no edifício número 14 da mesma Rua Flores de Lima, perto do Quarteto.
O antigo cinema, fundado e gerido por Pedro Bandeira Freire, foi inaugurado a 21 Novembro de 1975 e encerrou a 16 de Novembro de 2007. O espaço esteve, primeiro, para arrendar, mas desde 2008 foi colocado à venda. Este foi o primeiro cinema multiplex do país que ficou conhecido pelo seu slogan: "4 Salas / 4 Filmes."
Foi sobretudo a variedade do seu cartaz, que trazia a Portugal muitos dos filmes que não passavam noutras salas de cinema, que garantiu o seu êxito, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, altura em que se realizavam as famosas maratonas de 24 horas de cinema. As condições não eram as melhores, pois o ar condicionado andava sempre às avessas com a estação do ano e as salas e os ecrãs eram pequenos, mas os incômodos eram ultrapassados pela qualidade da oferta cinéfila.
Nagisa Oshima, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola ou Ridley Scott estão entre os vários realizadores que povoaram o espaço e muitos cinéfilos relembram exibições como A Religiosa (1966), de Jacques Rivette, e a estreia do All That Jazz (1979), de Bob Fosse.
De acordo com informações divulgadas pel’O Corvo, o prédio era propriedade de uma família da região de Tomar. Depois das obras, apenas deverão permanecer as paredes e as cadeiras das salas de cima. As que se encontravam nas salas que existiam na cave tiveram de ser jogadas no lixo, pois estavam completamente estragadas pela umidade. A bomba hidráulica que assegurava a extração da água acumulada nas fundações do edifício – em contato com um lençol freático – estava, há muito, avariada, razão pela qual ambas as salas se viram inundadas, inutilizando o seu recheio.
O cinema Quarteto fechou em 2007 por ordem da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), por não garantir as condições de segurança exigidas por lei. Problemas como a falta de um sistema automático de detecção de incêndios ou a ausência de obras de manutenção do recinto, principalmente ao nível das instalações eléctricas, determinaram o encerramento. A IGAC garantia, na altura, que o fecho duraria “até as anomalias serem corrigidas”, mas isso nunca aconteceu.
Foi o culminar de um declínio que começou muitos anos antes. "Foi quando os 32 distribuidores que existiam passaram a seis e eu deixei de poder escolher os filmes que queria exibir e passei a comprar os americanos que me impunham", desabafava na altura ao Diário de Notícias Pedro Bandeira Freire.
Fonte: Publico
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