quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Igreja evangélica liderada por pastor brasileiro compra imóvel em Lisboa onde funcionava antigo cinema Quarteto fechado desde 2007

As atuais instalações da igreja, que ficam ao lado do antigo Quarteto.

Uma sala de culto da Igreja Plenitude de Cristo vai ocupar o edifício onde funcionava o antigo Cinema Quarteto, em Lisboa, que fechou em 2007. As obras estão a decorrer e ainda não há datas para a mudança.

O edifício localizado na Rua Flores do Lima, n.º 16, paralela à Avenida dos Estados Unidos da América, que anteriormente era um local de peregrinação dos apreciadores de cinema, vai garantir, depois das obras de adaptação, a ampliação das instalações da congregação liderada por um pastor brasileiro.

“As duas salas do piso inferior, das quatro que constituíam o conjunto, já foram integralmente destruídas e as suas cadeiras deitadas fora. As salas do piso superior foram unidas, após se ter procedido ao derrube da parede que as separava, e albergarão as cerimônias religiosas”, adianta o site noticioso O Corvo, que avançou a notícia.

Quando contactado pelo PÚBLICO, o responsável pela congregação, que pediu anonimato, não adiantou qualquer informação, referindo apenas que, “de momento, não é possível dar qualquer esclarecimento sobre o assunto devido a ordens de superiores”. Atualmente a sede da sala de culto da Igreja Plenitude de Cristo situa-se no edifício número 14 da mesma Rua Flores de Lima, perto do Quarteto.

O antigo cinema, fundado e gerido por Pedro Bandeira Freire, foi inaugurado a 21 Novembro de 1975 e encerrou a 16 de Novembro de 2007. O espaço esteve, primeiro, para arrendar, mas desde 2008 foi colocado à venda. Este foi o primeiro cinema multiplex do país que ficou conhecido pelo seu slogan: "4 Salas / 4 Filmes."

Foi sobretudo a variedade do seu cartaz, que trazia a Portugal muitos dos filmes que não passavam noutras salas de cinema, que garantiu o seu êxito, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, altura em que se realizavam as famosas maratonas de 24 horas de cinema. As condições não eram as melhores, pois o ar condicionado andava sempre às avessas com a estação do ano e as salas e os ecrãs eram pequenos, mas os incômodos eram ultrapassados pela qualidade da oferta cinéfila.

Nagisa Oshima, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola ou Ridley Scott estão entre os vários realizadores que povoaram o espaço e muitos cinéfilos relembram exibições como A Religiosa (1966), de Jacques Rivette, e a estreia do All That Jazz (1979), de Bob Fosse.

De acordo com informações divulgadas pel’O Corvo, o prédio era propriedade de uma família da região de Tomar. Depois das obras, apenas deverão permanecer as paredes e as cadeiras das salas de cima. As que se encontravam nas salas que existiam na cave tiveram de ser jogadas no lixo, pois estavam completamente estragadas pela umidade. A bomba hidráulica que assegurava a extração da água acumulada nas fundações do edifício – em contato com um lençol freático – estava, há muito, avariada, razão pela qual ambas as salas se viram inundadas, inutilizando o seu recheio.

O cinema Quarteto fechou em 2007 por ordem da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), por não garantir as condições de segurança exigidas por lei. Problemas como a falta de um sistema automático de detecção de incêndios ou a ausência de obras de manutenção do recinto, principalmente ao nível das instalações eléctricas, determinaram o encerramento. A IGAC garantia, na altura, que o fecho duraria “até as anomalias serem corrigidas”, mas isso nunca aconteceu.

Foi o culminar de um declínio que começou muitos anos antes. "Foi quando os 32 distribuidores que existiam passaram a seis e eu deixei de poder escolher os filmes que queria exibir e passei a comprar os americanos que me impunham", desabafava na altura ao Diário de Notícias Pedro Bandeira Freire.




Fonte: Publico
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