O papa é pop, mas é também rock, axé, sertanejo, forró; assim como o bispo, que se rendeu até ao funk. Levar a palavra de Deus, seja em que credo for, e ainda no embalo de ritmos populares está virando moda no país, especialmente entre bandas e cantores de música cristã. “O que importa não é a batida ou a melodia, mas o que a letra diz. O ritmo musical acaba sendo uma estratégia – ainda mais no nosso caso, que é o funk – para atrair aqueles jovens que estão por aí soltos, se drogando. A mensagem é o que influencia e a nossa música tem como base os ensinamentos de Deus e louvam o Senhor”, salienta Diego Fortes, um dos MCs e idealizadores do Baile Gospel Os Cocadas (que são os cristãos mais animados), que é realizado há quatro anos no Rio de Janeiro e, vez por outra, em outras cidades do Brasil.
A festa chega a reunir 2 mil pessoas e tem boa parte do público formada por adolescentes. Lá não há consumo de álcool e drogas, e não é permitido que casais, mesmo marido e mulher ou namorados, troquem carinhos mais ousados. “O funk já tem essa associação natural com o sexo e a gente pede para os frequentadores maneirarem, para não despertar qualquer estímulo, especialmente na moçada. As pessoas sempre respeitam e entendem nossa posição. Temos uma equipe de 70 irmãos que andam pelo baile com lanternas fiscalizando, e se alguém se beija ou se abraça, a gente brinca que leva luz onde houver trevas. Mas é tudo numa boa”, ressalta Diego.
Além de ser um evento para entreter e promover a comunhão entre a comunidade, à meia-noite, um pastor ou líder da igreja Ministério Libertos para Adorar faz uma pregação. “Aqui toca funk, hip-hop, pagode gospel, mas também tem a hora de ministrar a palavra. Só no último baile, 18 pessoas aceitaram Jesus. O funk, mesmo aqui no mundo cristão, sofre um pouco de preconceito, especialmente por parte das igrejas mais tradicionais. Mas elas têm mudado de opinião e reconhecido que nosso trabalho é sério, que nosso foco é a proclamação da palavra de Deus”, garante Diego Fortes.
Boa parte do público dos shows e de quem compra os CDs e DVDs são religiosos ou praticantes, mas há quem também frequente as apresentações dos artistas gospel só para curtir o som. É o que garante Ollyver Marcelo, produtor da Banda Salvação, grupo evangélico de axé surgido há 12 anos em João Pessoa, na Paraíba. “Temos muitos amigos de bandas que não são gospel que gostam muito do nosso trabalho. E bastante gente que não segue nenhuma religião e acaba curtindo o nosso som e se converte. Aliás, esse é o nosso principal objetivo: converter as pessoas ou fortalecer os laços com Deus”, garante Ollyver.
Quando foi criada em 2000, a Banda Salvação era especializada em pagode, mas acabou descobrindo o axé. O produtor revela que no começo chegou a ser criticado por “pregar” utilizando ritmos pouco convencionais. Entretanto, aos poucos, foram tendo maior aceitação, especialmente entre os jovens. “Tem quem ache que música de louvor e adoração tem que ser tradicional. Mas acho que não tem nada a ver. O Brasil é um país tão rico de ritmos, como o forró, axé, samba e qual o problema de unir o útil aoagradável? Nosso público só vem crescendo e as propostas de shows também”, acrescenta.
UNIVERSITÁRIO
Filhas de pastor, as irmãs capixabas Gislaine e Mylena (foto) resolveram montar uma dupla de gospel sertanejo há 13 anos, reunindo as duas coisas de que mais gostam: a música de raiz e a palavra de Deus. Lançando o quarto disco, elas garantem que não deixam de escutar artistas seculares (sem vínculos com religião) até para incorporar novos elementos ao trabalho. “Somos compositoras também e estudamos música. Então, é preciso conhecer de tudo um pouco, desde Cartola, passando pelo Zezé di Camargo e Luan Santana. Mas a principal inspiração é o nosso cotidiano, a natureza, as lutas diárias e, sobretudo, Deus. A temática é diferente desses artistas”, justifica Gislaine.
A cantora acredita que o fato de o sertanejo estar em alta, especialmente o universitário, tem ajudado na divulgação e no surgimento de representantes desse gênero, independentemente de religião. No entanto, acha que a carreira que segue com a irmã Mylena começa a sobressair por ter algumas particularidades. “Além de o sertanejo viver um bom momento, somos uma dupla feminina e gospel. O Brasil está abraçando o nosso estilo e estamos tendo muito êxito em todos os lugares”, comemora.
Rock e axé católico
Se no meio evangélico o gospel está cada vez mais forte, até pelo próprio crescimento desta religião no Brasil, entre os grupos e artistas católicos a prática vem de longa data. Considerada a primeira banda de axé da Igreja Católica, a mineira Dominus é uma das mais importantes do segmento no país. Já chegou a contar com a participação do padre Fábio de Melo e de Ivete Sangalo em seus discos. “Somos uma banda que há 23 anos atinge a juventude de maneira direta, pois segue um ritmo muito brasileiro, mais especificamente o axé. No começo houve estranhamento por parte da Igreja, mas depois viu-se que era muito bom e atraía o jovem. Na verdade, o preconceito maior é pelo fato de cantarmos música religiosa. Pelo axé não tem problema algum”, afirma o vocalista e um dos fundadores da Dominus, Léo Rabello.
Para o cantor, cada vez mais brotam artistas religiosos no Brasil e este tipo de música vem crescendo comercialmente, o que não deixa de ser uma maneira de disseminar a palavra de Deus entre a juventude. “Quem gosta de um estilo e pode ouvi-lo com mensagens religiosas acaba sendo cativado pela música e consequentemente a mensagem”, defende Rabello.
Outro exemplo de sucesso entre os católicos, surgido na década de 1980, dentro do movimento de Renovação Carismática da Igreja Católica, é a banda paulista Rosa de Saron. Precursores do chamadowhite metal no Brasil ou metal cristão, o grupo de rock já chegou até a receber indicações ao Grammy Latino. E o mais interessante é que o estilo da Rosa de Saron acabou conquistando fãs também em todos os meios, religioso ou não, o que faz com que seja presença frequente em eventos como exposições agropecuárias e festivais.
Fonte: Divirta-se UAI
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