O artigo científico descrevendo o fragmento de papiro apelidado de "Evangelho da Mulher de Jesus" teve sua publicação adiada. O motivo: a revista na qual o estudo deveria sair em janeiro quer ter certeza sobre a autenticidade do polêmico texto.
Escrito em copta (língua nativa do Egito durante o Império Romano) e datado de meados do século 4º, o fragmento mostra Jesus aparentemente utilizando a expressão "minha mulher".
Segundo a responsável pela análise do texto, a historiadora Karen King, da Universidade Harvard, o papiro não indica que Jesus de fato tenha sido casado, mas dá pistas de que, alguns séculos depois de sua morte, certos grupos cristãos acreditavam que ele tivesse tido uma mulher -talvez Maria Madalena.
No entanto, a revista especializada "Harvard Theological Review", que já tinha programado a publicação do artigo de King, disse que vai aguardar o resultado de análises do papiro em laboratório antes de deixar que a análise chegue ao prelo.
A ideia é "incorporar os resultados do teste no artigo", declarou o diretor de comunicação da Escola de Teologia de Harvard, Kit Dodgson, em entrevista ao site "LiveScience.com".
Desde que King divulgou seus achados, uma onda de ceticismo a respeito do conteúdo do papiro se espalhou entre os estudiosos do cristianismo antigo.
Um dos motivos para suspeita é que o dono do fragmento, que prefere permanecer anônimo, teria adquirido o artefato no mercado negro de antiguidades, o que impede que o papiro tenha um contexto arqueológico confiável e bem datado.
Além disso, outros especialistas, embora não duvidem da seriedade e da boa fé de King, dizem ter estranhado o desenho das letras coptas e o uso da tinta no fragmento.
Andrew Bernhard, especialista em copta formado pela Universidade de Oxford (Reino Unido), argumenta que o texto foi forjado a partir de uma versão eletrônica de outro manuscrito copta, o Evangelho de Tomé.
Segundo Bernhard, o "Evangelho da Mulher de Jesus" reproduziria erros e até quebras de linha que só são encontrados nessa versão do Evangelho de Tomé.
Fonte: Folha
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