A cada dez anos, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística faz uma pesquisa populacional e indica os índices que norteiam as avaliações oficiais de nosso país. Um dado relevante no último senso foi o crescimento dos que confessam ser evangélicos entre a população brasileira. Nos dados do censo de 1991, o percentual de evangélicos na população brasileira era de 9%. Logo no ano 2000, cerca de 26,2 milhões de brasileiros se declarava evangélico, quantidade correspondente a 15,4% da população. Portanto, o IBGE constatou no último senso que os evangélicos comparados com o censo feito em 2000, tiveram o crescimento de 61,45% nos últimos dez anos. Como foi detectada, no ano de 2010, a quantidade de brasileiros que se identificaram como evangélicos saltou para 42,3 milhões, ou 22,2% da população brasileira. Diante desse crescimento impressionante e se manter esse ritmo, acredita-se na possibilidade do Brasil se tornar um país predominantemente evangélico.
Mas estamos preparados para sermos um país com sua maioria evangélica, tudo sendo ditado pelas convicções formatadas nos púlpitos, por uma política dominada pela ética, apresentada nas diversas formas de ser igreja, distribuída por esse Brasil que é de dimensões gigantescas, portanto muito diverso em si mesmo? Nunca se ouviu tanto falar em opinião evangélica nas televisões brasileiras, nos programas de entrevista dos canais abertos. A política brasileira nunca foi tão interessante para os evangélicos como nos últimos dias, pelo espaço político que esse grupo tem usufruído em nosso país. Apesar disso, os motivos dessa manifestação evangélica, na política brasileira, são pelos motivos corretos?
Contudo, o que fascina qualquer observador religioso são as possibilidades que esse meio insinua com seu crescimento. Para compreendermos melhor as consequências, vamos buscar a origem dos evangélicos em nossa terra. Os católicos eram praticamente cem por cento, da população em nosso país, após a catequização pelos jesuítas. Os evangélicos iniciaram no Brasil com a chegada de comunidades étnicas: com as igrejas luteranas para atender as comunidades alemãs, as anglicanas para atender a comunidade inglesa e outras igrejas para atender as comunidades migrantes de países distantes no século XIX. O projeto missionário que seria converter a comunidade Católica a partir do “proselitismo” se iniciou com igrejas oriundas de movimentos missionários da América do Norte no final do século XIX. Com a abertura desse caminho iniciou-se no Brasil o movimento pentecostal, com a Igreja Congregação Cristã no Brasil (Igreja do Véu) e a Igreja Assembleia de Deus; essa última se tornou a partir da década de cinquenta a maior denominação pentecostal do mundo. Logo, nos anos setenta, iniciou-se no Brasil um movimento conhecido como movimento neopentecostal, pelas igrejas midiáticas como a IURD – Igreja Universal do Reino de Deus, e outras, que trouxe para o Brasil a teologia da prosperidade (discurso de vender fantasias para pessoas que vivem nos pesadelos da vida social brasileira). Esse último movimento ensinou o modelo de prosperidade, a partir do seu exemplo de enriquecimento. Essas igrejas fizeram crescer os índices da população que assumiam ser evangélicos, em cima de campanhas mirabolantes e espetaculares, convencendo até o mais coerente e ambicioso dos homens e mulheres a doar seus bens a uma igreja, em nome de um Deus que abençoa a partir da demonstração de fé.
Assim sendo, muitos dos que migraram de outras igrejas para essas denominações, até mesmo de igrejas evangélicas se frustraram por não receber as bênçãos prometidas em campanhas. Algumas dessas denominações até tiveram problemas com a Justiça brasileira e foram por decisões judiciais orientadas a ressarcir aos fiéis que ainda confiaram na justiça humana. Nos últimos anos, após esse movimento neopentecostal, tem se visto outro grupo de evangélicos se destacando na sociedade brasileira, que por sinal tem se tornado cada dia mais individualista. Parece-me que esse fenômeno do individualismo tem sido a força motor para algumas igrejas criarem modelos de denominações as quais atendem aos anseios de parte de nossa população que não está se dando bem com a “solidão na coletividade”, pois, a competitividade em todas as áreas, tem transformado nossa população, em buscadoras de suas ambições individualmente.
Parece-me que a onda do momento é a proposta de igreja em células, que como a exemplo da teologia da prosperidade, as igrejas tradicionais e pentecostais clássicas estão aderindo. Esse modelo de igreja tem recebido vários nomes desde que chegou ao Brasil: G12, células, grupos familiares, núcleos pastorais e outros. Para compreender melhor esse modelo de igreja, o crescimento se justifica pela formação de líderes com a “visão”, em intensos treinamentos institucionais, sendo preparados para multiplicar os pequenos grupos e o líder ocupar uma posição de destaque na pirâmide do poder.
Com o método de crescimento, anunciados como eficaz, e sua habilidade em aproveitar a mídia, essas igrejas têm vendido esses modelos para outras denominações, que buscam o crescimento rápido para suas congregações. Assim sendo, as igrejas em questão têm produzido literaturas, palestras motivacionais, treinamentos, dinâmicas de crescimento, mensagens voltadas para o fortalecimento dessa visão. Com toda essa visão empreendedora e de aparente sucesso, algumas das igrejas evangélicas, que perderam a identidade e a visão cristã de ser igreja, têm se convertido a esses projetos que ainda, não se deu o tempo necessário de crescimento para avaliação de sua real eficiência e das consequências dessa modalidade religiosa evangélica.
Autor: Sérgio Batista, teólogo, cientista da religião e superintendente de comunicação da igreja Assembleia de Deus Ministério Fama
Fonte: Diário da Manhã
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