Obra sobre incêndio na boate Kiss sugere que pode haver sexo no paraíso.
Autor não quis se manifestar 'por enquanto', pois já disse o que tinha a dizer.
A polêmica do livro "Kiss – Uma Porta para o Céu", escrito pelo padre Lauro Trevisan sobre o incêndio que causou 241 mortes em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, prossegue. Depois de levar o autor a suprimir trechos da obra em uma nova edição e dar explicações à polícia, familiares de vítimas se revoltaram com outras partes da publicação, que sugere que há "sexo no céu".
Segundo a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), vários pais deverão entrar na Justiça com ações separadas, pedindo indenização.
"Cada um se danificou conforme sua natureza, então cada um que se sentiu prejudicado que entre com uma ação. A associação não pode ingressar na Justiça, mas muitos pais comentaram que farão isso. Nossa parte é coletiva, de ajudar o pai em geral", disse ao G1 o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira.
O trecho lido por Adherbal, na página 44, diz o seguinte: "No céu há abundância conforme desejos individuais. Há muita alegria, música inesquecível e muito amor nos corações. Haverá sexo por lá? Se você achar bom e tiver vontade, haverá". Na página seguinte, outra frase irritou o presidente da entidade: "Pode haver muitas boates no céu, mas boates Kiss, nenhuma".
Para o pai de uma das vítimas, os trechos são "absurdos". "Este tipo de coisa não se fala. Ele está dizendo que o céu é uma zona, uma bagunça", contestou. Por meio de sua assessoria de imprensa, Trevisan declarou que "por enquanto" não se manifestará sobre o assunto, pois já disse tudo o que tinha a dizer em diversas entrevistas que concedeu à imprensa.
Trechos suprimidos
Lançada na última semana, a primeira edição do livro, com 2 mil exemplares, se esgotou. Segundo a Editora da Mente, não há mais cópias à venda na Livraria da Mente, em Santa Maria, da qual o padre Trevisan também é sócio-proprietário. A editora diz que não tem como controlar as obras que já foram distribuídas pelo país. A segunda tiragem do livro, vendido a R$ 20, também tem 2 mil exemplares.
Dois trechos foram suprimidos. Um deles, na página cinco da edição antiga, dizia que duas pessoas estavam vivas dentro do caminhão frigorífico que levava os corpos das vítimas para serem reconhecidos no dia da tragédia. "No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes”, diz o trecho do texto em questão.
Na página 11, o uso do verbo "agonizar" no trecho "Por que foram ceifados pela morte, sem dó nem piedade, aqueles que se dedicaram, num imenso gesto heroico de solidariedade, a salvar os que agonizavam em meio à fumaça funérea?!" foi visto como ofensivo.
Autor de mais de 70 livros e figura conhecida na cidade, Lauro Trevisan diz que seu objetivo com a obra era oferecer "conforto aos familiares", "erguer o ânimo de Santa Maria" e "oferecer uma lição de humanidade". Ele esclarece que trata-se de uma obra ficcional, de autoajuda, e não uma reportagem ou documentário com o relato fidedigno dos fatos.
Fonte: G1
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