Pastores da Igreja Maranata estão movendo dezesseis ações por danos morais contra os jornais A Gazeta e Notícia Agora, da Rede Gazeta, que publicaram reportagens sobre as investigações de desvio de dinheiro do dízimo doado por fiéis. Nos processos, eles questionam o conteúdo das matérias e demonstraram se sentir ofendidos. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) denunciou como manobra intimidatória o ingresso simultâneo das ações. Já a Igreja Cristã Maranata informou que não teve influência sobre decisão pessoal dos 16 pastores.
Pastores da Igreja Cristã Maranata são investigados pelo Ministério Público do Espírito Santo desde março de 2012, por crimes como estelionato, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, falsidade ideológica e desvio de dinheiro público. Quatro pastores foram presos em março, apontados como agentes intelectuais que estariam interferindo no curso de investigações, ameaçando e intimidando testemunhas e até membros do Ministério Público e do Judiciário, mas foram soltos no fim do mesmo mês.
Todos os processos foram ajuizados no último dia 21 de fevereiro, assinadas pelo mesmo advogado e em comarcas de quatro municípios em Minas Gerais: Belo Horizonte, Contagem, Betim e Divinópolis, cidades distantes da sede da Rede Gazeta, localizada em Vitória, Espírito Santo. Dessa forma, os advogados que farão a defesa da empresa serão forçados a deslocar-se para outro estado.
De acordo com o advogado da Rede Gazeta Pablyto Robert, os processos possuem os mesmos textos e foram distribuídos quatro processos para cada cidade mineira, o que levantou suspeitas. "É bom deixar claro que não é a instituição Maranata que está com as ações, são 16 pastores do estado de Minas Gerais, mas há nítida coordenação, alguém está encabeçando esse grupo e é o que a gente vai buscar descobrir", explicou.
Além da Rede Gazeta, outras pessoas foram alvo de ameaças e processos, como os promotores do Grupo de Atuação e combate ao Crime Organizado (Gaeco), que conduzem as investigações. Eles foram denunciados até no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Tentativa de intimidação
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou uma nota que denuncia uma tentativa de intimidação por parte dos pastores, mas explicando que "reconhece o direito de todo cidadão de recorrer à Justiça em defesa de seus direitos, inclusive os de natureza moral". Acrescentou que "no caso, entretanto, é evidente que as ações representam uma tentativa de influenciar o Poder Judiciário contra a liberdade de imprensa, ameaçar o livre exercício do jornalismo e privar o cidadão do direito de ser informado.
Nessas circunstâncias, a ANJ manifesta a certeza de que o Poder Judiciário novamente rejeitará esse ardil, cujo único objetivo é dissimular práticas ilícitas e tolher o exercício da liberdade dos brasileiros de informar e serem informados."
Igreja Maranata
O interventor da Igreja Maranata, indicado pela Justiça do Espírito Santo, coronel aposentado e pastor Julio Cezar Costa, esclareceu que a atitude não foi tomada pela Igreja, partiu de uma vontade pessoal dos pastores. Ele ainda afirmou não saber quem são os membros da instituição que tomaram a iniciativa das ações.
"A Igreja Cristã Maranata, como instituição de fé, não promoveu nenhum ajuizamento judicial contra a Rede Gazeta, não sendo, portanto, a nota da ANJ dirigida contra uma atitude da Igreja, que se mantém idônea e propagadora da fé cristã, sem nenhum tipo de juízo de valor sobre atitudes tomadas por membros que a ela pertencem. A Igreja Cristã Maranata não tem nenhum fato que possa desmerecer a atuação da imprensa livre e responsável no país, e quando ela se julgar, caso julgue algum dia, ofendida por um veículo ou uma matéria, poderá ou não recorrer aos dispositivos constitucionais disponíveis neste país", disse.
O interventor também ressaltou que é a favor da imprensa livre. "Somos pela liberdade de imprensa, democracia, mas também desejamos que a instituição não seja confundida em seu todo com atitude de alguns que a ela possam pertencer. Deixamos bem claro também que não exerceremos qualquer juízo de valor sobre a atitude legal promovida pelos pastores que se sentiram ofendidos pela suposta violação por parte do jornalismo da Rede Gazeta, de símbolos sagrados para o cristianismo, tal qual a Bíblia", disse.
Fonte: G1
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