“Os bispos espanhóis podem se sentir orgulhosos pelo que conseguiram. O que chama a atenção é que, utilizando esse procedimento, que consiste em “rebaixar o Evangelho” a simples disciplina curricular, o que até agora se conseguiu foi uma juventude que, na uma quase totalidade, não quer saber nada de bispos, nem de Igreja, nem de religião, nem possivelmente de Deus”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo em artigo publicado no seu blog Teologia sin Censura, 18-05-2013. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Os bispos espanhóis obtiveram um “êxito” apostólico (!?) que não é fácil interpretar e mais difícil ainda explicar. A disciplina de religião, no currículo escolar, será uma disciplina avaliada com nota, como se faz com qualquer outra disciplina, a matemática, por exemplo. Pobre Religião! A que ficou reduzido o Evangelho! Evidentemente, assim os bispos ficam tranquilos. E têm a segurança de que quem não aprende religião, será reprovado. Para ter que se ver com Deus e com sua consciência? Não. Com o professor, em setembro.
Os bispos espanhóis podem se sentir orgulhosos pelo que conseguiram. O que chama a atenção é que, utilizando esse procedimento, que consiste em “rebaixar o Evangelho” a simples disciplina curricular, o que até agora se conseguiu foi uma juventude que, na uma quase totalidade, não quer saber nada de bispos, nem de Igreja, nem de religião, nem possivelmente de Deus.
Pois bem, sendo assim as coisas, o notável é que, em vez de se perguntar se o que os professores ensinam é o que ensinava Jesus, o que ensinou a Igreja dos primórdios que evangelizou por todo o mundo, e isso deveria ser ensinado na disciplina que nosso ministro da Educação e Ciência vai impor como aprendizagem obrigatória.
Não se deram conta de que sua missão é, sobretudo, transmitir o Evangelho. Foi o que fez Jesus, segundo consta nos Evangelhos. E, de acordo com o que eles relatam, Jesus não reprovou ninguém, nem os pagãos, nem os samaritanos, nem os pecadores, nem os publicanos, nem as prostitutas. Porque Jesus viu que o Evangelho não se ensina reprovando os maus alunos, mas mediante a bondade com todos. Isso cabe em um currículo escolar? Não, evidentemente.
Falando com sinceridade, a impressão que se tem é que o que os bispos são incapazes de ensinar com sua vida exemplar e evangélica, o que os cristãos não transmitimos às novas gerações, se deve impor mediante ameaças de reprovação na escola. E assim ficamos tranquilos.
Não, por favor. Não nos enganemos. Nem enganemos as pessoas. Já sei que os bispos não fazem isso por desejo de enganar. O fato é que, se a coisa é pensada com calma, a gente se dá conta de que o problema não está nos bispos. O problema está na teologia que sustenta e fundamenta um procedimento que serve para degradar o Evangelho (e a Revelação de Deus) a uma disciplina a mais. Uma a mais. Nada mais, nada menos. Foi para isso que Deus se fez homem?
Os Evangelhos não deveriam ter sido escritos pelos evangelistas. Deveriam ter sido escritos por cientistas, historiadores, sociólogos... Então, possivelmente, a decisão dos bispos faria sentido. Sem desmerecer os cientistas, nem os historiadores, nem os sociólogos, nem ninguém...
O fato é que o Evangelho de Jesus é outra questão, que coloca outros problemas e se ensina mediante outros procedimentos. Mas isso é mais duro e mais exigente do que conseguir do Governo um decreto imposto por lei. Sobretudo, se é o próprio Governo, ou seja, todos os cidadãos, que paga os professores dessa bendita disciplina. Não é fácil incorrer em tantos despropósitos em uma só decisão.
Fonte: Instituto Humanistas Unisinos
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