Que decepção. Como é difícil ter que admitir que confiamos na pessoa errada. Ninguém gosta de reconhecer que foi enganado, passado para trás. E o pior é quando passamos a desconfiar de todos à nossa volta, temendo ser ludibriados mais de uma vez.
Ezequias, rei de Judá, tinha dois mordomos, Sebna e Eliaquim.
O nome “Sebna” significa “jovem”, “vigoroso”, alguém auto-confiante, quase auto-suficiente.
Já “Eliaquim” significa “Quem Deus levanta, estabelece e sustenta”. Sempre que seu nome aparece nas Escrituras, encontramos o nome de seu pai Hilquias, que significa “Minha porção é o Senhor”.
O cargo de mordomo do Rei, deveria ser ocupado por alguém de total confiança. Alguém que jamais se atreveria a roubar bem algum de seu senhor. Ninguém melhor do que alguém que tivesse o caráter de Hilquias, que não enchesse os olhos com nada que o rei possuísse. Alguém capaz de dizer “Minha porção é o Senhor”.
Paulo diz que “requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co.4:1). Um mordomo fiel é aquele que coloca os interesses de seu senhor acima dos seus, que zela pelos bens de seu amo, como se fossem seus.
Sebna é o servo infiel, reprovado pelo seu senhor. Já Eliaquim é o servo fiel, aquele a quem o rei pode confiar as chaves de todos cômodos do palácio.
Em Isaías 22:15-19 lemos uma séria advertência que Deus faz ao mordomo Sebna:
“Assim diz o Senhor Deus dos Exércitos: Anda, vai ter com este administrador, Sebna, o mordomo, e dize-lhe: O que é que fazes aqui, e quem te deu permissão para que cavasses aqui uma sepultura? Cavando em lugar alto a tua sepultura, cinzelando na rocha morada para ti mesmo! Cuidado! O Senhor te arrojará violentamente, ó homem forte, e seguramente te agarrará. Ele te enrolará como uma bola, e te atirará em um país espaçoso. Ali morrerás, e ali permanecerão os carros da tua glória, ó tu, opróbrio da casa do teu senhor. Demitir-te-ei do teu posto, e te arrancarei da tua posição”.
A preocupação de Sebna era garantir seu futuro, construir uma morada para si mesmo. Mal sabia que estava cavando sua própria sepultura. Todos os carros e riquezas que ele havia acumulado de nada serviriam quando o juízo de Deus o acometesse.
Ironicamente, Deus o chama de “homem forte”, que é um dos significados de seu nome. Ele seria transformado em uma bola, rolando despenhadeiro abaixo.
Em contraste, o Senhor diz acerca de Eliaquim:
“Naquele dia chamarei meu servo Eliaquim, filho de Hilquias, e revesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto, e entregarei nas suas mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá. Porei a chave de Davi sobre o seu ombro, e ele abrirá, e ninguém fechará, e fechará, e ninguém abrirá. Fincá-lo-ei como um prego num lugar firme; como um trono de honra ele será para a casa de seu pai. Nele será pendurada toda a glória da casa de seu pai; os renovos e os descendentes, todos os vasos menores, desde as taças até os jarros” (Isaías 22:20-24).
“Eliaquim, filho de Hilquias”, isto é, “aquele que Deus sustenta” é fruto de uma consciência que diz “minha porção é o Senhor”.
O Senhor promete lhe dar uma túnica, um cinto e uma chave, ambos são símbolos de sua autoridade. A túnica aponta para autoridade profética. Os profetas comumente usavam uma túnica, que os identificava entre a multidão. O cinto aponta para o ofício sacerdotal. E a chave representa a autoridade de rei.
A figura de Eliaquim representa o próprio Cristo. É Ele “o que tem a chave de Davi. O que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap.3:7).Ele recebe o domínio, e se levanta como “pai para os moradores de Jerusalém”. Ele é quem cuida de todos os vasos menores, desde as taças até os jarros.
Toda a glória da casa de Seu Pai foi pendurada n’Ele. Ele é um trono de honra para a casa de Seu Pai. Não resta dúvida de que esse texto fale de Cristo. Ele tem a chave mestra do palácio real. Ele tem acesso a todas as riquezas do Pai, e as revela a quem quiser. Ele declarou: “Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Lucas 10:22) Se Ele abre uma porta, não há quem consiga fechá-la. Mas se Ele fecha, ninguém consegue arrombá-la. O que há nos cômodos do Palácio do Rei dos reis?
“Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios” (Salmos 122:7)
Uma paz que excede o entendimento humano, e que o mundo não pode dar. Uma prosperidade que vai além das posses materiais.
Paulo também nos revela o que há por trás das portas do palácio real:
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele e para ele são todas as coisas. Glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm.11:33-36).
Como ter acesso a tudo isso? Como desfrutar de tamanho tesouro de conhecimento e sabedoria? Cristo tem a chave de Davi! Ou ainda: Cristo é a Chave! É n’Ele que “estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl.2:3).
E por que o Pai Lhe confiou a chave mestra do Reino?
Porque “Sua porção era o Senhor”. Ele mesmo disse em oração ao Pai: “Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu” (Jo.17:10). Ele era “filho de Hilquias”!
Ele era Eliaquim, aquele que o Pai sustenta. Ele disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” (Jo.4:34). Ele não Se preocupava em acumular bens terrenos, nem com fama ou reconhecimento. Ele tinha um cronograma a seguir. Cumprir Sua missão era a Sua prioridade absoluta. Por isso, o Pai Lhe confiou as chaves do Reino. E o melhor de tudo, é que Ele Se dispõe a compartilhar estas chaves com o Seu povo.
As palavras ditas a Pedro, também se aplicam a cada um de nós:
“E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16:19).
É o fato de ter as chaves do Reino, que nos confere autoridade para ligar e desligar, isto é, trancar e destrancar. Portanto, as chaves do Reino não foram confiadas a Pedro, como defende a teologia católica, mas à todo povo de Deus.
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus” (Mateus 18:18-19).
Não precisamos reivindicar nada. Nossa relação com Deus não é sindical, mas filial. Não temos que decretar, ordenar, mas tão-somente pedir, e concordar com os pedidos uns dos outros.
Temos a senha que abre todos os tesouros dos céus. E a senha é o nome de Jesus. É Ele quem garante: “E farei tudo o que pedirdes em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo.14:13). Mas para que desfrutemos de pleno acesso aos tesouros celestiais, temos que manifestar o caráter de Eliaquim, e não de Sebna. Ele tem que ser nossa porção! Ele tem que ser aquele que nos sustenta com Sua Palavra.
“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João 15:7).
Fonte: Hermes C. Fernandes em seu blog
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