“Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação.” (Mário Quintana)
Se vê de modo profundo, quando somos capazes de olhar a outrem e as coisas sem as amarras dos condicionamentos sociais, que tanto afastam os homens de seus semelhantes e de sua real identidade.
A construção social do olhar afeta diretamente o ser, o sujeito. Não se vê apenas com os olhos, mas com o tato, a audição, o sentir, a emoção! A leitura de si, do outro e do mundo é feita com maior profundidade quando intermediada pelos sentidos. Quando falta ao sujeito a capacidade ocular, ele aprende a ver além dos estereótipos sociais, pois vê com a emoção, a alma.
O que falta ao olhar, sobra à imaginação. O ver o invisível é olhar através da imaginação. A imaginação é um modo de construir a realidade. É fuga... é centro... é chegada. Parece que em certas ocasiões não se vê com os olhos físicos, mas com os da imaginação. A imaginação constrói a realidade por meio dos referenciais dos sentidos.
As imagens são sombras que inibem o olhar atento e profundo, uma vez que não se propõem a comunicar, mas a vender; não quer construir a história, mas esgotá-la na frivolidade do consumo.
São os excessos de imagens que impedem o indivíduo de ver e apreender as histórias que se configuram perdidas na relação com o outro.
O olhar atento e perspicaz, como afirma Baudelaire a respeito do homem moderno, “extrai o eterno do transitório, liberta o poético do histórico”.
O olhar é uma forma de construir a realidade e o mundo. O fotógrafo e o cineasta veem e constroem a realidade de modo distinto, mas complementar. O primeiro registra, congela e paralisa a realidade através de sua lente, que aprisiona um recorte da realidade. O segundo impõe movimento e interpretação à realidade, que está sempre em processo de mutação e, portanto, é impossível cercear.
Não se vê corretamente enquanto o olhar não for carregado e construído pela emoção. As emoções são construct da realidade e percepção visual.
O ver é um modo de contemplar a realidade através da visão da alma, do interior. A visão interior é considerada superior à visão ocular, pois através dela não apenas se vê, mas também se escuta.
Escutar é ver com profundidade..., é ver com a alma, porque se enxerga além do invólucro subjetivo das aparências fugidias. Às vezes, a visão atrapalha o olhar atento. É assim que os indivíduos privados de sua visão veem com o tato, com o toque, com a aproximação, com o cheiro, com a mente. As imagens constituem-se figuras criadas pelo verbo: pela essência daquilo que são em vez daquilo que se apresentam.
Certa vez Molière disse que "deveríamos olhar demoradamente para nós próprios antes de pensarmos em julgar os outros".
Fonte: Teologia e Graça
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