quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O grande pregador Youssef Akiva e a sua história dos três anjos mendigos

Por Cristiano Santana

O meu radar localizador de "exejegues" detectou mais uma interpretação equivocada da Palavra de Deus. Trata-se da mensagem "O Tribunal de Abraão", pregada por Youssef Akiva, o judeu cearense, nos Gideões Missionários da Última Hora - 2010. Para quem dispõe de pouco tempo, basta ouvir apenas os dois primeiros minutos do vídeo.



Já no começo do vídeo, é possível perceber que ele está se referindo ao capítulo 18 de Gênesis, no qual Abraão recebe três anjos. Para os meu espanto, o sábio Akiva diz que os seres angelicais se apresentaram, no calor do dia, como mendigos! O fato de Abraão ter acolhido os mendigos (anjos) teria sido a demonstração de uma atitude grandiosa, magnânima. Mas será que essa interpretação se sustenta?

As raízes culturais da hospitalidade de Abraão

Analisando o episódio culturalmente, a postura do patriarca não enseja supresa alguma. Esta é a típica hospitalidade beduína, tanto a antiga como a moderna. Apenas o melhor é oferecido ao hóspede. Em algumas regiões ainda permanece o costume beduíno do hospedeiro permanecer em pé enquanto os visitantes tomam a refeição. Segundo o costume oriental, quem convida serve, e não come.

O motivo de Abraão ter se prostrado diante dos anjos

"Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra..." (Genesis 18:2)

Não me darei ao trabalho de explicar porque Abraão se prostrou. Basta apresentar trechos dois célebres comentários bíblicos sobre a passagem em referência:

"Prostrar-se como sinal de respeito a um homem ou Deus. A atitude varia de uma ligeira inclinação do corpo até uma inteira prostração com a cabeça tocando o chão" - Albert Barnes Notes on the Bible

"Quando o visitante é uma pessoa comum, o anfitrião simplesmente se levanta; mas se é de um nível superior, o costume é dirigir-se ao estranho, e depois de se curvar, levá-lo para a sua tenda, colocando o braço ao redor de sua cintura, ou batendo no seu ombro enquanto caminham, para garantir que ele é bem-vindo" - Jamieson Brown and Fausset Commentary

A pergunta que surge então é esta: teria Abraão se prostrado daquela forma se fossem três mendigos? Creio que não. Os mendigos é que teriam de se prostrar diante dele.

O motivo de Abraão ter chamado o anjo principal de "meu Senhor"

"e disse: Meu Senhor (Adonai), se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo" (18:3)


Digno de nota é a ocorrência da palavra "Adonai" que normalmente se refere a uns dos títulos bíblicos de Deus, isto é, "Senhor". Não confundir com JEOVÁ que é traduzido em nossas bíblias como SENHOR (todas as letras em caixa alta). É claro que alguém pode argumentar que nesse versículo "Adonai" não tinha a função de explicitar a natureza divina do anjo principal ( de acordo com Hebreus 13:2). De qualquer maneira, o texto denota que Abraão o considerava superior, o que nos leva a descartar completamente a hipótese de sua aparência ter sido a de um mendigo, vestido de trapos.

O reconhecimento da superioridade dos anjos, por parte de Abraão, também é corroborada pelos seguintes comentários:

"Percebendo que um deles era o Senhor (isto é, Deus), ele se prostou reverentemente diante dele, e pediu que o anjo não passasse dele, mas que permitisse que ele os tratasse como seus hóspedes." - Keil and Delitzch Commentary of the Old Testament

"Falando com um deles que parecia ser o mais majestoso, pois ele pensava que eram homens." - Comentário Geneva

Conclusão: Fica evidente que o Youssef Akiva "viajou" nesse interpretação, não sei se por ignorância, ou deliberadamente (acredito na segunda hipótese). Poderíamos usar tão somente a lógica para rejeitar a estória dos anjos mendigos. Ora, sabemos que o anjo principal era o próprio Deus, numa manifestação teofânica. Ele é chamado de JEOVÁ (SENHOR), e fala como JEOVÁ (Gen. 18, 17-22). No versículo 22 é dito que Abraão "ficou ainda em pé diante da face do SENHOR (anjo)", enquanto os outros dois se dirigiram às cidades de Sodoma e Gomorra, para destruí-las. Como é que o próprio Deus iria aparecer a Abraão vestido de mendigo? Com que propósito Deus se disfarçaria com trajes andrajosos? Só a mente fértil do "rabi" Akiva para inventar essa treta.

Fonte: Blog do Cristiano Santana
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