domingo, 10 de outubro de 2010

Vídeo do Pr. Paschoal Piragine Jr alertou os cristão contra o PT no 1º Turno

Um vídeo no YouTube que ajudou a levar a eleição presidencial para o segundo turno começa com Paschoal Piragine declarando solenemente aos seus fiéis: "Em 30 anos como pastor, nunca fiz isso antes."

Ele então alerta que o PT quer não só legalizar o aborto como também facilitar o divórcio, permitir a difusão da pornografia e continuar a permitir que tribos amazônicas enterrem vivas "milhares de crianças".

O vídeo, que inclui imagens perturbadoras e foi visto quase 3 milhões de vezes, termina com o pregador batista dizendo aos seus seguidores para não votar no PT nestas eleições. "Do contrário, Deus irá julgar nossa terra", diz o pastor.

A hesitação de última hora entre muitos católicos e evangélicos provavelmente custou a Dilma Rousseff a vitória no primeiro turno da eleição, no domingo passado, indicam as pesquisas.

O resultado não deve privar Dilma da vitória no segundo turno, no dia 31, contra José Serra, do PSDB. Mas a ex-guerrilheira marxista, divorciada, que em entrevistas no passado disse "se equilibrar" quanto à existência ou não de Deus e se manifestado a favor da legalização do aborto, terá de enfrentar um escrutínio cada vez mais intenso por parte do poderoso bloco dos eleitores com "valores morais", que podem se tornar uma importante fonte de oposição caso ela seja eleita.

Posicionamento do Pr.Piragine Jr sobre as eleições 2010. "Simplesmente não acredito nela, e não acho que um dia vá acreditar", disse por telefone o pastor Piragine à Reuters. "Há muitos de nós que vamos continuar nos opondo à sua agenda se ela for presidente."

Dilma pode vir a enfrentar uma resistência de cunho religioso, ligada ou não a partidos, da mesma forma como os presidentes do Partido Democrata sofrem nos EUA desde a década de 1990.

O aborto é ilegal no Brasil, exceto em caso de estupro ou risco para a mãe, mas na prática é facilmente acessível para quem puder pagar clínicas que mal disfarçam sua especialidade.

A descriminalização, no entanto, é um assunto tabu entre políticos, e a maior ênfase nas questões morais nesta eleição coincide com a ascensão do cristianismo evangélico, já praticado por quase 20 por cento dos brasileiros.

Dilma e o PT "não têm uma linha de pensamento que seja consistente com a comunidade cristã", disse o bispo católico de Guarulhos, na Grande São Paulo, Luis Gonzaga Bergonzini, que também tem pregado contra Dilma.

"As pessoas que são bem informadas, que entendem o que ela tem dito, afirmam que são contra ela e que vão continuar se opondo a leis que vão contra nossas crenças," afirmou ele à Reuters. "Não são só os evangélicos - nós também."

EVANGÉLICOS PROCURAM UMA VOZ

Dilma passou toda a semana tentando convencer o eleitorado de que não vai alterar as leis sobre aborto.

Em entrevista coletiva após o primeiro turno, ela também agradeceu a Deus em três momentos pelos 47 por cento de votos que obteve.

Serra, que como ministro da Saúde na década de 1990 irritou a Igreja Católica ao promover o uso de preservativos como parte do aclamado programa de prevenção à Aids no Brasil, também é visto com suspeita por muitos membros da comunidade religiosa.
Questionado sobre o candidato tucano, o bispo Bergonzini fez uma longa pausa, suspirou e disse que se trata de "um risco menor".

Essa imagem deve limitar a capacidade de Serra de galvanizar o eleitorado religioso no segundo turno, que no domingo passado aparentemente se concentrou na candidatura de Marina Silva, do PV, que teve quase 20 milhões de votos.

Por enquanto, não há políticos de grande expressão que encarnem os desejos do eleitorado religioso, o que ajuda a explicar por que um partido outrora inexpressivo como o PV, que era mais conhecido por defender o meio ambiente e a legalização da maconha, conseguiu um resultado tão bom.

Isso pode mudar, porém, com a ascensão de uma geração mais jovem de políticos religiosos no PSDB e em outros partidos.

TRANSFERÊNCIA DE VOTOS

Durante as próximas três semanas, Dilma provavelmente irá enfrentar essa polêmica do mesmo modo como enfrentou outras na campanha -recorrendo ao apoio e à imensa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas, com a ida para o segundo turno, voltaram a surgir dúvidas sobre a capacidade de Lula de transferir votos para sua candidata. O próprio presidente foi alvo de incertezas sobre sua religiosidade no começo da carreira política, quando era visto como um radical, mas atualmente cita com frequência Deus em seus discursos -além de ser um mestre em superar polêmicas.

Dilma, que disputa sua primeira eleição, não tem a mesma capacidade. Ela se descreve católica, mas numa entrevista em 2007, quando questionada sobre a existência de Deus, respondeu: "Será que há ou não há? Eu me equilibro nessa questão."

A entrevista agora serve de base para vários vídeos na Internet que misturam declarações anteriores com outras afirmações falsas ou exageradas, que Dilma chama de "mentiras e calúnias".



Piragine, o pastor do vídeo no YouTube, disse ser partidário da liberdade de religião, e que "não importa (...) se ela é ou não agnóstica".

"Mas não posso apoiar uma pessoa que não mantém sua palavra. Olha como ela se contradisse na questão do aborto, dizendo nesta semana que de repente é contra. Ela acha que não estamos prestando atenção?"

"As coisas estão mudando por aqui", conclui. "E não vamos desparecer."


Fonte: Reuters
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