segunda-feira, 28 de março de 2011

Pastores com salários imorais

Não pretendo aqui defender o óbvio: Pastores que vivem de tempo integral para a suas igrejas necessitam dos cuidados dela. Acho um absurdo tais homens passarem dificuldades, e haver nas igrejas verdadeiros mãos-de-vaca, que preferem ver seu pastor atendendo o rebanho e à disposição da igreja vinte e quatro horas por dia com carros caindo em pedaços, roupas remendadas e dentes comprometidos. O trabalhador é digno de seu salário, e o trabalhar para o Senhor Deus é o mais digno dos trabalhos.

Todavia, o outro extremo me doi o coração. Porque a igreja é rica, o pastor titular (ou presidente) precisa receber salários imorais. Quando um salário é imoral? Não quando se tem dinheiro apenas para pagar um pastor, pois há igrejas pequenas que podem pagar um apenas. Mas se torna imoral quando impede que outro pastor venha a servir a igreja, ou quando impossibilita que um ou mais pastores possam ajudar em congregações filhas da igreja principal; é imoral também quando seus salários impedem que a igreja ajude missionários em caráter local, estadual, nacional e mundial.

Por exemplo, conheço pastores (não um apenas) com salários acima de trinta mil Reais, e a igreja arrecada mais de 250 mil por mês.Seus auxiliares chegam a ganhar 20 salários mínimos. Como são registrados (e deveriam ser mesmo), custam horrores para a igreja - tudo para manter o padrão de vida desses líderes. Parece-me, inclusive, hipocrisia que alguns deles ataquem a teologia da prosperidade e vivam na maior das mordomias.

Questionando alguns pastores sobre seus salários de cinco dígitos, alguns me disseram: "Comparando com outras igrejas menores que a minha, acho que ainda é pouco". De fato, a maioria desses riquinhos são sustentados por igrejas grandes. Eles mal têm tempo de pastoreá-las da forma bíblica. Vivem com suas agendas lotadas, e são campeões da seguinte reclamação: "Ele cancelou o meu atendimento pastoral e adiou para daqui (varia de uma semana a alguns meses)." Tudo isso porque precisam cuidar dos casos mais urgentes.

Pior do que isso: As igrejas que mantém esses homens bons de oratória, na arte de liderar e de carisma seriam capazes de cancelar ajudas missionárias para manter o salário gordo desses gulosos por dinheiro. Infelizmente, conheci missionários lamentando por isso. Um deles mostrou-me a carta com os dizeres:

"Querido irmão fulano, devido a circunstâncias de ordem financeira, estaremos impossibilitados de ajudá-lo em sua obra missionária. Certos de que Deus suprirá suas necessidades, oramos por sua vida. Deus te abençõe".
No mesmo mês, o pastor teve seu salário reajustado de 20 mil para 22 mil Reais. E seu ministro de música passou a ganhar 12 mil Reais. E detalhe: Sei de pastores que ganham muito mais do que isso, mas a igreja paga metade "por fora", para evitar impostos absurdos. Ou seja, mentem e sonegam para sustentar os "brothers".

Diante de tudo isso, talvez você me pergunte: Você não tem medo de ser barrado, de ter as portas fechadas para o seu ministério, diante de suas colocações? Não tenho medo do óbvio! E quem se propoe a falar de seitas, mas não escancara a vergonha entre as igrejas não poderia passar de um hipócrita. Não tremo diante de homens. Preocupo-me com os olhos de Deus. - Provérbios 29:25

Junto a isso, sei de outros acontecimentos com tais líderes. Um deles, ao aceitar pastorear uma igreja numa cidade grande, exigiu: "Quero que a igreja me pague o aluguel de uma casa no bairro mais nobre da cidade". Outro comprou um carro importado, e todas as vezes que o carro dele quebra, manda a conta para a igreja. Vários fazem isso. Por que não usa um carro mais simples, em boas condições, para fazer suas visitas de pastoreio, pregações ou outro trabalho para a igreja? Também sei de um pastor que manda para a igreja as contas do restaurante fino em que ele e sua família estão acostumados a comer, de outro pastor que manda seus ternos para a lavanderia e a igreja paga.

O mais engraçado disso tudo são as frases feitas que eles usam para rebaterem o questionador:

1. Se tem deputado que rouba ganhando mais do que eu, por que não posso ganhar um pouco menos que ele?
2. Se os profissionais liberais ganaham bem, por que eu, que vivo pela igreja e para a igreja não posso ter uma vida e um salário digno?
3. Se o reis Saul, Davi e Salomão ganhavam tão bem, por que eu não posso ganhar também?
4. Se a igreja me acostumou com esse padrão de vida, por que tirá-lo agora?
Mas a questão é: Se a Bíblia ensina a viver com o necessário (Mateus 6:31-33), para que se aproveitar de um dinheiro que poderia ser investido no Reino de Deus?

Antes que você se revolte, saiba que apesar desses riquinhos, conheço pessoas que levam a sério o chamado pastoral. Já vi pastores doarem o salário todo, por meses a fio, mesmo ganhando pouco, para ajudar seus irmãos em Cristo. Sei de outros que renunciam ao que a igreja lhes oferece porque trabalham secularmente. E não poderiam ter um dim-dim extra? É sempre bom, não é mesmo? Mas preferem que a igreja gaste com missões. São eles em quem procuro me concentrar, como exemplo de vida.

Quanto aos salários imorais, um dias eles acabarão. No inferno não há isso. Nem no ceu. Nem o capeta, nem Deus precisam lidar com isso. Quanto a você e a mim, não deixemos de ofertar em nossas respectivas igrejas, pois Deus sabe que muitos precisam. Só para terminar: O que dizer de um pastor que gasta quarenta mil Reais para realizar implantes dentários, mas deixou seus dois missionários, em cidade vizinha, com dificuldades financeiras? Chega!


Fonte: Fernando Galli no IASC
----------------------------------