quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Valores familiares e fé pautam disputa entre candidatos presidenciais nos EUA

Jerry Hols reza durante missa na igreja Rock Chris­tian Life Cente­r em Oskal­oosa, Iowa

Pela primeira vez na história americana, um grande partido político pode ter que escolher entre dois candidatos presidenciais que não são protestantes. Se as pesquisas atuais forem sustentadas até o a votação da primária de 3 de janeiro em Iowa, e depois dela, a indicação republicana será uma escolha entre um mórmon da Igreja dos Santos dos Últimos Dias e um católico romano.

Portanto, é hora de comemorar a mente aberta dos eleitores americanos, mas também de lamentar os fanatismos que ainda podem acontecer. Por um lado, o confronto entre Mitt Romney e Newt Gingrich - que, dada a inconstância dos eleitores das primárias, em breve poderá parecer tão antiquada quanto o confronto entre Rick Perry e Herman Cain - testemunha os novos ideais pluralistas americanos.

Os eleitores dos Estados Unidos, mesmo os protestantes religiosos, não exigem que o seu presidente seja protestante, ou cristão renascido, ou mesmo um paroquiano regular. Desde que um candidato faça afirmações previsíveis e brandas da fé religiosa, ele ou ela já cumpriu o necessário para ser adequadamente religioso.

Uma pesquisa The New York Times / CBS News realizada entre 30 novembro e 5 dezembro constatou que dos sete republicanos na disputa, os dois mórmons - Romney e Jon M. Huntsman Jr. - ficaram atrás nas preferências dos cristãos evangélicos em Iowa. Romney ficou em quinto, com 10% dos evangélicos dizendo que iriam apoiá-lo em 3 de janeiro. O ex-senador da Pensilvânia Rick Santorum, que é católico, ficou em sexto, com 6% e Huntsman tem 1%

Huntsman e Santorum tem permanecido atrás durante a campanha, então não há nada de surpreendente em seus resultados nas pesquisas. Mas Romney tem permanecido firmemente entre os principais candidatos e o fato de que os evangélicos dão a Gingrich mais de três vezes o apoio que a ele - 33% contra 10% de Romney - pede uma explicação.

Afinal, os evangélicos de Iowa são notoriamente favoráveis a valores familiares cristãos. Quatro anos atrás, eles ajudaram a dar a vitória para Mike Huckabee, o popular pastor e ex-governador do Arkansas. Mas em sua vida pública Gingrich demonstrou o tipo de valores familiares que os eleitores evangélicos rejeitam. Em 1980, Gingrich deixou sua esposa de quase 20 anos, Jackie Battley, por Marianne Ginther, com quem ele estava tendo um caso. Em 1981, Gingrich se casou com Ginther, mas mais tarde ele a deixou por Callista Bisek, com quem tinha tido um caso durante vários anos. Eles se casaram em 2000.

A terceira esposa de Gingrich é católica e em 2002 Gingrich pediu à Arquidiocese de Atlanta para anular seu segundo casamento com o fundamento de que sua então esposa tinha sido casada anteriormente.

"Fomos casados durante 19 anos e agora ele quer dizer que não fomos", ela disse ao jornal The Atlanta Journal-Constitution.

Em 2009, Gingrich se converteu ao catolicismo. Não está claro se ele já tentou anluar seu primeiro casamento, que caso tenha sido realizado entre dois cristãos batizados, seria considerado válido pela Igreja Católica. O porta-voz de Gingrich, R.C. Hammond, não pode ser contatado por telefone e não respondeu a e-mails sobre o assunto.

Contraste essa história pessoal confusa ao limpíssimo histórico de Romney. Ele é casado com a mesma mulher, Ann Davies, desde 1969. Eles têm cinco filhos.

Claro, Romney tem seus próprios problemas de imagem, incluindo uma posição mais liberal e acusações de mudanças de lado.

Mas parece possível que, apesar de sua fé mórmon, ele possa se posicionar melhor entre os evangélicos de Iowa, especialmente contra Gingrich.

Randall Balmer, que ensina religião americana no Barnard College, oferece duas explicações para a diferença no apoio eleitoral. Primeiro, diz ele, não se deve subestimar a suspeita que os evangélicos têm do mormonismo. "Eles veem essa religião como um culto e os mórmons não foram capazes de superar isso", diz Balmer.

Balmer apontou para comentários feitos em outubro pelo pastor Robert Jeffress, do Texas, que chamou o mormonismo de um "culto" e disse que Romney não é cristão.

"O que Jeffress disse foi totalmente desagradável, mas para os evangélicos é algo absolutamente preciso", disse Balmer.

Joanna Brooks, uma erudita mórmon e comentarista política, disse que há muito tempo encontra sentimentos anti-mórmon entre os evangélicos. Muitas igrejas cristãs usam os sermões de domingo e publicações religiosas para "fazer os mórmons parecerem suspeitos", diz Brooks. Embora ela acredite que outros fatores contribuam para a desconfiança que os eleitores de Iowa possam sentir em relação a Romney, o anti-mormonismo continua sendo "uma grande parte da religião vivida por uma enorme percentagem de evangélicos, protestantes e outros."

Outra explicação para o apoio dos evangélicos a Gingrich, segundo Balmer, é que nos últimos 30 anos eles praticamente pararam de estigmatizar o divórcio. Isso coincidiu com a candidatura presidencial de Ronald Reagan em 1980, que já havia se divorciado.

"Eu pesquisei as páginas da Christianity Today" - uma revista evangélica - "e contei o número de artigos contra o divórcio na década de 1970 e na década de 1980", disse Balmer. "E ele despencou na década de 1980. Na década de 1970, havia muitos argumentos contra o divórcio e na década de 1980 tudo isso havia desaparecido."

Os evangélicos não apenas queriam acreditar em Reagan, mas em 1980 a taxa de divórcio entre eles estava próxima da média nacional, explicou Balmer. Já não era prático atacar as pessoas que se divorciaram quando tantos estavam ali mesmo, nos bancos da igreja.

No entanto, fora do Iowa, Romney ganha fôlego. De acordo com uma pesquisa ABC News / Washington realizada em junho, 75% dos republicanos em todo o país disseram que não se importariam de votar em um candidato mórmon -, mas 54% estariam menos propensos a votar em um candidato que tenha tido um caso extraconjugal.


Fonte: Ultimo Segundo com informações do The New York Times
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