Quem não a conhece tem todos os motivos para acreditar que se trata de uma dona de casa comum, mãe de três filhos e religiosa ativa. Moradora de Salto do Jacuí, na região Centro-Serra do Rio Grande do Sul, a mulher de 39 anos que se dizia pastora, contudo, é acusada de criar uma igreja cujas pregações reuniam crianças, adultos, drogas e sexo. Nos cultos, ações libidinosas eram praticadas “por ordem de Deus”. A prisão da pastora, na última sexta-feira, trouxe à tona detalhes da suposta igreja e surpreendeu os moradores da Região Centro-Serra.
Segundo as acusações, a pastora fazia questão de promover cultos com a prática de sexo explícito na presença de menores que, além de obrigados a assistir, eram orientados a rezar 24 horas. Mal comiam, não tomavam banho e muito menos iam à escola. Um deprimente espetáculo de horrores que começou a ser desmascarado no final de março pela Polícia Civil, Brigada Militar e Conselho Tutelar do município.
De acordo com os policiais militares que atenderam o caso, a situação encontrada no local onde funcionava o templo, no Bairro Cruzeiro, deixaria qualquer um impressionado pela falta de higiene e alienação dos fiéis. Tudo começou quando a BM foi acionada, no dia 20 de março, porque um dos vizinhos denunciou que a pastora estaria jogando na rua todos os móveis do antigo proprietário do imóvel onde eram realizados os cultos. Ela dizia que estavam “tomados pelo demônio”.
Chegando lá, os PMs viram uma multidão de curiosos do lado de fora da casa, que estava com a porta entreaberta. “Quando abrimos ficamos chocados com a cena: todos estavam deitados no chão, alguns sem roupa, enquanto a pastora tocava violão e falava em louvor a Deus”, conta um dos policiais. O Conselho Tutelar, imediatamente chamado, levou as crianças que estavam ali aos pais e encaminhou os filhos da missionária ao Centro de Referência em Assistência Social.
As conselheiras tiveram contato inclusive com a testemunha chave do caso, uma menina de apenas nove anos. A criança contou que a pastora dormia com ela e lhe fazia carícias, bem como a obrigava a cheirar uma substância semelhante à cocaína e a ingerir bebidas alcoólicas “em nome da fé”. A menina disse ter presenciado, por diversas vezes, cenas de sexo entre vários casais. A acusada, cujo nome, por enquanto, é mantido em sigilo, já foi funcionária pública e até mesmo candidata a vereadora em Salto do Jacuí. Ela tem antecedentes criminais por ameaça, estelionato e aliciamento de menores.
Conforme a delegada de Salto do Jacuí, Melina Bueno, também há indícios de maus tratos e estelionato. “Essa mulher se beneficiava da condição de pastora para atacar as famílias mais vulneráveis”, cita. Conforme as apurações, ela ganhava, joias e dinheiro de fiéis. Em depoimento a presa negou as acusações e disse que, na verdade, os vizinhos tinham preconceito em relação aos cultos. “Trata-se de uma pessoa bastante inteligente e que, pelo menos à primeira vista, tem certo grau de instrução”, avalia Melina.
A delegada adianta que todos os suspeitos, inclusive a pastora, irão passar pelo detector de mentiras. “Ela também passará por uma avaliação psicológica”, complementa. Uma dificuldade da investigação é com as testemunhas. “Ninguém quer se comprometer, mas todo mundo sabe”, avalia a delegada.
Casamento
O proprietário do lugar que serviu de templo à igreja da suposta pastora, João Paulo Pereira, é também pai de uma jovem de 18 anos que foi “casada” com o filho da missionária, de apenas 14 anos, em cerimônia realizada no local pela própria religiosa. Indignado com a situação, ele ainda tenta limpar o recinto. “Deixei isso aqui para que minha filha cuidasse. Fui morar em Santa Maria há três meses. A casa, que era para realizar cultos, mais parecia um meretrício”, diz. A pastora está recolhida no Presídio Estadual de Sobradinho.
Fonte: Folha do Delegado
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