O advogado Pedro Siqueira gosta de lutar artes marciais, acabou de ter um filho, dá aulas de Direito Administrativo no Processo Civil e trabalha na Procuradoria da União. Uma vida que ele considera normal, mas que, para a maioria das pessoas, não é tão dentro da normalidade assim: ele afirma ver Nossa Senhora, conversar com anjos e prever o futuro.
Pedro, que tem 40 anos, vem reunindo multidões há cerca de 20 anos durante a reza de um terço, onde recebe mensagens de Nossa Senhora e as reproduz aos fiéis. Atualmente a atividade acontece na Paróquia Nossa Senhora da Conceição da Gávea, na Zona Sul do Rio, toda última terça-feira do mês. Ali ficam reunidas, segundo ele, cerca de duas mil pessoas.
“Durante o terço eu recebo uma voz que fala dentro do coração. Essa voz é a voz de Nossa Senhora. Eu não tenho tempo suficiente para dar todos os recados dela, então são cerca de 20 mensagens que ela vai me passando”, explicou.
Ele descreveu a forma que Nossa Senhora aparece na igreja: “se forma uma luz muito grande dourada e brilhante que vem do teto da igreja. Já aconteceu da luz se abrir um pouco e eu conseguir vê-la. Ver o rosto dela, como ela está vestida, mas não é sempre que isso acontece. A pessoa entra na igreja para rezar o terço, ela vai sentir na pele que ali tem uma força. Essa é minha grande vantagem, não preciso dizer nada, tem uma atmosfera muito diferente de tudo que eles já viveram na vida deles, sejam eles espíritas, do candomblé, evangélicos, católicos. É meu cartão de visitas, eu não preciso dizer que eu não sou charlatão."
'Meu anjo deve ter quase uns três metros de altura'
Pedro também diz enxergar e conversar com os anjos da guarda, que, segundo ele, acompanham todo ser humano desde sua concepção até a morte. “Ele te acompanha para o resto da vida, até o dia em que você morrer. Na verdade ele está designado, agora, a intimidade que você vai ter com ele depende muito de você."
Pedro Siqueira está escrevendo o segundo livro (Foto: Patrícia Kappen/G1)
De acordo com ele, cada um precisa se comunicar com seu anjo com frequência, para que ele fique presente na vida da pessoa. "Só de pensar no seu anjo, no formato que você quiser pensar, ele automaticamente sabe que você está chamando por ele. Diga alguma coisa pra ele, peça alguma coisa, peça proteção, alguma coisa. E isso faz ele muito feliz. A pior coisa do mundo é você ter alguma pessoa perto e você ignorar essa pessoa. É melhor que você brigue com a pessoa do que ignorá-la. Então quando as pessoas começam a ignorar muito o seu anjo, eles começam a se distanciar."
E conta: "O meu anjo é bastante alto, deve ter quase uns três metros de altura, muito magro, o rosto é difícil de dizer se é de homem ou mulher, não é um rosto humano, apesar de ter olhos, boca, nariz, os cabelos são de luz. Às vezes ele tem uma espada. No terço eu faço uma Ave Maria para homenagear os anjos. Isso dá um resultado muito bom, eles ficam bem satisfeitos. Eles ficariam mais satisfeitos se as pessoas soubessem que têm um anjo da guarda, e dessem atenção a eles durante o dia.”
Advogado já viu acontecimentos tristes
De uma família de católicos, com mãe e avó que sempre frequentaram a igreja, Pedro não se recorda da primeira vez que percebeu ter esse dom: “É como andar. Você não se lembra de quando você começou a andar. Se eu acordasse um dia e não visse nada, eu ia estranhar muito, seria muito diferente para mim. Talvez a pessoa que esteja de fora pense: 'que homem maluco'.”
Apesar de usar o que considera seu dom para ajudar as pessoas, o advogado conta já ter passado por situações muito complicadas como ao enxergar um acontecimento triste na vida de alguém. E afirma que foi aprendendo a controlar o ímpeto de avisar às pessoas. “Antigamente eu falava, hoje eu não falo mais. Só se eu sentir que a pessoa está muito preparada para ouvir aquilo. As pessoas pedem para eu falar, mas no fundo elas não querem ouvir a verdade.”
Filho foi descoberto através do anjo
Há cerca de nove meses, Pedro teve uma surpresa. Ele contou que quando estava em Aparecida, onde tinha ido com a mulher, enxergou um anjo que para ele era estranho. “Sabia que era um anjo. E ele me falou: ‘eu sou o anjo do menino que está aí'. Virei para minha mulher e perguntei se ela estava grávida. Ela falou que não. Aí fizemos o teste da farmácia e estava mesmo.” Pedro decidiu homenagear seu diretor espiritual, Frei João Antônio. Só não imaginava que a homenagem seria tão precisa: o filho nasceu no dia do aniversário do Frei.
O início do terço se deu na casa da mãe dele, no Leblon, na Zona Sul do Rio, uma vez por semana. Mas o espaço foi ficando pequeno para tanta gente, e ele teve que passar para uma igreja no mesmo bairro, que em pouco tempo também ficou lotada. Os terços então foram transferidos para a paróquia na Gávea. E passaram a ser mensais. Pedro diz sentir muita dor física após a cerimônia. “Dói minha coluna, minha bacia, minhas pernas, pescoço, a cabeça dói um pouco e demora algumas horas para a dor sair de mim.”
'Não é um dogma da igreja', diz padre
Pedro lançou em abril o livro Senhora das Águas, onde conta experiências próprias e de amigos do terço, sempre em forma de ficção. Escreve o segundo, de uma série de quatro. E tem ressalvas em relação ao futuro. Para ele, é uma pena nunca ter sido procurado por alguém da Arquidiocese. “Isso é péssimo, significa que a qualquer momento eu posso tomar uma moção de corte. Um ‘cala a boca, dentro da igreja você não reza mais’. Seria uma espada tripla no meu coração. Mas não é da minha função procurá-los. O que eu vejo lá são pessoas que estão há mais de 20 anos fora da igreja e voltam a frequentar missas e confissões por causa do terço. Para a igreja é muito bom, mas eu nunca tive um parecer deles. "
O padre responsável pela paróquia apoia Pedro. Ele teve uma primeira impressão muito boa do advogado, quando um grupo do terço o procurou para que ele cedesse o espaço. "Tive uma impressão de que era um rapaz bem intencionado. Mas de boas intenções tem muita gente no mundo que não faz nada. O que me chamou atenção mesmo era a quantidade de gente rezando o terço. A partir dali pude perceber que havia alguma coisa", afirmou Padre Geraldo.
Ele acredita que Pedro seja um fenômeno: "ele não é um fato único na igreja, fatos similares já ocorreram. Mas é importante que esteja claro que não é uma obrigação para os católicos seguirem e acreditarem em tudo isso. É uma manifestação divina, mas que ocorre de modo particular. Não é um dogma da igreja. É certo que algumas pessoas vão se aproximar do Pedro por uma questão de curiosidade, ou de uma forma cética. Não importa, importa é que ela esteve lá e talvez que aquilo seja algo novo pra ela. Muitos começaram assim e muitos retornaram à fé por causa disso. Outros não vão voltar e vão achar um charlatanismo. Tem que ser avaliado pelo resultado final, e ele tem demonstrado que os frutos são bons, tem trazido muitas pessoas de volta à igreja, e a fé tem aumentado", concluiu.
Fonte: G1
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