quarta-feira, 9 de março de 2011

Misticismo evangélico-pagão

Talvez seja incômoda, forte, ou mesmo imprópria – diriam alguns – a expressão: “misticismo evangélico-pagão”. Com esta expressão queremos fazer referência ao estilo de fé em voga atualmente, principalmente entre grupos neopentecostais, onde se verifica não só a escassez de conhecimento das Escrituras e de uma boa teologia, mas também o abuso de simbologias, práticas e técnicas que não fazem parte das tradições cristãs, mas, sim do paganismo.

É importante que se diga que muitas dessas práticas têm sido adotadas não só nos movimentos neopentencostais, mas também, em comunidades do segmento pentecostal clássico e do protestantismo histórico. Em nossas igrejas é possível haver pessoas que, no fundo, se deixam fascinar pelos absurdos que ai estão.
Os tempos atuais exigem do povo de Deus, cautela, lucidez e maior apego à palavra de Deus. “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

UMA DEFINIÇÃO DE MISTICISMO

Por “misticismo”, entende-se a doutrina ou atitude religiosa/filosófica que busca o contato com o sagrado, através da contemplação de tradições ritos e símbolos.
A palavra misticismo vem de “mistério”. Práticas místicas podem ser verificadas desde as religiões pré-cristãs dos povos primitivos, através dos antigos de mistério, até hoje. Uma distinção, porém, deve ser feita:

A mística cristã

O termo “misticismo” faz parte também da teologia cristã, não tendo, porém nenhuma relação com magia,clarividência, ocultismo ou parapsicologia. No cristianismo percebem se, por exemplo, elementos místicos na teologia paulina. O desenvolvimento de uma mística cristã está ligado especialmente aos teólogos medievais, começando com Clemente e Orígenes, em Alexandria.

Observa D.D. Martin que, “ao longo da história, alguns protestantes retiveram um certo interesse pela tradição mística, embora não devam necessariamente ser considerados místicos. Mas a maior parte do protestantismo geralmente tem sentido desconfiança ou sido abertamente hostil diante de uma dimensão mística da vida espiritual”.

Entretanto, percebe-se hoje no meio protestante uma tendência voltada para o resgate e a prática da espiritualidade cristã. Esta redescoberta da espiritualidade propõe a valorização de tradições, símbolos e expressões, tudo, evidentemente, em consonância com a palavra de Deus, tendo como evidência a piedade cristã;

A mística pagã

A mística pagã tem a ver com esoterismo e ocultismo. Lida com as forças ocultas da natureza e busca o contato com o mundo espiritual invisível, inclusive das trevas. Utiliza práticas relativas à astrologia, à magia, à alquimia e a cabala. A mística pagã é milenar, fazendo parte da experiência religiosa dos mais antigos povos. Hoje ela adquire contornos de modernidade e está presente em todo o mundo. As práticas que caracterizam a mística pagã são frontalmente condenadas pela Bíblia.

UMA DESCRIÇÃO DO CHAMADO MISTICISMO EVANGÉLICO-PAGÃO

O que temos chamado de “misticismo evangélico-pagão” é, na verdade, uma extrapolação. É evangélico, porque se dá em igrejas denominadas evangélicas; e é pagão, porque se identifica muito mais com a mística pagã, do que propriamente com as tradições cristãs de espiritualidade e com o ensino bíblico.

Tendo por base o emocionalismo, desprezando a Bíblia, e absorvendo práticas do paganismo, esse misticismo tem proliferado nos círculos neopentecostais, sendo, muitas vezes, assimilado até mesmo por algumas das igrejas históricas. Não é difícil perceber, em determinadas igrejas, práticas que denotam o misticismo evangélico-pagão, o qual é traduzido, por exemplo, em palavras, objetos e práticas.

Palavras - Com base no suposto poder das palavras, são criadas frases de “poder”. Nomes de pessoas são questionados como portadores de bênção ou maldição. Polêmicas são travadas quanto à mudança de nomes de cidades. Alegam que os males presentes na cidade decorrem do nome maldito que a cidade tem. Para que a cidade prospere é preciso trocar o nome. Se fosse simples assim, Salvador (BA) e Vitória (ES) não teriam problemas sociais. Esta última é uma das mais violentas do país. E, olhe que ela é do Espírito Santo! Imagine se não fosse! No que se refere à linguagem, verifica-se, ainda, que está havendo por parte dessas igrejas uma incorporação da linguagem religiosa pagã;

Objetos – Quem nunca ouviu falar do copo com água sobre o radio, ou sobre a TV, a água do rio Jordão, o óleo ungido em Jerusalém, sabonete ungido, lenço ungido, rosa ungida, fitinhas de braço abençoadas, dentes de ouro etc? Tais objetos são considerados portadores de bênçãos, ou poderes mágicos e, nesta linha, a própria bíblia passa a ser utilizada como um amuleto (especialmente a famosa “caixinha de promessas”);

Práticas – Rituais estranhos vão se tornando comuns em em muitas comunidades, principalmente evolvendo sessões de exorcismo.

Em alguns grupos, os fiéis recorrerem às “adivinhações” da irmã ou do pastor que “profetiza”. Buscam experiências de êxtase para terem visões. Recorrerem às fórmulas mágicas(pelas quais se paga) para alcançar “bênçãos”, para afastar ou quebrar maldições, como por exemplo: Os banhos de descarrego, a unção de roupas e retratos de pessoas que estão em pecado, a unção de carteiras de trabalho de pessoas sem emprego (ou trabalho), regressão psicológicas, correntes etc.

Outros estão buscando experiências com a tal da nova unção, a bênção do riso e dos urros no Espírito, as visões de anjos etc. Alguns se entregam com tanta intensidade às práticas devocionais, como o jejum e a oração, que acabam adoecendo física e psicologicamente. Infelizmente os Hospitais de doenças mentais há um grande número de Evangélicos. O misticismo evangélico pagão é acentuadamente legalista. Diante disso, vale a pena considerar a orientação bíblica de Colossenses 2.16-13.

CONSEQUÊNCIAS DO MISTICISMO EVANGÉLICO-PAGÃO

Ao Fazer um uso mágico da Bíblia, pois, na verdade, ela passa a ser considerada nada mais do que um amuleto, os praticantes desta espiritualidade se conduzem a muitos equívocos. Um deles é o desenvolvimento de uma “teologia do medo”. Conceitos como soberania de Deus. Senhorio de Cristo e companhia do Espírito Santo, cedem lugar a crenças supersticiosas. Nesta perspectiva, a fé cristã acaba se tornando meramente uma versão evangélica do baixo espiritismo, especialmente no que se refere à relação com as forças espirituais das trevas. A ausência de uma saudável teologia bíblica vai produzindo mentes confusas, escravas da insegurança e do medo. Nesses círculos evangélicos há uma superestimação do poder e da ação de Satanás. É um retrocesso à cosmovisão espiritual medieval. Por ignorância, tais crentes deixam de usufruir o conforto da mensagem da Palavra de Deus para os que pertencem a Cristo(Rm 8.26-30).

A REDENÇÃO DA BÍBLIA COMO ÚNICA REGRA DE FÉ E DE CONDUTA

Assistimos hoje à capitulação da razão ao sentimentalismo. Em meio a tantas proposições, e diante da crescente onda de paganização da espiritualidade cristã, é mister que os crentes se apeguem com mais firmeza às Sagradas Escrituras. A Bíblia é o nosso referencial absoluto.

Por terem perdido está compreensão, muitos crentes têm adotado como referência para a sua fé, obras de ficção na linha de este mundo tenebroso, por exemplo. Tais livros, que abarrotam as prateleiras das livrarias evangélicas, têm falado mais do que as obras teológicas, mais que a própria Bíblia.

Nos meios onde se pratica o misticismo evangélico-pagão são muito valorizadas também, as “revelações”. Elas costumam adquirir mais peso do que a bíblia. Isto é grave e preocupante.

A Bíblia tem de ser redescoberta, urgentemente, como única regra de fé e conduta(At 17.11; I Tm 4.1-16; II Tm 3.14-17). É somente a partir da palavra de Deus que se torna possível corrigir os desvios relacionados ao misticismo evangélico-pagão. Que Deus guarde as assembleias de Deus desta esquizofrenia!


Fonte: Pr. Napoleão de Castro via Ministério Graça e Conhecimento
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