sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Caso dos alunos evangélicos em escola pública revela os problemas entre religião e ensino

Um trabalho escolar, que tinha como tema 'Preservação da identidade étnico-cultural brasileira', feito para a tradicional feira da Escola Estadual Senador João Bosco, localizada na avenida Noel Nutels (Cidade Nova, Zona Norte), levou um grupo de alunos evangélicos a se negaram a fazer o material solicitado pelos professores.

O que seria apenas um entrevero didático entre alunos e professores ganhou contornos de 'Guerra Santa' com pitadas de intolerância religiosa e preconceito explícito, quando foi dito o motivo: os adolescentes afirmaram que o conteúdo a ser estudado (livros 'Tenda dos Milagres' e 'Jubiabá', de Jorge Amado, por exemplo) feria os seus princípios religiosos ao citarem homossexualidade e candomblé (magia negra e satanismo no entendimento deles).

Com toda a celeuma, abriu-se o debate entre intelectuais, pastores, sociólogos e povo em geral, sobre até onde uma igreja pode interferir no ensino proposto pelas escolas ou vice-versa.

Para professora de história e coordenadora de projetos da escola, Raimunda Nonata Freitas, fica uma preocupação quanto à postura desses jovens, que guiados pelo pastor Marco Antonio Freitas, da igreja evangélica 'Ministério Cooperadores de Cristo' e pelos seus pais, decidiram fazer outro trabalho que tinha como tema 'As missões evangélicas na África'.

"Fomos acusados de fazer apologia a Satanás e de estarmos ensinando conteúdo pornográfico. Há sete anos a escola realiza uma feira cultural que tem como objetivo ensinar aos alunos a contribuição das diversas culturas para a formação da identidade brasileira, e isso nunca ocorreu. É inadmissível que em pleno século 21 existam pessoas que tenham essa visão e não respeitem a diversidade e vejam dessa forma essas obras literárias", disse.

O presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), Valdiberto Rocha, disse que a ordem ainda não tem opinião formada e antecipa que a instituição lançará uma nota em alguns dias, mas adiantou seu ponto de vista como pastor da Igreja Quadrangular, enfatizando que não pode fazer juízo de valor somente pelos fatos jornalísticos.

Para ele, o professor deve ser o 'senhor absoluto' na sala de aula e também disse que, pelo fato de o país ser laico e democrático, entende que cada pessoa deve respeitar a religião do outro, seja ele do candomblé, kardecista ou católico. Entretanto, diz que se os estudantes se sentiram ofendidos, sendo eles evangélicos ou não, também devem ser respeitados.

O pastor Marco Antonio Freitas, do 'Ministério Cooperadores de Cristo', que protagonizou o incidente escolar, não faz parte dos quadros da Omeam, segundo consulta à instituição. O endereço da igreja também não é dado em nenhum site ou rede social que a instituição faz parte.

A professora Raimunda Nonata adianta que, seguindo as orientações da Seduc, os estudantes farão uma avaliação com dez questões, porém o tema será o mesmo. "Não vamos mudar o conteúdo, mas estamos tentando adaptar a situação para que eles não fiquem sem a nota", disse.

Ainda segundo ela, a Seduc não quer punir, pois não é a essa a função da secretaria, mas sim construir educação e contribuir para a formação de cidadãos.




Fonte: Em Tempo
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