sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Afro-X, ex-marido da Simony se converte à Jesus

Afro-X, ex-marido da Simony se converte à Jesus e tem projeto de levar a Palavra de Deus às periferias das cidades brasileiras através da sua música e seu testemunho. Nascido na periferia da cidade, favela de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, mais precisamente no bairro conhecido como Jardim Calux, Cristian, o Afro-X, teve uma infância não muito diferente dos outros garotos desfavorecidos que nascem no Brasil. Vítima da desigualdade social, Cristian reforça que o desfavorecimento não justifica ninguém a buscar a vida do crime, mas diz que essa foi sua realidade.

Em entrevista exclusiva à revista CELEBRE, ele conta todo o processo de envolvimento com crime, a vida como detento, a fundação do 509E, seu casamento com a Simony e a conversão ao Senhor Jesus.

Revista CELEBRE: Cristian, como surgiu o nome Afro-X?

Afro-X: O Afro vem de mistura, miscigenação. O Brasil é um país de muitas culturas, principalmente a cultura negra, por isso escolhi esse nome devido essa mistura de negros africanos, índios, etc. E o “X” foi homenagem à Malcolm X, um mártir americano que sempre lutou em favor dos negros e pela igualdade social.

RC: Conte como sua vida no crime se iniciou.

Afro-X: Nasci no Jardim Calux em São Bernardo do Campo (SP). Como todo jovem de periferia, temos vários de nossos sonhos frustrados pela falta de atenção e oportunidade e quando buscamos respeito, status e admiração sentimos as dificuldades e o desfavorecimento social. Devido à grande facilidade que se tem na favela de entrar para a vida do crime, a maioria dos jovens acaba por ingressar essa carreira. De maneira nenhuma quero justificar meu erro, pois muitos amigos de infância conseguiram crescer na vida, formar suas famílias sem se envolver com o crime, mas infelizmente comigo foi assim.

RC: Como foram seus primeiros crimes?

Afro-X:
Pela primeira vez fiquei na cadeia de São Bernardo do Campo (SP), depois consegui liberdade, mas novamente me envolvi com o crime. Comecei a ficar conhecido e respeitado no mundo do crime, voltei novamente para a cadeia, mas davam mostras de que não estava reabilitado e por isso fui mandado para a extinta Casa de Detenção do Carandiru. Por mais que eu já fosse um criminoso respeitado e temido, quando alguém entra numa cadeia como o Carandiru, você fica apavorado só com o clima infernal que existia naquele lugar. Presenciei coisas lá dentro que não desejo a ninguém e penso que essas coisas que me fizeram repensar o que eu queria para minha vida.

RC: O que pensava nesses momentos de reflexão?

Afro-X:
Sou filho de uma família cristã. Acho que 70% dos criminosos são (risos). E como todos esses, quando percebemos a situação em que estamos nos lembramos das aulas infantis, dos estudos nos lares, as pregações dominicais e tudo isso fica forte na mente. Lembrei-me do Senhor e pedi que Ele me guardasse. Ele me guardou!

RC: Essa foi sua conversão?

Afro-X:
Não! Na verdade eu sempre me lembrei do Senhor nos momentos de perigo de vida, mas nunca havia assumido um compromisso com Ele.

RC: Então conte sobre o 509E.

Afro-X:
Dentro da prisão há 3 caminhos para seguir. Se tornar um PHD no crime, se converter de verdade ou buscar a reabilitação através dos projetos culturais. O terceiro é o mais difícil, pois dentro da cadeia não há muito que se fazer com isso o detento fica 24 horas do seu dia maquinando maldades na cabeça. Contudo, eu optei pela terceira opção, pois me aliei com meu amigo de infância, o Dexter, e juntos fundamos o 509E que fazia um Rap com uma mensagem diferenciada.

RC: Havia abertura para esse tipo de movimento no Carandiru?

Afro-X:
Então, conheci uma moça chamada Sofia que encabeçavam projeto chamado “Talentos Aprisionados”, com a força, incentivo e apoio que recebemos dela, conseguimos patrocínio de uma gravadora que muito se interessou pelo nosso trabalho e gravamos nosso primeiro CD. O sucesso foi tão grande que conseguimos algumas licenças para dar entrevistas em programas de TV como Serginho Groisman e outros. Nada disso foi fácil, a liberação para detentos com penas pendentes era dificílima, mas eu creio que tudo isso foi uma forma de Deus começar o projeto que tinha na minha vida.

RC: Como você conheceu a Simony?

Afro-X:
Com a gravação e o sucesso do nosso trabalho, começamos a fazer várias apresentações em outros lugares e em um desses shows conheci a Simony. Ela não era muito fã de Rap, mas uma amiga dela chamada Taís indicou nosso grupo pela qualidade da nossa música e a Simony se interessou. Após conhecê-la, todas as apresentações que fazíamos ela estava presente. Com isso iniciamos nosso relacionamento que durou 6 anos.

RC: Fale sobre seu relacionamento com a Simony.

Afro-X:
Depois de algum tempo de apresentações, fomos proibidos de sair devido principalmente à boatos. Fui condenado à 14 anos de prisão e cumpri 7 anos e meio, sendo que hoje em dia os detentos cumprem no máximo 1/3 da pena. Muitos pensam que saí da cadeia pela mídia que a Simony me deu e isso não é verdade, pelo contrário, nosso relacionamento foi tão sincero que o 509 já tinha passado por vários programas, inclusive o Fantástico e eu não necessitava de mídia da Simony. Cumpri mais do que qualquer um hoje cumpre de pena e até o ano de 2005 estávamos casados. Embora a mídia fez muito barulho com o fato dela ter ficado grávida enquanto eu estava preso, a verdade é que eu tinha alguns confortos na cadeia devido o dinheiro que ganhava com meu trabalho que era música e meu produto o CD do 509. E, por isso nas nossas visitas íntimas eu tinha certa privacidade e com isso acabamos tendo o Ryan, meu primeiro filho. Mas nos casamos na igreja e formamos sim uma família tendo até outra filha depois, a Aysha, os dois são presentes de Deus para a minha vida.

RC: Você tem contato com seus filhos?

Afro-X:
Sim eu falo com eles quase todos os dias, são importantes para minha vida e sempre que posso vou ao Alphaville para vêlos e trazê-los para ficar comigo.

RC: A Simony foi quem te trouxe aos caminhos do Senhor?

Afro-X:
Não! Na verdade quando eu a conheci ela já havia se afastado da igreja, devido a coisas que ela queria fazer e a igreja evangélica não permitia. É claro que com isso ela argumentou defeitos da instituição religiosa, mas o motivo mesmo foi esse.

RC: E como foi que você se converteu?

Afro-X:
Após o cumprimento da minha pena, a carreira artística começou a diminuir, mas eu permaneci casado com a Simony, como disse até 2005. Tive um problema de envolvimento com fãs e a confiança no relacionamento acabou. Quando nos separamos eu já estava sem agendas e o Dexter preso. O padrão de vida de um artista é muito alto e ilusório, as contas também. E foi aí que voltei ao convívio com meus pais e familiares, infelizmente aprendi com a dor foi aí que me aproximei novamente das coisas do Senhor e quando fui à igreja, pessoas vieram falar comigo sobre a obra que Deus tinha na minha vida. Sem dinheiro, sem perspectiva, muitas contas, sem meus filhos, não sabia o que eu ia fazer, foi quando uma irmã na igreja Aliança da Paz me disse que via uma viagem para os Estados Unidos e um dinheiro que supriria as minhas contas naquela mesma semana. E foi dito e feito! Fui convidado para fazer um documentário sobre a minha vida e recebi por esse filme 120 mil reais que me ajudou muito. A estréia deste filme seria em Nova York e quando fui correr atrás de passaporte e visto, pensei que seria impossível, pois diante da lei eu ainda tinha uma pena pendente. Mas como Deus está no negócio eu tive a oportunidade de ver o milagre dele na minha vida. No balcão para tirar o visto, vi o Rodriguinho ex-Travessos, um artista consagrado ser bloqueado e impedido de tirar o visto e meu nome ser autorizado. Então eu decidi que faria a vontade de Deus na minha vida.

RC: Hoje você é membro de qual igreja?

Afro-X:
Então, após essa decisão eu comecei a seguir à Jesus e fui discipulado por alguns pastores que me acolheram, como o apóstolo Marcos Sardinha, pastor Mauro, bispo Paulo Moura, mas acabei ficando na IEAD Missão Vida do pastor Jonas Pires onde congrego atualmente. Ainda não me batizei, mas farei no próximo batismo que Deus me orientou sobre qual futuro devo dar na minha vida e na carreira.

RC: E qual é esse futuro?

Afro-X:
Devo usar o talento, a mensagem e a abertura que tive com o Rap e por ser um artista da periferia para contar o meu testemunho para essa garotada que assim como eu estão totalmente a mercê da criminalidade. A mensagem do 509E sempre foi a 2ª chance, a nova oportunidade para o ser humano ser restaurado. Hoje sou uma prova viva disso que o 509E sempre cantou, e quero usar a minha vida como ferramenta também dentro das cadeias como estímulo para que os presos vejam que se Deus transformou minha vida, também pode transformar a dele.

RC: Você gostaria de deixar uma mensagem para o leitor?

Afro-X:
Sim, a mensagem é que temos um grande desafio pela frente de ser não apenas mais um e sim um a mais; nossa vida é cheia de obstáculos, onde temos que ultrapassar e sermos mais que vencedores.

Fonte: http://www.gospelnight.com.br/