sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ministério Verbo Vivo na mira da polícia

Delegado solicitará mandado de busca para entrar em instituição de ensino mantida por Igreja. Alunos estariam sendo agredidos e mantidos em cárcere privado. A Polícia Civil vai retomar o inquérito que apura denúncias contra a Igreja Ministério Verbo Vivo, em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte. A instituição é acusada de manter alunos de uma escola cristã da entidade em cárcere privado, além de submetê-los a agressões físicas e psicológicas com base em uma seita. De acordo com o delegado Geraldo Toledo, titular da Delegacia de São Joaquim de Bicas, o inquérito já havia sido aberto em junho, para apurar uma denúncia formalizada à Promotoria da Infância e da Juventude da capital, mas estava parado por falta de indícios.

"Uma avó procurou o Ministério Público para denunciar que não via a neta há dez meses, pois ela estava presa nessa igreja. Pedi, no dia 25 de junho, um mandado de busca e apreensão ao Fórum de Igarapé, que até hoje (ontem) não foi julgado pela juíza. Tenho informações de que dentro do fórum há pessoas ligadas à Verbo Vivo. Acredito que essas pessoas estão embaraçando o julgamento desse mandado, e que a juíza de Igarapé ainda não tem conhecimento dos fatos", justificou o delegado.

Toledo informou que irá procurar a juíza pessoalmente hoje, em companhia do deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Ainda segundo o delegado, o inquérito foi retomado ontem após o depoimento de ex-pastores e ex-alunos da Verbo Vivo, durante audiência pública realizada na assembleia. "Fiquei muito sensibilizado com os relatos. São denúncias graves de cárcere privado, maus-tratos e violação do Estatuto da Criança e do Adolescente", afirmou Toledo.

Na audiência, vários ex-alunos relataram episódios de maus-tratos dentro da escola e acusaram a diretora da instituição de ensino, Lilian Freitas dos Santos, de agredi-los com palmatória, como punição a alguma conduta contrária aos desígnios da igreja. Além das agressões físicas, os estudantes disseram que chegaram a ser castigados com detenção nos salões da Igreja e submetidos a ameaças de serem enviados para o inferno. "Perdi minha infância e minha adolescência", relatou uma ex-aluna, que, por conta das agressões sofridas, ainda sofre de incontinência urinária.

Os responsáveis pela Escola Cristã Verbo Vivo foram procurados novamente ontem pela reportagem de O TEMPO, na sede da instituição, mas Lilian Freitas se recusou a falar. No condomínio das Acácias, em Betim, onde moram as famílias que frequentam a igreja, nenhum dos moradores quis falar sobre o assunto.

Regras Igreja

Na lista de pecados citados pelos jovens estão: andar com as mãos nos bolsos, assistir à TV, ouvir rádio, ir ao cinema, beber guaraná (porque a cor se assemelha a da cerveja) e participar de festas.

Sem autorização dos pais

Oito alunos da Escola Cristã Verbo Vivo foram levados, por membros da Igreja, para os Estados Unidos, como forma de castigo por terem desobedecido às disciplinas impostas pela instituição, segundo o delegado Geraldo Toledo. A viagem não teria sido autorizada pelos pais.
Conforme as denúncias, esses estudantes estão lá por castigo. Os passaportes deles foram recolhidos pela Igreja e eles estão presos na sede norte-americana da Verbo Vivo. Esse tipo de conduta é crime e os líderes da Igreja podem responder também por tráfico de seres humanos, informou o delegado.

De acordo com Toledo, a polícia vai investigar se o dinheiro doado pelos fiéis está sendo enviado aos EUA de forma ilegal, para aumentar o patrimônio da Verbo Vivo. Vamos investigar, junto com a Polícia Federal, se existe crime de evasão de divisas.

Outras famílias que tiverem sido prejudicadas pela Igreja podem denunciar o caso junto ao Ministério Público Estadual pelo telefone 127. A identidade das pessoas será preservada.