Você pode estar pensando que é tudo a mesma coisa, que não há qualquer diferença nas duas expressões, mas apesar de se assemelharem, definitivamente não há como serem associadas. Não da forma como pregam por aí nos transatlânticos da fé ancorados em quase todas as esquinas das cidades ou nos supermercados religiosos que vivem abarrotados de pessoas à procura de novidades. Aliás, vale salientar que os discípulos foram, em Antioquia, reconhecidos como “cristãos” e não como “evangélicos”. – Atos 11:26
Você pode estar me chamando de maluco ou desinformado; pode estar me considerando um herege; um rebelde frustrado, mas diga-me, quem são os “evangélicos” hoje? Que atributos credenciam alguém ao titulo de ser “evangélico”? Sugiro que você, antes de um prejulgamento contra a minha pessoa, faça uma lista contendo um nome de expressão no Brasil, no seu estado e em sua cidade, de alguém que você considera evangélico, pessoas que estejam ligadas à política, meio empresarial, educação, saúde ou órgão do governo.
Não vou exigir muito, estes me servirão como base para a minha tese. Vamos continuar o exercício, agora me diga, dos nomes que você listou, em qual desses setores você pode dizer com todas as palavras que “põe a mão no fogo” pelos indicados? Para qual dos escolhidos você seria capaz de ir aos tribunais defendê-lo na sua conduta como “evangélico”? Se a lista fosse minha, nenhum! E olha que não estou sendo radical, apenas sincero. É isto mesmo, a banalização do evangelho com práticas construídas sobre interesses denominacionais e não sob as ordenanças Divinas me dão sustentação suficiente para fundamentar os meus argumentos e a minha defesa. Cansei de ver raposa tomando conta de galinheiro.
Obviamente que existe ainda um grupo de pessoas com boas intenções, gente que de alguma forma busca viver o que prega, que ainda acreditam na propagação do evangelho como único instrumento capaz de satisfazer aos anseios do coração e da alma do homem. Louvo a Deus por estes que ainda resistem bravamente às investidas de satanás contra a igreja de Cristo e espero que não desistam de seus objetivos.
Já ao final de seu ministério, Charles Spurgeon* escreveu uma série de artigos intitulados “O Declínio” onde ele estava advertindo a igreja de seus dias, lá no passado, quanto ao fato de que o cristianismo estava em declínio e, o que era pior, o ímpeto de descida parecia estar vencendo todas as tentativas de conter esta decadência. Os líderes cristãos estavam se tornando mundanos, espiritualmente frios e tolerantes aos erros doutrinários. Isso acontecia em tal nível que Spurgeon tinha receios de que a igreja perderia completamente o seu testemunho. Infelizmente, a previsão de Spurgeon se tornou em realidade insofismável hoje.
Lamentavelmente o que vemos é muito mais gente que usa do titulo de “evangélico” para se esconder, para se auto-promoverem, para ganharem um bom dinheiro, contrariando com comportamentos condenáveis o que na verdade significa ser “evangélico”. O rotulo, mesmo falsificado, neste caso enseja confiança aos desavisados. Para onde foram os bons costumes? Onde está o senso de moral? O mundo encontra-se hoje numa situação vergonhosa e desesperadora, no entanto, os seus habitantes não têm vergonha do que fazem ou dizem e muitos encontraram na religião um lugar seguro para agirem sem serem incomodados.
Me envergonho do evangelho ao ligar a televisão e ver homens inescrupulosos negociando com a fé das pessoas; ao saber que na frente das telas da TV há muitos pobres evangélicos aprovando e até contribuindo com tudo que é mostrado ali; ao ver o comércio da fé sendo explorado livremente nas igrejas eletrônicas onde vende-se de tudo; ao ver a religião evangélica fazendo parcerias indissolúveis com o inimigo; ao ver líderes atrelados, andando de mãos dadas com o diabo na maior naturalidade. Me envergonho ao ver homens mudando a verdade de Deus em mentiras, honrando e servindo mais a criatura do que ao Criador; Quanto dinheiro jogado fora nas fossas podres da religiosidade permissiva, nociva à sociedade e à vida espiritual. Quanta vergonha! Vergonha acompanhada por um misto de indignação e revolta, pois mesmo com todo o meu protesto e o meu esforço, percebo que a coisa caminha para o retrocesso rumo a um abismo espiritual intransponível.
Me cansei de carregar na testa o rotulo de evangélico. São todos iguais, afirmam as pessoas, colocando todo mundo num mesmo patamar, misturando joio e trigo em um só saco. Justos e pecadores, sérios ou não, todos sem distinção estão, pelas palavras da sociedade comungando comportamentos religiosos semelhantes. Os “evangélicos” lamentavelmente são os que mais enganam, os que faltam com a honra da palavra, os que difamam, subjugam pessoas, envolvem-se em escândalos espreitam a derrota, inclusive, dos próprios “irmãos da igreja”; são os que mais se divorciam segundo dados, os que mais sabem apontar o indicador de condenação, os que matam o amor pregando o amor. Cansei-me dos chavões, dos sermões e palavras construídas sob encomenda, pois de nada adianta falar do amor de Deus enquanto pessoas, do lado de fora dos templos, estão sem entender o barulho que se faz lá dentro.
Do outro lado o que vemos, no entanto, são pessoas simples dividindo o pouco que têm, com seus semelhantes sem ter nenhuma denominação religiosa por trás, enquanto muita gente que diz ser “servo de Deus”, e até se orgulham disto, com tudo que precisam e mais alguma coisa; com todos os pressupostos de felicidade à disposição, gente de triunfo, de sucesso, que pouco ou nada fazem, mesmo tendo muito mais do que precisam para viverem uma vida tranqüila.
Ser “evangélico” está na moda, ser “cristão” não. O primeiro é bonito, é moderno, é diferente, é místico, é favorável e em alguns casos dá status. O segundo pelo contrário não atrai pelas exigências de fidelidade e comprometimento sincero com princípios que poucos estão dispostos a arcarem com o peso que eles colocam sobre os ombros. Basta só dar uma espiadinha na lista de artistas, de jogadores e de políticos que se declaram “evangélicos” todos os dias… Ter um destes no rol de freqüentadores da igreja pode render bons lucros. Quanta hipocrisia! Quanta enganação!
Por tudo que relatei acima tomei a decisão de abandonar a fachada de “evangélico” para ser apenas “cristão”. Decidi viver bem com Deus, sem, no entanto, fazer propósitos irracionais, sem viver na alienação dos temores, sem ser forçado à obediência a líderes que intimidam e não pregam o evangelho. Decidi ser mais espiritual, mais humano, mais emocional, mais racional, mais sensível. Decidi ainda a abandonar a religiosidade vazia fundamentada em formas e resolvi correr atrás de conteúdo, algo que preencha todos os vazios do meu coração e da minha alma. Quero ser cheio de compaixão, exprimir amor na sua profundidade e na sua extensão, quero entender o sofrimento alheio. Quero, simplesmente, ser “cristão”.
* – Charles Haddon Spurgeon, foi um pastor batista britânico, que morreu em 1892.
Fonte: Gospel Prime