Começamos a semana indignados com as $emente$ de quase dois salários mínimos que certo telepregador pediu — ou ordenou, visto que o seu convidado asseverou, em tom ameaçador: “Vá ao telefone, saia da sua cadeira... A obediência retardada se torna uma rebelião” —, a fim de manter mensalmente o seu programa de TV. Este, aliás, só fala de vitória e cria na mente dos cristãos a falsa ideia de que são suprercrentes, invencíveis, imunes às tragédias da vida.
Fiquei pensando se alguns dos irmãos em Cristo que partiram para a eternidade nas avalanches de terra ocorridas em Niterói, no Rio de Janeiro, não haviam assistido ao tal programa, no sábado pela manhã. Eles podem ter pensado: “Vou fazer essa semeadura de doze meses para comprar a minha casinha e sair desse morro”. Mas não deu tempo...
Evangelho não é triunfalismo. Evangelho não é ter riqueza na terra, como assevera o milionário Mike Murdock, considerado por muitos o homem mais sábio do mundo. Por que os telepregadores não pregam o verdadeiro Evangelho, cristocêntrico, biblicocêntrico — e não bibliocêntrico —, centrado nas “coisas que são de cima” (Cl 3.1,2), posto que as daqui são efêmeras? A resposta é muito $imple$.
Os telepregadores das $emente$ literalmente vendem ilusões. E cobram caro por isso. “Não desista! Você é vitorioso! Semeie! Você colherá bênçãos materiais e espirituais”. E são os cristãos triunfalistas, telemanipulados, que ficam perguntando: “Por que Deus permite que servos de Deus morram em tragédias?” E alguns, do alto de sua “riqueza material” — orgulhosos por terem conseguido comprar uma casinha ou um carro popular —, verberam: “Esses que morreram deviam estar em pecado ou eram pessoas que não semeavam para o Reino de Deus”.
Murdock, o milionário, estimulou o povo de Deus a $emear o dinheiro reservado para comprar um carro, para tirar férias, para a faculdade do filho, para um momento de dificuldade... E afirmou: “Deus quer levá-lo a um sucesso fora do comum”. Nada foi falado sobre “as coisas que são de cima” (Cl 3.1,2). Nada foi dito acerca da nossa Cidade que está nos céus (Fp 3.20,21), como se o melhor para nós estivesse nesse mundo que vai de mal a pior.
A maioria do povo das nossas igrejas fluminenses, sobretudo as pentecostais, é formada por pessoas simples, pobres, que moram em morros. Essas pessoas não têm condições financeiras de “semear” R$ 1.000,00 todo mês. Muitas ganham um único salário mínimo. Mas essas mesmas pessoas são facilmente manipuláveis. Basta um famoso telepregador dizer: “A sua história mudará! Acredite”, e elas se dispõem a dar todo o seu salário e as suas economias em prol da manutenção de um programa de TV.
Um internauta anônimo me perguntou por que morreram servos de Deus nos desabamentos em Niterói, no Rio de Janeiro. E eu lhe respondi: Morreram porque não eram supercrentes, ao contrário do que dizem os telenganadores; morreram porque, se Jesus não voltar logo, todos morreremos, e a Bíblia não estabelece de que modo haveremos de partir; morreram porque o soberano Deus os quis recolher; e morreram porque o melhor para eles não está nesta vida, e sim na glória.
Tenho certeza de que sobre os verdadeiros servos de Deus que perderam os seus entes queridos — como um amado irmão da Assembleia de Deus em Pendotiba, Niterói, que perdeu a esposa e três filhos — o Senhor derramará uma graça especial. Só assim eles poderão suportar essa inimaginável e humanamente insuportável dor.
Por outro lado, graças a Deus que o verdadeiro Evangelho, ao contrário do pseudo-evangelho das $emente$, assevera que o Reino de Deus só começa aqui, pois o melhor para nós está no céu. Podemos, sim, ter bens na terra, mas isso não é a nossa prioridade. A nossa maior esperança é que, ao partirmos deste mundo, “estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.17,18).
sábado, 10 de abril de 2010
Servos de Deus no RJ não tiveram tempo de plantar 12 $emente$ para mudarem de vida
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