
"Não tenho palavras para descrever o que fiz, mas posso dizer que não foi vingança, apenas senti que era a única saída para a miséria que tem sido a minha vida, por causa desta igreja."
Eleutério Cortes descreve assim o momento em que, aos comandos de uma empilhadora, entrou nas instalações de Faro da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), só parando quando a GNR lhe apontou uma arma à cabeça. O altar do pastor ficou intacto, mas ao longo da grande sala dezenas de cadeiras foram destruídas à passagem da máquina.

Feitas as contas, Eleutério diz ter "perdido" um total de 104 mil euros, sente-se enganado, não consegue arranjar explicação para o que fez ao longo de praticamente seis anos, desde 2004, altura em que participou activamente em "A Campanha de Israel". Depois disso terá ficado sem nada. "Sem dinheiro até para comer, vivi quatro anos de caridade, sem conseguir fazer nada", recordou, explicando que mantém uma empresa, que trabalha com betão armado, para tentar pagar aos credores.
Na terça-feira, quando saiu do trabalho, farto das suas próprias lamentações, o empreiteiro terá jurado a si mesmo que "aquela igreja não ia enganar mais ninguém". Em tom baixo e visivelmente amargurado, recordou o que lhe passou pela cabeça naquele fim de tarde: "Já chega de enganar tantas pessoas, é hoje que vou rebentar aquela porcaria." Duas horas antes da oração das 20.00, resolveu pedir uma empilhadora emprestada e entrou porta adentro. "Não fui mais longe porque um militar da GNR me apontou uma pistola à cabeça."
Depois disso foi levado para as instalações da PSP de Faro e de lá só saiu à 01.00, já na qualidade de arguido, para ir às urgências do Hospital de Faro. Ontem foi presente ao tribunal, tendo ficado a aguardar julgamento em liberdade. A IURD garante que vai exigir responsabilidades "civis e criminais" ao homem por "acto de vandalismo" e garante não conhecer o alegado fiel revoltado.
Fonte: Diário de Notícias Portugal
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