As pessoas que eu gostaria de encontrar no céu,
segundo as normas de salvação
e os critérios de se reconhecer um réu,
é bem provável que no céu não estarão.
Não são anjos que me inspiram;
ocasos deslumbrantes num deserto,
decerto que não seriam.
Ao coro de vozes não me desperto,
nem à intrincada melodia lauta;
saiu do tom o que me intriga...
Desafinou, pulou da pauta
o que me encanta e irriga.
O que alenta um espírito
assim tão frágil tão incauto,
não é o forte nem o fausto;
é vício de vida o que respiro.
As pessoas que eu gostaria de encontrar no céu,
são as mesmas que encontro ao léu.
E as cadelas que vagueiam prenhas
nas calçadas lixando suas mamas...
E um pombo cinza de guerra
que erra por não ser branco,
aos pés do vadio sentado no banco
que banca todo lixo da terra.
O que me lança vivo na fogueira,
não é promessa de vida eterna
ou recompensa devida e terna;
é a vida e a causa
das pessoas e coisas
que eu gostaria de encontrar no céu.
Fonte: Wilson Tonioli em Verticontes
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