sábado, 3 de outubro de 2009

Monique Evans: de menina tímida a titia engraçada


Monique Evans resolveu falar do que a incomoda há três meses: depressão e síndrome do pânico. Como resultado, diz ter levado uma bronca da Rede TV, emissora que leva ao ar seu quadro de entrevista e humor no programa TV Fama. Por telefone, a ex-modelo de 53 anos explicou que, em casa, era impossível falar com ela. “Nem escovar os dentes eu escovo.”
Preferiu encontrar a reportagem no intervalo de uma entrevista que faria com Roberto Justus. Dentro da van que a levou ao show do empresário, na cidade paulista de São Caetano do Sul, Monique falou, sempre com olhos marejados, sobre a doença, a vida e a carreira. E, para justificar como a menina tímida se tornou a titia engraçada, lembrou-se até do drama de ter sido violentada aos 14 anos.

Como você está?

Mais deprimida do que nunca. Como estou com depressão, não saio de casa e assisto a tudo o que acontece depois das 3 horas da tarde até as 3 da manhã.

Você fala da sua depressão à imprensa com uma naturalidade?

Acho bom eu não falar muito não porque já reclamaram no meu trabalho. Profissionalmente, não está atrapalhando. Os convites continuam aparecendo. Há três meses estou com isso. Eu sou três coisas: apresentadora, celebridade e pessoa. Durante três meses, a celebridade está passando mal, não sai, não dirige. Complicadíssimo esconder isso. Estar com olheira, ferrada, sem ir à academia e trabalhando na boa. É bom as pessoas saberem. É como uma gripe. Não tenho que me desculpar por estar doente. Não quero bronca, eu preciso de carinho.

Como faz para se manter alegre na TV mesmo com depressão?

Sempre foi assim. A Monique pessoa nunca foi alegre. Sempre tive depressão. Meu pai era igual: fazia todo mundo rir, mas tinha uma tristeza. E morreu com a minha idade, 53 anos. Digo que ele morreu de tristeza, mas foi de derrame. Todo palhaço no fundo é triste, sozinho. Mas é um dom de Deus fazer as pessoas rirem. É engraçado a gente ser bonita e as pessoas te acharem engraçada. É uma personagem...

Como a personagem apareceu?

Ela veio... Sou muito tímida, estudava em colégio de freiras. As meninas fumavam, falavam de sexo, eu não entendia nada disso. A gente tinha aula de sexo. Fiquei horrorizada quando a professora desenhou um pênis no quadro negro. Acho que desenhou enorme para a gente ficar com medo mesmo. (risos) Sempre fui grilada, muito alta, muito magra... Depois fui ser modelo. Teve uma época em que pintei o cabelo de vermelho, era cheia de piolho na cabeça, andava descalça. Pirei tanto que não conseguia me expressar. Acho que era hormônio... Nessa época, criei uma máscara. O lado engraçado eu tinha com amigas.
E isso foi parar na TV. Nunca fui de falar de sexo. Tinha problemas sexuais seríssimos.

De que tipo?

Quando era pequena, me pegaram à força, uns meninos, quando eu era virgem... Tinha 14 anos. Não perdi a virgindade, mas fizeram um monte de coisas comigo.

Denunciou a violência na época?

Não, porque foi na casa de uma amiga minha... Mas fizeram um monte de coisas de que eu não me lembro direito. Acho que bloqueou. Eu já tinha esse problema de DDA (distúrbio do déficit de atenção), e piorou. Resultado: já era biruta, fiquei mais ainda. Fazia teatro e fui para a peça toda arrebentada, toda machucada.

Sua família não soube?

Não contei para a minha mãe. Ela ficou sabendo muito tempo depois. Isso me bloqueou totalmente. Eu já não tinha vontade (de fazer sexo), nem curiosidade, e fiquei com menos ainda. Então, eu questionava sexo, quando tive que falar disso no programa (De noite na cama, em 1998, no Shoptime). Quando tinha que vender fitas pornô, lia a história e falava: “Tem home com home, mulé com mulé”. Era um programa de vendas e virou uma coisa cult. Ficou engraçado. Fui trabalhar para a RedeTV! E comecei a apresentar o TV Fama com o Paulo Bonfá, que também era cult pra c...

Está fazendo o que quer hoje?

Não. Sou uma apresentadora, não é verdade? Adoraria ter um programa. O que tem de cópia de programa meu... Eu fazia o A casa é sua, que é da Sonia Abrão hoje, com outro nome. Meu truque era não me fazer de inteligente.

E a imagem sexy ajudou, não?

Nunca me achei sexy. Mas devo ter algo sexy, que é natural. Nesses três meses que estou com depressão, sou incapaz de escovar os dentes, passo três dias sem tomar banho. Quando você está assim, fica debaixo do cobertor, com pijama velho, no escuro, sem comer. Não estou me cuidando.

Namorar, agora, nem pensar?

Adoraria encontrar uma pessoa. Mas não saio de casa, vou encontrar onde? Estou num site de namoro. Pago R$ 19,90 todo mês. Mas muitas pessoas acham que não sou eu. E continuo com tentativas... Porque dou um beijo e acho que já estou namorando. Explico isso para a minha filha (Bárbara, 18 anos). Se você é famosa, dá um beijo e sai na revista. Ela não pode ser uma menina normal, coitadinha. (pausa) Eu queria um gringo. Ele não ia saber que eu sou a Monique Evans e poderia me levar daqui. Como sou sozinha, vivo no mundo virtual, onde tenho meu apartamentinho, meus amigos e, já que não posso comprar roupas, porque não tenho dinheiro, compro lá.

Não tem dinheiro lá ou aqui?

Aqui. Não ganho muito... Não tenho grana por exemplo para ir ao psicólogo. Pago as contas e ainda falta um tanto que tiro daquele que guardei para me aposentar. Mas não sei se vou viver muito. Já tive um câncer (há 13 anos). Faço matérias no Rio para poder ir ao ginecologista, que me acompanhou no câncer. Me deram quatro anos de vida... Tenho que fazer exame de seis em seis meses. Ele acha que há um desequilíbrio hormonal, por conta da menopausa.

Você fala tanto sobre o fato de ser conhecida. Isso a incomoda?

Eu tenho síndrome de pânico. Eu choro muito, e a pessoa me fala: “Vamos tirar uma foto!” E eu: “Cara, tô chorando!” A pessoa grita comigo. Quando as pessoas vêm me pedir autógrafo, quero desaparecer, porque vou ficando com medo. É muita gente. Homem, gay, mulheres, crianças... Até os bebês ficam amarradões em mim. É alguma coisa que tem aqui.

Impossível ter modéstia então?

Sou supermodesta, imagina! Não que eu seja diferente, mas alguma coisa Deus colocou e tenho que usar para fazer os outros rirem.

Mesmo se estiver chorando?

Eu gostaria que, quando estivesse chorando, as pessoas entendessem que me magoam. Chegam a me agredir. Quando não tenho ninguém, abraço minha empregada. Ela que segura minha onda. (chora) Menos de sábado e domingo, quando estou sozinha. Aí fica ligando para saber se não estou me matando, se estou comendo... Não me lembro de comer. Hoje eu não almocei ainda (às 21h30).

Mas você está se tratando?

Estou só no psiquiatra, que trocou o antidepressivo. Mas tem o pânico, que não me deixa dirigir e me tira a atenção. Estava em Miami, na casa do meu irmão, no supermercado, e quando saí não sabia onde estava meu carro, apitava o alarme e não via o carro. Achava que tinha alguém reparando que eu não achava meu carro. Ficava embaixo de chuva com as compras até todo mundo sair. Às vezes, o carro estava do meu lado. Não uma vez só. Eu canso meu cérebro de uma tal maneira que no dia seguinte fico com depressão. Sinto culpa, tenho uma ressaca moral... Agora, imagina a ressaca moral de uma bronca ao telefone? O bichinho que não viro. (chora)

Você continua na igreja?

Eu sou evangélica, mas não estou frequentando nenhuma igreja, porque não tenho como ir. Não posso dirigir, é tudo longe da minha casa. Mas faz falta. Oro todos os dias e Ele fala muito comigo.
O que Ele fala?

Cada dia uma coisa diferente.

E o que falou hoje?

Hoje ainda não orei, porque foi uma correria para estar aqui. Mas são coisas muito loucas. Eu sei que Ele está triste comigo e tenho pedido muito perdão.

Mas, se a depressão é uma doença, por que pedir perdão?

Pela minha fraqueza. Porque às vezes passa pela minha cabeça coisas que não deveriam passar. O demônio se aproveita da sua fraqueza para te afundar mais.

Não se importa com o que vão pensar sobre o que está dizendo?

Não, sou transparente. Por exemplo, sei que o pessoal da igreja fica com raiva. Uns acham que não posso ser da igreja porque já falei de sexo. Outros ficam com raiva porque não falei da igreja. Mas não quero agradar a todo mundo.

E como agradar a você mesma?

Sou tão franca que falei da minha doença quando perguntaram. Aí levei bronca. E agora estou falando da bronca e vou levar de novo. Posso até ser mandada embora porque falei da bronca. (risos) Cara, criança é assim: não consegue mentir. Eu não consigo mentir. Meu pai morreu criança. Eu vou morrer criança (chora e sorri). E agora estou com a maquiagem toda borrada para falar com o Justus.

Fonte: http://www.oimparcial.com.br/