quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Músico cristão pode ser profissional da música no meio secular?

Outro dia no aeroporto de Salvador, encontrei-me com um grande amigo, produtor musical e instrumentista que naquele momento regressava ao Rio de Janeiro após alguns shows em turnê pelo Norte e Nordeste do país.

Conversamos bastante naquela espera pelo chamado do vôo e trocamos nossas últimas experiências. Eu falei bastante de como estava sendo enfrentado meu desafio à frente de um grande projeto inédito e ele relatava como estava exaustiva sua vida acompanhando um dos principais artistas de pagode do país.

Entre uma e outra experiência engraçada, aquele músico ultra talentoso começou a me apresentar vários integrantes do grupo que também eram evangélicos. Alguns inclusive tinham uma banda gospel e me presentearam com um CD independente.

Deixo esta história por um momento e viajo até São Paulo em outro evento. Desta vez estamos no megashow promovido pelo YouTube com apoio da Sony Music – Day1,onde pude trabalhar na produção junto aos artistas sertanejos Victor e Leo, Luan Santana, João Bosco e Vinícius, Michel Telló e ainda, Bruno e Marrone. O evento era o YouTube Live Sertanejo que foi o primeiro show na América Latina transmitido ao vivo pelo canal de vídeos.

Lá pelas tantas no meio do backstage fui apresentado a vários músicos de um destes artistas do circuito sertanejo e ali também ganhei um CD gospel justamente desta turma, que inclusive estavam com camisetas evangélicas no meio daquele evento. Ali mesmo tivemos uma animada conversa e trocamos experiências bem interessantes do meio musical.

Seja na conversa no aeroporto em Salvador ou no backstage de São Paulo, percebi nitidamente que aqueles músicos de fé evangélica atuavam profissionalmente junto à músicos seculares e lidavam muito bem com essa dicotomia. Tirando uma ou outra ’saia justa’ os músicos aparentemente mantinham uma posição bem definida entre a fé cotidiana pessoal e o ofício de músicos profissionais.

Tempos atrás, um músico evangélico que ousasse tocar no meio secular seria automaticamente execrado, excluído, expulso e excomungado do rol de membros de sua igreja (só para citar alguns sinônimos começados com EX, mas a lista pode ser bem maior!). A distância entre música secular e evangélica era abissal e muitos destes músicos cristãos que ousaram seguir suas carreiras no meio popular ou simplesmente afastaram-se da igreja ou passaram a ser autênticos agentes secretos da fé.

Hoje em dia, ainda não podemos afirmar categoricamente que a igreja evangélica e suas lideranças passaram a aceitar que músicos evangélicos trabalhem normalmente no meio popular, mas efetivamente essa questão hoje é bem menos traumática e radical de tempos atrás. O que demonstra, a meu ver, um certo amadurecimento por parte da cultura gospel neste aspecto.

Para aqueles que ainda mantém seus discursos radicais e obtusos de que o músico gospel apenas pode usar seu talento para o próprio meio evangélico, posso propor um simples exercício de similaridade, ou seja, basta substituir a profissão de músico para qualquer outra profissão como bancário, dentista ou mesmo publicitário.

Todos sabemos, principalmente no Brasil, que as instituições financeiras são focadas prioritariamente no lucro sobre lucro. Em muitas operações os juros são absurdamente acachapantes! Pois bem, há algum conceito cristão na prática bancária hoje em dia? Se substituirmos o bancário por um dentista, um profissional liberal. Este tipo de profissional antes de atender seus clientes costuma consultar a prática religiosa deles? Se um cliente deste dentista for um espírita ou mesmo um esotérico, o atendimento a este cliente não irá gerar uma receita ao profissional? Por acaso ele deixará de atender a estes clientes?

Infelizmente o músico é visto no meio cristão, principalmente entre seus líderes, como alguém que merece vigilância redobrada. Efetivamente, a música lida com alguns aspectos da natureza humana como o ego e autosuficiência que podem gerar distorções de conduta causando estragos consideráveis.

Não vejo qualquer problema que um músico cristão trabalhe junto a artistas populares. Para mim é como uma profissão qualquer. O que deve ser observado neste caso, é que tipo de artista e música que estão sendo acompanhados. Não creio que seja conveniente que um artista cristão participe de uma banda que faz apologia ao uso de drogas ou o desrespeito às leis, assim como um médico cristão não pode participar de uma equipe ou hospital que promove abortos deliberadamente.

A questão envolvida neste caso, não deve ser se o músico de fé cristã deve ou não participar de grupos de música popular, mas se efetivamente a mensagem deste artista não é contrária à sua fé e conceitos cristãos. Assim como existem ambientes muito ruins entre os artistas que interpretam a música gospel, também existe diversos artistas populares onde o respeito ao profissional é elevadíssimo trazendo assim um ambiente super favorável.



Fonte: Mauricio Soares em Observatório Cristão
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